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Futebol solidário “Unidos pelo coração” quando o coração está a falhar

Ex-jogador de futebol Paulo Renato Diniz aguarda um transplante cardíaco

Paulo Renato Diniz foi jogador e treinador de futebol em vários clubes do distrito. Aos 30 anos foi-lhe diagnosticada uma doença genética que lhe afecta o coração e o obrigou a deixar o futebol. Agora aos 41 anos foi colocado na lista de espera para um transplante do órgão afectado. Os amigos do tempo dos pontapés na bola juntaram-se, domingo, num jogo solidário para ajudar a minorar a sua débil situação financeira.

Sempre que o telefone toca em casa de Paulo Renato Diniz, em Alferrarede, concelho de Abrantes, toda a família corre para o atender. Ali vive-se numa agitação constante, e numa aflitiva espera por um coração que possa substituir o órgão doente que bate com dificuldade no peito do antigo jogador de futebol.Quando jovem desconhecendo os problemas genéticos que lhe afectavam o coração, Paulo Renato jogou futebol em vários clubes do distrito de Santarém. Começou no Atalaiense, passou pelo Ferroviários, Tramagal, Torres Novas, Chamusca, Alferrarede e Abrantes, onde todos os anos fazia exames médicos de rotina, só no segundo ano de contrato com o Abrantes, então com 30 anos, foi aconselhado fazer o exame médico no Centro de Medicina Desportiva (CMD) em Lisboa, nessa época ainda fez os dois primeiros jogos pela equipa abrantina. Mas aí surgiu a péssima notícia, o futebol tinha que ser colocado de parte, pelo menos na condição de praticante, sofria de uma cardiopatia hipertrófica grave e degenerativa, uma doença genética que aumenta o coração e o aperta contra a caixa torácica impedindo-o de fazer a oxigenação do sangue.Com o passar da idade os problemas foram-se agravando, e desde 2003 que é obrigado a usar um desfibrilhador no peito. “Já o senti funcionar por duas vezes, parece um choque eléctrico”, diz com mal disfarçada tranquilidade. É que aquilo não foi mais nem menos do que duas crises mais fortes que, sem o desfibrilhador, lhe podiam ter custado a vida.Agora aos 41 anos, o coração ameaça não o deixar ir mais além, e desde o dia 12 de Fevereiro passado, Paulo Renato foi colocado na lista de transplantes cardíacos, e o telefone já tocou por uma vez para se deslocar a Coimbra porque havia a hipótese de haver um coração compatível, rebate “falso”, faltava uma pequena compatibilidade e a operação foi adiada. “O que mais me desespera a mim e à minha família é esta ansiedade, do haver ou não tempo para viver”.PAULO RENATO TRAZ NO PEITOUMA HERANÇA FATÍDICAAinda antes do veredicto do CMD, Paulo Renato já suspeitava de transportar uma “bomba relógio” no peito. “A minha irmã faleceu de um problema cardíaco e desde então comecei a fazer exames regulares, muito além daqueles que eram obrigatórios para poder jogar futebol. E antes disso já tinha tido sintomas que não escaparam à minha esposa”, diz com um olhar de extremo amor para a esposa Maria de Fátima, que com a sua experiência de funcionária administrativa do Hospital de Abrantes não deixou passar os sinais de alarme que se evidenciaram.Mas a comprovação que o problema cardíaco que afecta Paulo Renato é genético revelou-se da forma mais cruel ao ser também diagnosticado na sua filha. “Fez exames e comprovaram que transporta com ela o mesmo problema. Um problema que infelizmente já lhe está a causar grandes transtornos. Como o esforço físico pode desenvolver mais a progressão da doença, nem educação física já faz na escola”, diz Paulo Renato sem conseguir controlar a emoção que o invade. “O que, acima de tudo, me custa mais é saber que posso partir e deixar a minha filha a passar por tudo por que tenho passado”, diz com as lágrimas nos olhos.O tudo porque passou e passa Paulo Renato é muito para qualquer mortal. Passa por uma dieta rigorosa e restritiva, onde até a simples ingestão de água é doseada e a internamentos regulares de três a quatro dias. E também pela incerteza do que será o dia a seguir.Depois de todas estas adversidades a situação de Paulo Renato ainda ficou pior quando a empresa onde trabalhava faliu e ficou no desemprego. “Ao fim de 23 anos, a empresa de construção civil onde estava empregado foi à falência e fiquei no desemprego. Estamos a pagar uma casinha que fizemos quando eu e a Fátima começámos a viver juntos”, refere com tristeza ainda maior, dando conta de mais este rude golpe na sua vida familiar e financeira.