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Tiago Vieira da Cruz

Tiago Vieira da Cruz

55 anos, Director do núcleo de Santarém do Cenfim

Tem 55 anos, é pai de três filhos e engenheiro mecânico de formação. Tiago Vieira da Cruz, director do núcleo de Santarém do Cenfim - Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica – movimenta-se todos os dias entre Praia do Ribatejo, concelho de Vila Nova da Barquinha, onde reside, e a capital de distrito, onde trabalha. É um apaixonado por automóveis e música clássica que acredita que o Homem atinge a libertação pelo trabalho.

Fui de berço de Lisboa para a Praia do Ribatejo. É uma freguesia do concelho de Vila Nova da Barquinha, onde hoje resido. Ali vivi e ali estudei. Tenho bonitas recordações da minha professora primária. Foi talvez uma das pessoas que mais influenciou a minha educação. Intitulo-me como aprendiz de engenheiro. Todos os dias estamos a aprender. Fui estudar para as antigas escolas industriais e comerciais, para o ensino dito dos pobres, em Abrantes, mas sempre com a visão de prosseguir os estudos. Mais tarde fiz o curso de engenharia em Lisboa. Sempre fui muito rebelde. Um republicano convicto. Contestatário. Sempre gostei de ouvir todos para depois reunir em mim o que sentia. Estive em manifestações e tenho marcadas algumas bastonadas da PIDE. A minha mãe é uma senhora ainda muito recordada na terra. Infelizmente só pude usufruir da sua companhia durante dez anos. Faleceu vítima de uma doença prolongada. A minha grande referência é o meu pai. Felizmente que tive o prazer de o ter até tarde. Um homem de uma serenidade extraordinária. De um saber ouvir magnífico. Um homem livre porque era um homem de trabalho. No dia do funeral do meu pai todos os homens tiraram o chapéu. Foi uma imagem que marcou. Estávamos em período de liberdade. Diria até de algum excesso de liberdade. A família teve até à década de 80 do século passado uma empresa de madeiras. O meu pai foi condecorado com a medalha de comendador da ordem industrial e chegou a ser presidente de câmara. Tenho outras referências de homens bons que me ajudaram e continuam a ajudar a crescer.Trabalho porque quero e preciso de trabalhar. Não tenho horário de entrada ou de saída. Há dias em que dá para fumar cigarros e o trabalho fica um pouco mais ao lado. Há dias em que entro às 08h20 e saio às 21h00. Mas é assim o trabalho. Tenho uma obsessão: trabalhar até ao último momento da minha vida. Só assim conseguirei, de uma forma livre, exprimir aquilo que penso.Tento ser um homem livre. De bons costumes. Solidário e fraterno. Preservo o bom entendimento entre os homens. Pena tenho de uma grande parte de nós não ter uma amplitude de banda e estar demasiado limitada com as palas que constrói e mantém. Entendo que há três classes de homens: aqueles que podemos considerar amigos e referências, os homens que são cidadãos normais que querem viver uma vida descontraída e com sustento necessário e, depois, os cidadãos que não querem nem procuram lutar por melhores condições para eles próprios. Adoro automóveis. Tenho uma paixão pelo mundo dos automóveis e dos ralis. Tenho grandes amigos e criei hábitos muito interessantes que me têm ajudado a viver. Tenho outros passatempos. Gosto de ler. Gosto de ouvir música. Há dias em que saio do meu gabinete completamente arrasado. Nessas alturas gosto de ouvir dez minutos de música clássica. Beethoven ou Mozart. É uma terapia. Falando em linguagem metalúrgica será uma diarreia psicológica que sai do meu corpo e que me deixa fresco outra vez. Sou católico porque sou baptizado. A religião cristã tem-me desiludido. Procuro encontrar com alguma racionalidade respostas que a Igreja Católica e o seu clero não me têm conseguido dar. Isto em relação a alguns dogmas para os quais não há uma explicação racional. A Igreja Católica não tem sabido acompanhar os tempos. Com a elevadíssima qualidade de massa cinzenta que tem – homens superiormente inteligentes – não consegue levar mais ovelhas para o rebanho.O meu trajecto é único. Se me arrependo de alguma coisa? É evidente que o sentimento de arrependimento deverá estar presente em cada um de nós se, com uma dose de coerência e realismo, pensarmos que estamos muito longe da perfeição. Provavelmente, ainda bem que estamos longe. Talvez a perfeição seja inimiga do bom. Devemos ter a convicção do caminho que queremos seguir compreendendo que ao lado estão homens que pensam de forma diferente. Caminham de forma diferente, mas poderão encontrar a mesma luz. É a esses que eu devo e tenho que saber tirar o chapéu.Ana Santiago
Tiago Vieira da Cruz

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