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Uma das profissões mais velhas do mundo

António Rovisco é cabeleireiro e herdeiro de uma actividade que existe desde a antiguidade

Enquanto o ser humano tiver cabelo, haverá sempre alguém a exercer a profissão de António Rovisco. Ser cabeleireiro “nasce com a pessoa” e exige um esforço diário que, ao contrário do que se pensa, “é muito desgastante”.

Ganhar a vida a cortar cabelos é o ofício de António Rovisco, 49 anos, natural do Fundão mas a viver desde jovem em Samora Correia, concelho de Benavente. A profissão de cabeleireiro é das mais antigas da história, remontando aos tempos da pré-história, data em que foram descobertos os primeiros pentes e navalhas de pedra. O que o cabeleireiro faz é arranjar o cabelo dos clientes, seja através do corte, alinhamento, pintura ou manipulação, recorrendo a uma série de utensílios que pouco têm evoluído com os anos, como a tesoura, o pente, a lâmina e o espanador. António Rovisco abre a porta todos os dias pelas 09h00 e atende os clientes até às 19h00. Cada corte dura aproximadamente 20 minutos a ficar concluído e, ao contrário do que se pensa, ser cabeleireiro é bastante desgastante.“Eu optei por ser um cabeleireiro especialmente virado para os homens. Cheguei a trabalhar com penteados de senhoras mas como não tenho muita paciência para fazer as madeixas, pintar e secar os cabelos optei só pelos homens, que é basicamente cortar, cortar, cortar. Ao contrário do que se pensa, ser cabeleireiro não é fácil, exige muita concentração e força nas pernas para estar todo o dia de pé. Além disso, a coluna também sofre um pouco”, conta o nosso interlocutor.A profissão de cabeleireiro foi formalmente apadrinhada no antigo Egipto, quando alguns escravos hábeis se dedicavam à criação de perucas para serem usadas pelos faraós e pela alta sociedade. De toda a história da profissão, o expoente máximo terá sido durante a Grécia antiga, ainda no século II antes de Cristo, quando foram criados os primeiros salões de cabeleireiro, onde as mulheres iam frisar e encaracolar os seus cabelos. Na altura o cabelo dos homens era cortado por escravos em salões separados, tal como hoje acontece à excepção dos salões unisexo. A profissão pouco evoluiu ao longo do tempo no que diz respeito aos utensílios utilizados e os salões de corte continuam a ser locais muito usados para o convívio.“Há muita gente que entra aqui apenas para cumprimentar, ler o jornal e conviver”, confirma António Rovisco. “A profissão tem as suas técnicas e cada profissional tem a sua. Existe a informação e a formação básica que é dada nos cursos mas cada um adquire e inova a sua forma de trabalhar ao longo do tempo. Normalmente os clientes é que são os últimos a dizer se gostam ou não gostam dos nossos trabalhos. Já tive clientes que não sabem o que querem. Alguns pedem para que seja eu a escolher, outros preferem dizer logo. Alguns até vêm com uma ideia e depois eu sugiro pequenas melhorias”, explica, acrescentando que hoje em dia o cabeleireiro não é apenas um “cortador de cabelo” mas também um “conselheiro de estilo e aparência”.António veio do Fundão para Vila Franca de Xira quando era novo. Fez todo o percurso escolar nessa cidade e quando os pais se mudaram para Samora Correia não hesitou. Depois de uma curta passagem pela Força Aérea voltou aos bancos de ensino em 1991 para aprender a profissão de cabeleireiro, num curso de três anos ministrado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Regressou a Samora Correia e abriu as portas do seu estabelecimento, onde ainda hoje dá à tesoura para poder ganhar o pão. António lamenta que algumas tradições da profissão estejam a acabar, como a arte do barbeiro. “Hoje em dia as pessoas não são muito de fazer a barba aqui na loja. Muita gente já tem em casa as máquinas de barbear. Só as pessoas de mais idade, porque já tremem um bocado e têm dificuldade em fazer a barba em casa sem se cortarem, vêm aqui ter comigo”, refere. Um dos seus sonhos para o futuro era abrir um restaurante em Samora Correia, ideia que ainda não colocou de parte.

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