Professores da Secundária de Azambuja vestiram a pele de actores por um dia
Docentes surpeenderam alunos e em segredo prepararam “Auto da Barca do Inferno”
Os professores da Escola Secundária de Azambuja trocaram por um dia as salas de aula pelos palcos e surpreenderam os alunos do 9º ano ao trazer à cena “O Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente. A peça, preparada secretamente, foi recebida pelos alunos com uma ovação de pé. Patrícia Cunha Lopes
O professor de Matemática trocou os números pela espada, a professora de Educação Física ganhou asas, a de Filosofia virou diabo e a de Português perdeu o juízo. Tudo aconteceu durante a encenação da peça “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, levada à cena no dia 26 de Abril pelos professores da Escola Secundária de Azambuja, no auditório do Centro Social e Paroquial de Azambuja.O projecto surgiu no início do ano, por iniciativa da professora de Português, Manuela Duarte, (também encenadora e com alguma experiência nas lides de palco) e contou com a adesão dos colegas docentes de outras disciplinas. Os professores ensaiaram a peça em segredo. Os alunos do 9º ano esperavam ver uma companhia de teatro. Só quando subiu o pano na tarde de segunda-feira foram surpreendidos com os dotes artísticos dos professores. As caras na plateia eram principalmente de espanto, que deram rapidamente lugar ao riso e às palmas de agrado.“Foi magnífico ver os professores em palco! Não estávamos mesmo nada à espera. É muito engraçado recordar a história do livro assim. Acho que ninguém se vai esquecer”, refere a aluna Mafalda Dionísio. Uns mais à vontade que outros, os docentes foram recitando Gil Vicente para agrado dos cerca de cem alunos que acompanharam atentamente a peça. A professora de Filosofia, Paula Oliveira, encarnou o diabo, também ele habituado à retórica, e diz que a disciplina ajudou na hora de entrar em palco. Para as professoras de educação física (o anjo e o judeu) ter experiência em expressão dramática ajudou e o mais difícil foi mesmo memorizar o texto. “Fui escolhida para anjo porque dizem que tenho um ar angelical. Não sei se é verdade ou não”, diz com um sorriso a professora Ana Teresa Martins, que confessa que a disciplina não é nenhum paraíso e exige esforço por parte dos alunos para tirar boas notas.Já para Sérgio André, professor de Matemática que encarnou um dos Cruzados, a experiência de trocar os números pelas palavras foi um grande desafio. “Ajuda estarmos habituados a estar no palco das aulas, muito embora este seja um palco diferente”. O professor considera que a Matemática também é uma “batalha constante” e “uma luta para levar os alunos a bom porto”. A personagem mais aplaudida, porém, foi a do parvo, levada à cena pela professora de Português, Manuela Duarte.“A professora Manuela (Duarte) foi a melhor. A peça assim é muito mais divertida. É muito engraçado vê-los assim fora do ambiente da escola”, realça Diogo Dias, do 9º A. Manuela Duarte considera que a personagem foi um desafio, tal como é a literatura que ensina. “É algo que permite estas brincadeiras e esta experiência foi muito enriquecedora. Fazermos isto em segredo foi um risco, mas acho que o objectivo foi cumprido”.
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