O dia em que Constância ostenta um rio cheio de barqueiros de ocasião
Durante o resto do ano, muitos participantes contam pelos dedos da mão as vezes que saem ao rio
A Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância na segunda-feira a seguir ao domingo de Páscoa, lembra o tempo, antes do caminho-de-ferro, em que o trânsito de mercadorias se fazia de barco pelo Tejo.
Nem todos os navegantes que chegaram na segunda-feira, 5 de Abril, ao Cais de Constância, para benzer as suas embarcações engalanadas, fazem do rio ou do mar a sua vida. Muitos apenas se fazem ao rio neste data, seja por fé ou tradição. Como é o caso dos seis elementos da Associação Amigos das Caneiras de Santarém, que vestidos a rigor debaixo de um sol primaveril, se encontram na margem do rio em amena cavaqueira. A Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem está no auge. Ouvem-se foguetes. A Banda da Associação Filarmónica Montalvense 24 de Janeiro anima o povo. O grupo das Caneiras deslocou-se de carro até Tancos e só aí entrou no barco da associação que recebeu o nome de Avieiro, para fazer uma curta viagem, Tejo acima, até Constância. Aí entrou pelo Zêzere e acostou na margem esquerda. A decoração da embarcação, foi feita no próprio dia. “Representamos a população das Caneiras pelo povo avieiro que se instalou na nossa aldeia. Directamente da pesca já poucos vivem mas há muitos que fazem da pesca o seu hobbie”, aponta Carlos Marçal, presidente da Junta de Freguesia de Marvila (Santarém). Só há outra altura do ano em que este grupo volta a entrar no barco. Nas festas das Caneiras, em Julho, também participa na bênção dos barcos no rio Tejo.Outro barqueiro de ocasião é José Sirgado, 60 anos. Vem da freguesia de Asseiceira, Tomar. O seu barco tem a bandeira dos Templários. Costuma frequentar o rio assiduamente. “Não para pescar, mas para brincar”, refere bem-humorado, acrescentando que tem dois barcos, um deles com 55 anos construído pelo pai e que participa nas festas de Constância desde os sete anos. “Neste dia vestimo-nos todos a rigor e os barqueiros juntam-se todos. É um dia diferente”, considera. O barco é engalanado com poucas semanas de antecedência e todos os anos se trabalha para que este tenha uma decoração diferente. No seu barco veio um estreante, Hélder Guido. É o mais novo do grupo e tem na pesca um hobbie. “Quem vem a primeira vez às festas de Constância nunca mais falta. Só se casar ou a mulher deixar”, aponta a seu lado Manuel Ribeiro. É a fé que o leva a participar, ano após ano, na bênção dos barcos de Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância. “Somos católicos. Quem vem só para beber copos não vem cá fazer nada”, sustenta.Feliciano Rodrigues diz que toda a vida foi marinheiro. Vem de Sarilhos Pequenos, Moita, e há quatro anos que vem às festas de Constância. Fala do barco como de um amigo. “Este tem mais quilómetros de terra do que de mar. Já foi para a Galiza e para França, transportado em camiões grandes”, explica. Para este antigo marinheiro, que conhece bem as traições do mar e do rio, hoje é dia de descanso. “Esta vila é maravilhosa. Sente-se uma grande paz cada vez que aqui chego”, aponta. José Patacho, da Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, também costuma sair com frequência na sua embarcação rumo ao rio para pescar lampreia e fataça. Diz que, desde há dois anos, que o caudal instável da água atrapalha os seus planos. “Num dia, sobe um metro, metro e meio.
No outro é capaz de estar seco. Queremos levantar as redes e não pudemos”, lamenta apontando a culpa às sucessivas descargas das barragens.Secretário de Estado diz que futuro centro de estudo camonianos deve ser acarinhado O Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle considerou que Constância é “uma referência” para quem quer estudar Camões, sustentando que “o património é um dos componentes mais importantes para o futuro do nosso país”. O governante destacou o trabalho de estudo da figura de Camões realizado em Constância ao longo dos anos. “É muito importante referenciar Camões aqui em Constância, e o centro de documentação e o futuro centro de estudos camonianos merecem ser acarinhados porque este é um local de referência para quem queira estudar a sua vida e obra, sejam historiadores ou estudantes portugueses ou estrangeiros”, considerou. Naquelas que foram as suas primeiras festas enquanto presidente da Câmara de Constância, Máximo Ferreira, deixou transparecer a emoção quando afirmou que “o amor pela tradição” está bem espelhado “por toda este gente da borda de água, que se juntou aqui para renovar a história, provenientes de tantos concelhos ribeirinhos, para um momento de exaltação da memória comum”.
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