Caçadores de Azambuja evocam tradição com batida às raposas
Objectivo da prova era controlar o número de exemplares desta espécie
Perto de meia centena de pessoas, entre caçadores e batedores da Associação Desportiva de Caçadores do concelho de Azambuja, juntaram-se no sábado para uma batida às raposas. Mais do que a caça o objectivo era controlar o número de animais que já está a causar incómodos na população.
Sacrificar alguns animais para que outros possam viver. Esse foi o lema da última batida às raposas realizada no concelho de Azambuja no sábado, 13 de Fevereiro. Promovida pela Associação Desportiva de Caçadores do concelho de Azambuja (ADCA), e com o apoio da Câmara Municipal, o principal objectivo era controlar uma raça que tende a desequilibrar o ecosistema no concelho. Com esta batida os caçadores querem permitir a protecção de outras espécies, como a lebre, o coelho e a perdiz. A batida às raposas é uma tradição no concelho e os homens das espingardas querem manter vivo um legado que já dura desde a implantação da república em Portugal. Numa batida, ao contrário de uma caçada, os caçadores são colocados em diversos pontos estratégicos ao longo do terreno, denominados “portas”, e aí se mantêm estacionários e em silêncio à espera da presa. A disposição dos homens no terreno cerca o perímetro onde as raposas estão assinaladas. A prova começa quando um grupo de batedores percorre o mato tentando assustar as raposas e forçá-las a sair das suas tocas. O final é dado com um foguete. Para a batida deste sábado os caçadores de Azambuja estavam autorizados pela Autoridade Florestal Nacional a abater um número ilimitado de animais. “Quando consomem toda a fauna e flora começam a aproximar-se das casas das pessoas e comem galinhas e ovelhas. Para quem aqui vive somos recebidos com agrado”, explica Manuel Horácio Varanda, presidente da direcção da ADCA a O MIRANTE. A associação, fundada no final dos anos 80, tem hoje mais de 200 sócios. Na batida às raposas participaram 32 espingardas e 20 batedores, número que tem vindo a crescer ao longo das edições. Numa típica manhã fria de inverno os homens juntam-se no pavilhão do Grupo Desportivo de Azambuja, onde se situa a sede da associação. As “portas” de caça são sorteadas, realiza-se uma troca de impressões e os homens arrancam para o pequeno almoço. Ainda não são nove horas e já cabem nos estômagos várias bifanas com mostarda e imperial. Entre os caçadores antevê-se a prova. “As raposas são espertas e manhosas, cheiram os caçadores ainda antes de entrarmos no mato”, alerta um dos participantes.De armas em riste os homens tomam as suas posições no Vale Espingardeiro, às portas da vila de Azambuja. Como se de um jogo de estratégia se tratasse, as peças são dispostas no tabuleiro de forma a não dar hipóteses ao adversário. “A segurança primeiro”, avisa constantemente Manuel Varanda. Todos os batedores levam coletes reflectores para minimizar o risco de serem confundidos com uma presa. É que ali qualquer coisa que mexa no meio do mato é um alvo.Quando os batedores arrancam para o terreno, a prova começa. O silêncio é quebrado pelo som de bombas destinadas a afugentar os animais. “Ali! Veja uma ali!”, grita entusiasticamente Manuel Varanda, também ele caçador. O jornalista confessa não ter visto nada. “Não? Foi pena...”, lamenta. “Hoje em dia não é só puxar o gatilho e matar. Antigamente era verdade, matava-se indiscriminadamente. Hoje existem regras ambientais apertadas, não apenas no número de exemplares caçados como até nos cartuchos. Se um agente da polícia nos encontrar com a peça de caça e não tivermos o cartucho vazio connosco sofremos uma multa de quase 500 euros. Actualmente as associações têm o dever de repovoar as espécies e ajudar os proprietários dos terrenos. Se não cuidarmos da caça é o fim da própria modalidade desportiva”, defende o nosso interlocutor. Um exemplo da crescente preocupação dos caçadores com o meio ambiente é o protocolo assinado em 2009 entre a Câmara Municipal de Azambuja e as associações de caçadores do concelho, que visa assegurar a vigilância florestal durante o verão.Ao fim de poucos minutos ouvem-se tiros de uma das portas. Alguém avistou uma raposa. Só no final da batida se saberá se os caçadores tiveram sorte. Um foguete lançado perto da hora de almoço assinala o fim da prova. Os caçadores começam a reunir-se. “Eu via-a, passou mesmo à minha frente e eu ia a disparar quando o outro (caçador) começou a gritar e ela fugiu-me da mira!”, contava um caçador aos parceiros no final da prova. De armas guardadas nos sacos de tranporte faz-se o balanço: zero vítimas. “Enfim, tivémos azar. Eu sou caçador há 30 anos e ando nisto mais pelo convivio com os amigos, pelos almoços e porque gosto de dar uns tiros. Quando não venho à caça vou ao tiro aos pratos. Também é bom para descomprimir dos problemas do dia-a-dia”, conta Ouro Bronze, caçador. Um almoço de convívio selou o dia.
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