uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Paula Almeida e Silva

Paula Almeida e Silva

44 anos, directora técnica, Cartaxo

Tem 44 anos e é proprietária e directora técnica da Farmácia Abílio Guerra, no Cartaxo. É casada, tem duas filhas gémeas e uma paixão pela cozinha, o refúgio que procura nos dias em que está mais cansada.

Tenho duas filhas gémeas. A Maria Beatriz e a Maria Margarida. Têm 14 anos. Hoje são mais independentes, mas quando eram pequenas tivemos que recorrer muito ao apoio dos avós. São uma parte importante da família. São eles quem tem mais disponibilidade. Quando fazia as noites na farmácia as minhas filhas diziam à professora ‘hoje a mãe não dorme em casa’. É complicado mesmo ao nível de apoio escolar. Passo muitas horas na farmácia. Em 2002, quando comprei a farmácia, tive que recuperar algum dinheiro. Então era eu que fazia as noites todas. As minhas filhas já andavam na escola. Tínhamos serviços de três em três dias. Os avós eram um apoio essencial. O meu marido também tem uma profissão complicada. É director dos sistemas de informação da EPAL. Quando ele podia estar a horas certas em casa elas iam com o pai para casa. Caso contrário ficavam com os avós. Tirei o curso de Engenharia Têxtil no prazo normal. Depois resolvi ir para Farmácia. Fiquei grávida no primeiro ano. O curso foi feito já com as minhas filhas. Eram os avós que ajudavam. À semana os meus pais dormiam na minha casa. Apanhei a altura das obras da Expo. Tinha que sair do Cartaxo com três horas de antecedência para chegar à faculdade às 08h30. Depois durante o fim-de-semana já apoiava o meu marido e as miúdas. As minhas filhas têm que compreender o meu trabalho. Nestas coisas não sou muito democrática. Os filhos também gostam de ter o retorno. Aquelas sapatilhas ou aquela roupa… Embora o nosso espírito seja dar prioridade à família. Temos uma educação católica e transmitimos esses princípios. Se os filhos vêem que os pais estão a fazer esforço também é uma motivação para o esforço deles no futuro. É importante que os filhos vejam que os pais estão realizados profissionalmente e que não são frustrados. A sociedade actual está cheia de gente frustrada. Sou uma espécie de bombeiro. Não tenho horário fixo. Há sempre reuniões e idas a bancos e questões da farmácia para resolver. Chego por volta das 09h00. Quando há férias chego às 8h30. Saio às 21h00 ou 22h00. Muitas vezes faço os restos. Tiro folgas quando é necessário. A farmácia não pode parar. Sinto-me realizada no contacto com as pessoas. As pessoas estão desamparadas. Nesta farmácia faz-se apoio social. É normal ir com alguém à Segurança Social pedir dinheiro porque as pessoas não têm como pagar os medicamentos. Não têm dinheiro para comer. Não têm dinheiro para viver. As pessoas chegam a perguntar quais são os medicamentos que podem deixar de tomar. É complicado estar ao balcão hoje em dia. Muitas vezes a farmácia faz um empréstimo a juro zero. Durante seis anos fiquei esquecida. Hoje já vou começando a fazer as coisas que gosto. Só não pode ser em horário rígido. Posso ir ao ginásio desde que não esteja integrada numa turma. Tenho o domingo para passar com a família. Quando podemos, saímos os quatro. Quando um não pode não sai ninguém. É importante respeitar o outro. As nossas ideias podem divergir, mas é importante ouvir as outras. Em casa falamos muito disto. Há muita discriminação. Ou porque as pessoas se vestem mal, cheiram mal ou pensam mal. Ou porque têm outro partido político ou clube. Não podemos julgar. Temos que tentar compreender. É um dos valores que tento passar às minhas filhas. Vivemos num mundo em que não há tolerância. Nem paciência. Gosto muito de delegar responsabilidades. Um gestor tem que saber fazer isso. Sei de todos os assuntos, mas não tenho que fazer tudo. Tenho uma equipa da minha confiança. Todas as pessoas passam períodos difíceis. Tem que existir compreensão. É preferível que as pessoas fiquem em casa. Se tiverem um filho doente, por exemplo. Se a pessoa estiver bem trabalha bem. Não é por isso que desconto no ordenado. Infelizmente a gestão não chegou a esse ponto. Tiro férias aos bocadinhos. Já estive em Londres este ano com a família. É importante descansar a cabeça e o corpo. Falar de outras coisas. Ser, durante alguns dias, um mero desconhecido. Na farmácia estamos muito expostos. Quando estou cansada vou para a cozinha. Gosto imenso de cozinhar. Quando quero cozinhar muito convido amigos para jantar. Normalmente a casa está cheia. Temos sempre amigos para jantar. Tenho uma pessoa que durante a tarde me ajuda e prepara algumas coisas. Não tenho receitas ao lado. É tudo feito a olho. Vou colocando um pouco de cada coisa para ver como fica. Ana Santiago
Paula Almeida e Silva

Mais Notícias

    A carregar...