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Cartoonistas expõem em Vila Franca de Xira sem medo de censuras

Cartoonistas expõem em Vila Franca de Xira sem medo de censuras

Autores não se sentem condicionados pelos órgãos de informação onde publicam

Os principais cartoonistas do país voltam a expor os desenhos mais satíricos e mordazes do ano no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira. Consideram as recentes notícias sobre liberdade de expressão “um falso problema” e garantem que no seu humor “ninguém mexe”.

Os principais cartoonistas do país não têm medo de “censuras” e garantem não se sentir pressionados pelos seus chefes editoriais nos desenhos que publicam. Garantem que as notícias que circulam pelo país sobre a asfixia editorial são “cacofonias hilariantes” e garantem que esta é a melhor altura para satirizar.O tema da liberdade de expressão foi um dos mais falados nas entrelinhas durante a inauguração do último “CartoonXira”, no Celeiro da Patriarcal, onde até ao dia 28 de Março poderão ser apreciados os melhores desenhos de 2009.“Há provavelmente situações delicadas e complexas, não é o meu caso, mas acho que a situação não deve ser generalizável porque isso é muito redutor e muito perigoso. Pelo país devem existir condicionalismos políticos, mas isso sempre houve e nunca comigo, pelo menos no jornal onde estou há 30 anos”, defende António Antunes, principal impulsionador da mostra.Já o cartoonista Cid tem uma opinião diferente. “No meu jornal não há controlo e tenho a impressão que noutros jornais também não há. Mas é verdade que conforme a orientação do jornal assim se escolhe os cartoonistas. Ou seja, um cartoonista com tendência de esquerda não vai trabalhar num jornal de direita. Há uma certa selecção cuidada que começa sempre com um convite ao cartoonista. E actualmente os jornais andam a escolher muito bem quem desenha”, ironiza. Já quem não se pode livrar de maiores problemas é o convidado especial da edição deste ano, Cassio Loredano, cujo jornal onde publica está a ser alvo de uma “censura judicial” há mais de 200 dias (ver caixa).Pelas paredes da Patriarcal estão espalhadas imagens de António, Carrilho, Maia, Gonçalves, Cid e Cristina. Na inauguração da mostra estiveram mais de meia centena de pessoas, incluindo os convidados de edições anteriores, como Hermenegildo Sabat. Só nos cartoons se pode beber o mundo por uma palhinha, ver um conjunto de sanitas a soletrar as letras BPP (Banco Privado Português) ou José Sócrates com uma arma apontada a Manuela Moura Guedes. Os “cornos” de Manuel Pinho também lá estão. O ex-ministro foi convidado para a inauguração, lamentou não poder estar presente mas pediu que lhe enviassem uma cópia do cartoon para memória futura. Celebrando a sua 11ª edição, o “CartoonXira” continua a padecer, segundo a organização, dos males das edições anteriores: pouco público. “Poderíamos ter muito mais visitantes com uma melhor divulgação. A exposição tem vindo a evoluir, temos tido os cartoonistas mais representativos do país e sempre um convidado de grande nível. Este sítio [Celeiro da Patriarcal] é dos mais bonitos que eu conheço para expor. Mas temos de ligar esta exposição ao país e à grande Lisboa, temos de trazer mais público. Há ainda um grande caminho a percorrer no sentido de divulgar melhor este evento”, afirma António a O MIRANTE.A presidente Maria da Luz Rosinha garante que se tem registado um crescimento no número de visitantes. “Ainda assim, esta exposição merece a visita de muitas mais pessoas que aqui se podem dirigir para constatar ou rever os momentos de ironia referentes ao ano político anterior, num registo mordaz e que às vezes não é muito bem aceite por quem nele é retratado”, afirmou a edil. A entrada é livre e o CartoonXira poderá ser visitado de terça-feira a sexta-feira entre as 14h00 e as 19h00, sábado e domingo das 15h00 às 19h00 e terá encerramento às segundas-feiras e feriados.Cassio Lordeano fala de liberdade condicionada por tribunais que atinge“Estado de S. Paulo” e O MIRANTECom 62 anos, Cassio Loredano é considerado um dos maiores cartoonistas brasileiros da actualidade. Colaborador do diário espanhol “El País” e do jornal “Estado de São Paulo”, também já trabalhou em Portugal no extinto semanário “O Jornal” que era dirigido por Joaquim Letria. “É muito raro fazer exposições porque o meu trabalho é mais virado para a imprensa, não são desenhos feitos para a parede. Mas é uma alegria expor neste espaço lindo que é o Celeiro da Patriarcal e estar rodeado de toda esta gente. Vila Franca de Xira parece ser uma bela cidade”, afirmou o cartoonista a O MIRANTE. Questionado sobre a sua liberdade de criação, Loredano respondeu: “Às vezes no Brasil há algum condicionamento. Não é censura política, mas existem questões judiciais que às vezes impedem a publicação de determinados assuntos. O meu jornal [“Estado de São Paulo”] está sob censura há mais de 200 dias por causa de um assunto de corrupção com dinheiros públicos por parte do filho do presidente do senado. Esse homem moveu uma acção contra o jornal e a justiça surpreendentemente decidiu a favor dele, que cometeu os delitos, e contra o jornal, que apenas publicou a informação”, lamenta.A situação relatada é similar à de O MIRANTE que, desde 5 de Novembro do ano passado, está proibido, por decisão judicial, de publicar qualquer notícia – independentemente do seu conteúdo - sobre o conflito que o opõe a uma seguradora, independentemente, sob ameaça de pagamento de 20 mil euros por cada vez que isso aconteça, para além de ter sido obrigado a retirar do seu site todas as notícias publicadas até então.O traço de Loredano é conhecido por todo o mundo e já caricaturou quase todas as grandes celebridades. Diz que não lhe falta nenhuma. Começou a desenhar aos sete anos e nunca mais parou. Voltar a Portugal só de visita, já que é no Brasil que pretende continuar a viver. Nunca fez a sua caricatura e garante que a da sua família também não. “A minha mulher e a minha filha estão muito bem feitas por natureza, eu só ia estragar tudo”, diz com um sorriso cordial.
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