“Felizmente que encontrei na minha vida uma grande mulher, a Maria de Fátima tem sido muito mais do que uma esposa, tem sido excepcional, tem dado uma grande força a mim e à nossa filha, mesmo um dia que deixar esta vida, tenho a certeza que ficarei a olhar por ela e pela minha filha”, diz Paulo Renato com um ligeiro tremor na voz.Uma habitação perto do hospitalA necessidade de viver perto do hospital durante o período de recobro do transplante é mais um duro golpe nas já depauperadas finanças da família do desempregado de Paulo Renato. “Tivemos que procurar e alugar uma casa em Coimbra, fica a cerca de 10 quilómetros do hospital, conseguimos arrendar um T2 por cerca de 750 euros mensais. Foi o mais barato que conseguimos e foi preciso procurar muito”, garantiu Paulo Renato.A dificuldade maior prendeu-se com o facto de ninguém querer alugar uma casa por menos de um ano. “Manter duas casas é um esforço muito grande, e estas ajudas são muito importantes para ajudar a colmatar essas dificuldades”, referiu Paulo Renato, garantindo que apesar de tudo o que o deixa mais feliz e aliviado, e sobretudo muito comovido. “Apesar de crescer demais, não tenho coração suficiente para agradecer a todos estes amigos que se uniram para me ajudar”, disse com a emoção estampada no rosto no final do jogo de solidariedade. Os verdadeiros amigos da bola não abandonaram Paulo RenatoPaulo Renato foi ao longo da sua vida futebolística ganhando amigos, mas nunca esperou que fossem tantos e mesmo amigos de peito. Pedro Júlio, tem menos um ano do que ele, jogou a seu lado em vários clubes, por acaso, soube do agravamento da condição de saúde do amigo. “Um dia fui a uma consulta de rotina ao Hospital de Abrantes e encontrei a Maria de Fátima, ela deu-me conta do problema. Fiquei chocado e prometi logo a mim próprio que tinha de arranjar maneira de ajudar fosse como fosse”.O primeiro contacto foi com outro companheiro da bola, Paulo Costa, que é delegado de propaganda médica, e treinador de futebol na Associação Desportiva Cidade Ferroviária do Entroncamento. A ideia que surgiu foi simples, “vamos organizar um jogo de solidariedade”. “Começámos logo a fazer contactos e em menos de três semanas já tínhamos tudo organizado, com mais de 30 antigos companheiros interessados em colaborar, e também com a disponibilidade de jogadores e directores da equipa do Entroncamento”, garantiu Paulo Costa.Entretanto juntou-se a estes dois amigos o também companheiro de muitos jogos de futebol, Manuel Jorge Valamatos, que é agora vereador do desporto da Câmara de Abrantes, autarquia que já colocou todos os seus equipamentos desportivos à disposição do grupo para outras iniciativas. A primeira acção decorreu dia 14 de Março, no complexo Desportivo do Bonito, colocado à disposição do grupo pela Câmara do Entroncamento, onde decorreu um jogo de futebol entre os Amigos de Paulo Renato e a equipa da A.D.C. Ferroviária. As entradas eram livres, cada um dava o que queria, muitos amigos acorreram à chamada, e no final, entre donativos de jogadores e espectadores, receita do bar e um apoio da Associação de Futebol de Santarém, se conseguiu cerca de três mil e duzentos euros. Mais acções estão já agendadas.A conta bancária onde os interessados em contribuir podem depositar o seu donativo continua aberta, tem o NIB 0007 0220 0011 0800 0098 2.Clube Desportivo de Fátima comemora 44 anos pedindo apoio institucionalPresidente da direcção lembrou alguns dos problemas de que o clube ainda padeceCom a sensação de “dever cumprido” mas reconhecendo “que ainda há muito a fazer”, o presidente da direcção do Centro Desportivo de Fátima (CDF), Luís Albuquerque, fez sexta-feira o balanço do seu mandato, nas comemorações dos 44 anos do clube. No final do discurso ficou o apelo ao poder institucional, pois se desejam “um clube forte” e representativo da região “terão que assumir as suas convicções e responsabilidades”. Caso contrário, terão que comunicá-lo à nova direcção, referiu.O responsável, que se prepara para deixar a liderança do CDF, lembrou alguns dos problemas de que o clube ainda padece. Espaços adequados para os treinos dos vários escalões, o prometido campo ao lado do Complexo Desportivo de Fátima, as questões financeiras foram pontos mencionados. Do mesmo modo, salientou-se o cumprimento dos objectivos de todos os escalões do CDF.Presente na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Paulo Fonseca (PS), comentou que o subsídio em atraso ao CDF já havia sido transferido. Destacando que o clube “tem um papel fundamental na actividade desportiva do concelho”, declarou que este está entre as colectividades mais activas do concelho. Referiu assim a necessidade de centralizar a actividade desportiva, tratando “de forma diferente aquilo que é diferente”. O apelo ao apoio da Câmara Municipal de Ourém e da Junta de Freguesia de Fátima fez-se ainda ouvir da parte do presidente do conselho fiscal, padre António Pereira. Este é um clube, notou, que se afirma como uma “mais valia para o concelho de Ourém e a cidade de Fátima”. No jantar de aniversário estiveram ainda presentes o presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Natálio Reis (PSD), o vereador Nazareno do Carmo (PS), entre outras personalidades do clube. Um reunião que contou com cerca de 400 pessoas, no Complexo D.Nuno, em Boleiros, Fátima.

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