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A musa dos poetas neo-realistas

A musa dos poetas neo-realistas

Maria Barroso imortaliza os poemas da “Geração do Novo Cancioneiro”

Quando o país vivia em ditadura Maria Barroso percorreu algumas cidades a dizer poesia. A voz da musa dos poetas neo-realistas, como lhe chamou José Jorge Letria, está agora em registo CD. Para imortalizar as palavras da “Geração do Novo Cancioneiro” que os poetas escreveram nos anos 40.

Maria Barroso sobe ao palanque do salão nobre do Teatro D. Maria II, em Lisboa, para dizer poesia. Vestido rosa forte e casaco preto de veludo. É a musa dos poetas neo-realistas, como lhe chamou José Jorge Letria, na noite de segunda-feira, 3 de Maio, durante a apresentação do livro/CD “Geração do Novo Cancioneiro” que inclui poemas ditos pela própria. A obra, reedição do novo cancioneiro, é uma iniciativa da Fundação Pro Dignitate, da editora althum.com e do Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira, que assinala uma homenagem a Maria Barroso, mulher do ex-presidente da República Mário Soares. Os poemas foram seleccionados pela própria actriz e as músicas compostas e interpretadas à guitarra portuguesa por Luísa Amaro. Maria Barroso dá voz aos poetas Fernando Namora, Mário Dionísio, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Álvaro Feijó, Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Sidónio Muralha, Francisco José Tenreiro e Políbio Gomes dos Santos são os autores dos poemas seleccionados.“Obrigada por ter acrescentado força às palavras dos autores. Os autores precisam de quem lhe dê voz quando a voz esmorece”, reforçou José Jorge Letria. O livro é prefaciado por Eduardo Lourenço e integra textos de Arquimedes da Silva Santos – poeta da Póvoa de Santa Iria que fez questão de estar presente na cerimónia - Urbano Tavares Rodrigues, Fernando Martinho, José Jorge Letria e um pequeno poema de Tomás de Oliveira Marques. A presidente da Câmara Municipal de Vila Francade Xira, Maria da Luz Rosinha, foi uma das personalidades convidadas a discursar na cerimónia para falar sobre Maria Barroso que classificou como uma das grandes senhoras do teatro e cultura.“Mensageira do novo humanismo que os poetas dos anos 40 tentaram transmitir. Contra o regime do Estado Novo, contra a opressão, contra as restrições à liberdade de expressão”. Maria da Luz Rosinha sublinhou a voz inconfundível de Maria Barroso e o entusiasmo da sua leitura que perdurou na memória de todos aqueles que tiveram a honra de a ouvir dizer poesia. “E os poetas ditos por Maria Barroso nos anos 40, como agora para os muitos auditórios um pouco por todo o país, eram na sua maioria as novas vozes que o neo-realismo apresentava, imbuídas de esperança na transformação política e social. O pós-guerra assim o exigia. E nem a censura e a restrição da política de Salazar impediam a propagação do Novo Cancioneiro”.O Museu do Neo-Realismo apoiou o projecto de reedição de todos os livros do novo cancioneiro, um trabalho “magnificamente elaborado”, segundo a autarca, com base naquele que é um marco da cultura portuguesa.Frente à viúva de Carlos de Oliveira, que assistiu à cerimónia, Maria Barroso, recitou, entre outros, o poema Carta a Ângela: “Para ti, meu amor, é cada sonho/ De todas as palavras que escrever/ Cada imagem de luz e futuro/ Cada dia dos dias que viver. Os abismos das coisas, quem os nega/ Se em nós abertos inda em nós persistem?/ Quantas vezes os versos que te dei/ Na água dos teus olhos é que existem”.
A musa dos poetas neo-realistas

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