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O mais importante espadachim do Regimento de Cavalaria VII

Ficaria este pitoresco episódio de lágrima no olho se lhe faltasse o tempero especial a dar-lhe o sabor genuíno da sua própria originalidade.Para que tal seja louvável, salvam-se um bom punhado de ingredientes notórios, que deixaram brilho na credibilidade já pelo distinto sabor com que nutriram a sua compostura, já pela vulnerável expressão pictural com que faziam uso dela.Drama ou comédia, será o encontro, que vamos ter com celebridades, certamente não inéditas em meios pequenos a considerar, Azambuja, em tempo qual a população mergulhada em regras e conceitos de ruralidade arcaica com as constantes daí derivadas e cujo simbolismo e excentricidade deixaram no colectivo da comunidade proezas que, de um modo ou de outro, foram marcantes em época própria.Todavia, para um melhor entendimento ligado ao motivo em questão, há que recuar no tempo, não sei bem quantas luas, muitas luas, e caminhar com alguma cautela, palmilhar a passo incerto por aí além.Nunca se soube em Azambuja a verdadeira graça da figura central da fita, pois toda a gente o tratava por Manuel Vintém.Era um homem de uma estatura meã, trabalhador camponês, analfabeto e boa pessoa. Também não lhe conheci a família nem sei se a tinha e qual seria ou não o seu berço. Sei que era famoso pelas finezas com que animava a malta em dias em que lhe chegava do pipo. Geralmente tinha poiso certo na taberna do Chico Maneta à entrada de Azambuja, do lado onde o sol ao nascer bate em chapa, e se embebedava quase sete dias por semana.Falava-se na altura com alguma razão, que o vício pelo briol estalou de vez, depois que tarimbou como magala no regimento da cavalaria 7 no quartel em Santarém, de que não passou de praça raso a bater lata no panelão do rancho. Assim o Manuel Vintém sem mais nada nos olhos e na alma que o ofício de saber cultivar os campos da sua terra, a verdade se diga, é que o exército com as escolas de guerra, despertou-lhe os sentidos para as artes militares, vindo a revelar-se um verdadeiro mestre a manobrar a espada, com honras e louvores de se lhe tirar o chapéu. Um génio.Essa proeza saída de um matacão de rudeza deu bravo entre a oficialidade do regimento ao ponto de um Senhor Alferes, seu chefe de fila, que resolveu nomeá-lo instrutor das próprias filhas de modo a manejarem com destreza, arte e rigor uma espada, com tão honrosa missão de que ficou a desfrutar de um donativo que o seu Alferes lhe vinha trazer a Azambuja até ao fim da vida.Desse entendimento o Manuel Vintém não era capaz de abrir o bico, nem mesmo quando o carrascão amarinhava até ao cimo da pinha. O que se soube e falou na altura é que, desde que se gravou em pedra e cal com o alferes Carrilho, perdeu de vista o cabo da enxada e o trilho da lezíria, entregando-se a tempo inteiro ao vinho do Maneta até ao dia em fechou os olhos para sempre.Manuel Vintém finou-se quando ainda podia romper meias solas, com uma mazela que nenhuma mezinha da época foi capaz de curar, mas a história ficou. É que, pouca gente em Azambuja teve conhecimento que o amante do vinho, o rural analfabeto foi o mais importante espadachim que passou pelo Regimento de Cavalaria VII em Santarém, dando água pela barba aos especialistas das artes marciais.Quis contar uma história, não sei se o fiz. Sebastião Mateus Arenque -Azambuja

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