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Ramiro Matos

Ramiro Matos

35 anos, advogado, Santarém

Sente-se filho de Santarém, mas na verdade foi nascer ao Cartaxo há 35 anos porque a tradição familiar assim ditava. Ramiro Matos é advogado, professor, presidente do Banco Alimentar da Luta Contra a Fome de Santarém e pai de duas filhas, de três e cinco anos, que faz questão de levar à escola todos os dias. É viciado em trabalho, dependente das novas tecnologias e usa com prazer fato e gravata.

Sou uma pessoa aparentemente calma. Mas muito agitado por dentro. Gosto de viver em Santarém. Gosto do movimento. É uma coisa que me atrai para trabalhar. Lisboa não tem qualidade de vida. Santarém consegue ser uma cidade média com algum movimento. Vivi sempre em Santarém. Só saí durante cinco anos, altura em que fui estudar para Lisboa. Fui nascer ao Cartaxo porque era tradição de família. Os meus pais já residiam em Santarém há muito tempo. Foi só mesmo aquele momento. Não me incomodo por andar de fato e gravata. Consigo ter elasticidade. É o meu uniforme de trabalho. Durante o curso habituei-me a este estilo. Formei-me aos 22 anos. Comecei a minha vida activa cedo para quem tirou um curso superior. Com cinco anos sabia ler e escrever. Andei sempre um ano à frente do que seria normal. Sou muito ocupado. Tenho duas filhas, uma com três e outra com cinco. Além de advogado sou administrador de uma empresa de formação profissional, professor de Direito no Politécnico e ocupo ainda o tempo como presidente da direcção do Banco Alimentar da Luta Contra a Fome, que criei depois de ter abandonado funções públicas como vereador. Não há razão para que alguém passe fome em Santarém. Se isso acontece é porque o caso nunca foi diagnosticado ou é fruto da nova pobreza envergonhada.O meu horário é pouco recomendável. Sou um workaholic [viciado em trabalho]. O meu dia começa quando vou levar as minhas filhas à escola. Cantamos no carro e falamos sobre o que foi o dia anterior. É um ritual que mantenho. Se consigo o equilíbrio? Acho que não. Sinto-me sempre em débito para com as minhas filhas. Estas idades são irrepetíveis, tenho a noção de que perdi alguns momentos, penalizo-me, mas acho que temos que viver intensamente os momentos que temos com os filhos. Não passo fins-de-semana sem trabalhar. Os advogados vivem com um drama grande que são os prazos. O fim-de-semana e a noite são momentos mais calmos no escritório que permitem maior concentração para produzir mais. São muitos os dias em que fico a trabalhar no escritório até às duas da manhã, mas normalmente vou jantar a casa. Tento com alguma periodicidade ter algum fim-de-semana mais descansado. O trabalho tudo vence. É o meu lema de vida. Não podemos viver só para o trabalho. Há mais coisas na vida, mas o trabalho está subjacente. É preciso trabalho para tudo. As pessoas devem fazer intervenção política. Não tem que ser político-partidária. Intervenção na sociedade. Se trabalharmos conseguimos vencer. Se nos encostarmos e esperarmos que alguém o faça por nós não o conseguimos. Estou inscrito no ginásio, mas vou lá pouco. Tenho uma BTT na garagem, mas tem os pneus vazios. Gostava de aliviar o stress com a moto de água, mas há dois anos que está parada. Quando faço umas férias fora do país, para não ter a tentação de pegar no trabalho, procuro desportos radicais. O último que fiz, nas férias do ano passado, foi de kitesurf [surf com parapente]. Não consigo estar desligado. Sou um homem das novas tecnologias. Os e-mails estão no telefone. Tenho um computador mais pequeno que levo para todo o lado. Consigo ter três telemóveis, um dos quais é duplo. É um defeito. Habituamo-nos a todas essas coisas e não conseguimos viver sem elas. Ando na cidade atento aos pormenores. Observo aquilo a que as outras pessoas se calhar não ligam. Estou atento às igrejas, aos telhados, ao trânsito, ao mobiliário urbano e à forma como as pessoas se movimentam nas cidades. Gosto de conhecer outras cidades para fazer outras comparações com o nosso país. Gosto de viajar. Quando tinha menos ocupações gostava de fazer uma vez por ano uma ou duas viagens ao estrangeiro. A próxima viagem que gostaria de fazer seria à Índia. Ana Santiago
Ramiro Matos

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