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Fala de Carlos Pato a Alves Redol 60 anos depois

Não morri. Sei que vai sair um pequeno livrocom os meus três contos por si guardados.Em Vila Franca pouca gente sabe do assunto mas em breve esse livro de contos vai esgotar.Continuo nas histórias breves que escrevi e no seu pequeno prefácio onde me recorda.Sou o Bairro, sou a Charneca, sou a Lezíria e os sonhos dos meus dois filhos por sonhar.Não morri. Continuo no olhar dos meus filhosClara bebé e João Carlos que não cheguei a ver.No olhar e nos sonhos por mim transmitidosentre o rio de Santa Sofia e o Largo do Serrado.Ainda hoje, tantos anos depois, sobeja azeite no aroma intenso que se espalha pelas ruas.Vem das várias carroças, das raras camionetas das ceiras onde as azeitonas foram prensadas.Não morri. Aprendeu comigo a ler e a escrever o chauffeur de praça que levou Clara a Peniche.Meu irmão Octávio tinha então visitas brevese a viagem era tão longa por estradas velhas.Não queria já receber o dinheiro esse rapaz mas Clara insistiu sempre pelo pagamento. Também lhe ensinei à noite a não misturar os seus deveres e as influências sentimentais. Não morri. No Bairro, na Charneca e na Lezíriavi mulheres que não tinham tempo para cantar. Os sonhos dos engraxadores na estação da CP.entram no meu conto breve do livro pequeno. Todos os outros protagonistas saem de manhã e vendem o seu trabalho no campo à semana.O vento pampeiro penetra veloz entre as telhase sacode o sono leve dos ranchos dos gaibéus.Não morri. Nas ruas escuras da Bica do Chinelocorre ainda hoje um forte rumor de esperança.Passam cavaleiros a caminho das Cachoeirase não há ainda as camionetas para a Arruda. Gerações sucessivas trabalham uma memória que há nos prelos das tipografias clandestinas.No nome dos meus filhos Clara e João Carlos se multiplica o inventário dos meus sonhos.José do Carmo Francisco

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