Vestido de negro, sabe que está a “cantar palavras” e, portanto, costuma usar o corpo para que as pessoas entendam o que está a dizer. “Faço de mim próprio quando canto e só consigo encontrar o meu verdadeiro eu em cima do palco. Ali está a minha liberdade”, atesta. Assumido “cidadão do mundo”, não costuma fazer referência à vila onde nasceu (Chamusca) mas foram estas as primeiras palavras de QuimZé Lourenço, 38 anos, artista multifacetado, dirigidas ao público que se encontrava na sala de espectáculos do Cine-Teatro de Ourém, na cerimónia de entrega dos prémios Personalidades do Ano 2009, organizada por O MIRANTE. “Foi um jornal que vi crescer à porta da minha casa. Tinha que falar na Chamusca. Não me considero bairrista mas hoje fazia sentido falar nisto. Achei notável o que se fez e a expansão que teve este jornal, do qual sou leitor desde a primeira hora”, justificou duas horas após ter subido ao palco. Ao longo de uma hora, os presentes assistiram a um excerto do espectáculo “Tributo a Ary dos Santos”, que anda em digressão desde 29 de Janeiro de 2009, altura em que se celebrou a passagem dos 25 anos da morte do poeta. Dez canções históricas que, de acordo com o artista, estão ligadas cronologicamente, começando com a “Desfolhada” de Simone de Oliveira (1969) e terminando com temas menos conhecidos de Ary, como “Fado Alegre”. A interacção com o público é uma constante e, na opinião do artista, acontece porque toda a gente conhece estas canções. Mesmo os políticos, que considera um público mais recatado, cooperaram a entoar canções como “Tourada”, “O Homem das Castanhas” ou “Os Putos”. Não cantam muito alto, não batem muitas palmas…mas os olhos nunca mentem. Vejo as pessoas todas quando estou em cima do palco e reparei que estavam contidos mas comovidos. No final do ano, QuimZé Lourenço pretende editar um DVD-CD com a gravação de alguns espectáculos ao vivo: O Ary dos Santos conseguiu pôr pessoas que nunca leram um livro de poesia a cantar os seus poemas. Isso é admirável. Elsa Ribeiro Gonçalves