Ases da matemática acertam contas em Santarém
Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos bateu recorde de participação
Santarém foi por um dia capital da matemática. O número de participantes bateu o recorde e um estudante da região evidenciou-se.
Faltam dez minutos para as 14h30. Hora marcada para o “acerto de contas”. Aos poucos, os 170 finalistas aproximam-se da entrada do recinto onde se vão disputar os jogos decisivos. Entre eles está o ribatejano André Duarte, 17 anos, estudante na Escola Profissional de Ourém.“Isto não tem muito a ver com números. São mais jogos de lógica e raciocínio. Pensar, ter uma estratégica. É como jogar damas ou xadrez. São quebra-cabeças mas relacionados com a matemática”, esclarece o jovem, confiante em fazer boa figura na final do jogo do Avanço.Durante a manhã já se tinha realizado a primeira fase do Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos, que apurou os melhores de cada escalão – entre primeiro ciclo e ensino secundário – nos seis jogos matemáticos de estratégia, observação e memorização. “Há pessoas que são mais preguiçosas a pensar. E a matemática obriga a pensar. Só havendo motivação e interesse é que se aprofunda conhecimentos, seja em que área for. Acima de tudo, a matemática treina-se e pratica-se”, defende André Duarte, antes de ser chamado pelos monitores a ocupar o seu lugar na mesa com mais onze jogadores. No final ficou combinado um encontro com o jovem ribatejano para saber o seu resultado.A poucos metros dali está João Maltieiro, 8 anos, estudante do terceiro ano na EB1 de Aveiras de Cima, Azambuja. O jovem passou a primeira fase e vai disputar a final do Jogo do Semáforo. Confiante, diz-nos que apesar de ser a primeira vez que participa, contava ser um dos finalistas. Tímido e de poucas palavras a sua opinião sobre a matemática é bem mais simples do que a própria ciência. “Não é difícil. Sempre gostei de fazer contas e de jogar. Costumo praticar em casa e na escola. Os professores motivam-me”, revela o pequeno João no meio dos seus “rivais”.Enquanto se disputam as várias finais no amplo espaço da Nave 1 do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, fomos sentir o pulsar da bancada amovível, completamente cheia de docentes, alunos e familiares. Sentado ao lado da professora está Guilherme Henriques, 9 anos, aluno do Agrupamento de Escolas de Rio Maior que não chegou à final do Jogo do Semáforo. “Comecei a gostar de matemática no 4º ano quando a professora começou a ensinar-me coisas diferentes”, afirma Guilherme, que não sabe por que é que os portugueses não lidam bem com a matemática. Mas sempre lá vai adiantando com um sorriso maroto, que talvez seja porque “exige esforço e pensamento”.Descontrair os neurónios ao solSe no interior os sinais de nervos e tensão eram visíveis, no exterior do CNEMA muitos aproveitavam a tarde solarenga para descontraírem os neurónios na relva. Para outros, era hora de partir e rumar ao destino nas dezenas de autocarros que viajaram até Santarém de Norte a Sul do país.Na entrada para o auditório, onde iria decorrer a entrega de prémios, encontramos quatro estudantes do Colégio Andrade Corvo de Torres Novas. Afonso Caldeira tem 10 anos. Não chegou à final mas gosta muito de matemática. Para quem não é adepto tem uma explicação. “É uma disciplina que às vezes se torna cansativa. As pessoas têm que fazer as contas e depois ficam cansadas, chateadas e sem paciência. Por isso desistem”, vaticina. Já a sua colega, Catarina Rainha, 11 anos, considera que “pode-se fazer tudo com a matemática” e é algo que se vai “aprendendo e praticando”.Como combinado aguardamos por André Marques. Acompanhado pela professora e mais dois colegas, era visível a satisfação quando disse que tinha ficado em segundo lugar no Jogo do Avanço. O jovem encaminhou-se depois para o auditório onde recebeu o merecido prémio.A sexta edição do Campeonato Nacional dos Jogos Matemáticos realizou-se sexta-feira e contou com a participação de 1850 alunos de 400 escolas de todo o país, batendo todos os recordes de participação até agora. De registar a participação de 41 alunos invisuais ou de baixa visão.O Politécnico de Santarém foi o responsável local pela organização, sendo a Associação Ludus - que reúne os maiores especialistas portugueses em jogos matemáticos - a Associação de Professores de Matemática e a Sociedade Portuguesa de Matemática os grandes promotores da iniciativa.Ensino da matemática com nota negativaA matemática e a forma como a disciplina é leccionada nas escolas portuguesas merecem nota negativa por parte do presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). De acordo com Nuno Crato, o ensino da disciplina não está, na sua generalidade, a seguir o melhor caminho e aponta um novo rumo. “É preciso que os programas sejam mais claros sobre o que se pretende e também mais exigentes. Que haja uma avaliação mais sistemática sobre o que os alunos sabem em cada momento da aprendizagem. É ainda importante e necessário, cuidar da própria formação dos novos professores que estão aí”, defende o matemático a O MIRANTE antes da entrega de prémios aos vencedores.O presidente da SPM acrescenta que Portugal, à semelhança de outros países, como os Estados Unidos da América, Espanha ou Itália, sofre actualmente as consequências de opções tomadas no passado, reflectindo-se no facto das pessoas não lidarem bem com os números nem com a matemática. “Estes países seguiram uma série de orientações pedagógicas que se estão a revelar más. Foi-se perdendo aos poucos a ideia de um currículo organizado e exigente”, denuncia o responsável.No seu entender a matemática aprende-se com muito trabalho, transpiração e alguma inspiração. “Não basta só incentivarmos os nossos alunos. É também importante que aprendam. Se não aprenderem não se entusiasmam. Sei que os melhores alunos, os que trabalham mais e têm a sorte de ter bons e exigentes professores, têm tendência para melhorar. Mas na grande maioria dos casos não vejo tendência nenhuma. Embora tenha esperança que as coisas mudem”, conclui Nuno Crato.
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