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O cortador de carnes que nunca teve outra profissão

O cortador de carnes que nunca teve outra profissão

Eduardo Ferreira começou por distribuir panfletos de promoção de carnes na Chamusca

Trabalha no ramo há 17 anos e actualmente gere o seu próprio negócio. Esteve dois meses emigrado na Suíça mas não aguentou as saudades da família.Ana Isabel Borrego

Em criança sonhava ser veterinário mas o destino levou-o a exercer a profissão de cortador de carnes. Com 14 anos, Eduardo Ferreira distribuía panfletos de promoções dos preços da carne da loja do Custódio, na Chamusca. Quando decidiu deixar de estudar, aos 15 anos, o senhor Custódio convidou-o para ir trabalhar consigo e o jovem resolveu experimentar. Gostou tanto que passados 17 anos é proprietário do Talho Central, junto ao Mercado Municipal da Chamusca, que abriu há cerca de ano e meio.Eduardo Ferreira nunca teve outra profissão, embora durante os períodos de férias escolares ajudasse nas vindimas e nas obras para ganhar uns trocos. Ser cortador de carnes não era uma ambição mas tornou-se uma paixão que abraçou como profissão.Antes de abrir o seu próprio negócio, Eduardo Ferreira decidiu emigrar para a Suí-ça onde, garante, tinha um trabalho muito bom onde apenas tinha que desmanchar os animais. Adaptou-se muito bem ao país e ao trabalho. Mas só aguentou dois meses fora de Portugal. Chorava todos os dias. As saudades dos filhos, da esposa e da família falaram mais alto e o cortador de carnes voltou à vila onde nasceu há 32 anos. Cinco meses depois inaugurou o Talho Central.O cortador de carnes conta que o início da actividade profissional não foi fácil uma vez que foi, muitas vezes, praxado pelos colegas mais velhos. “Eram muito mauzinhos. Quando era necessário ir buscar peças de carne mais pesadas mandavam-me a mim. Tínhamos que subir e descer escadas e para me prevenir que levava os pedaços correctos – ao início não temos a certeza das coisas – perguntava lá de cima se era aquela peça. Diziam sempre que sim, embora soubessem que não era. Quando chegava cá abaixo tinha que voltar de novo com o peso às costas e trazer o pedaço de carne correcto”, conta Eduardo Ferreira a O MIRANTE.O dia de Eduardo Ferreira começa cedo. Por volta das nove horas já está no talho, depois de deixar os dois filhos - com cinco anos e dois anos e meio - na escola. A primeira tarefa é repor a carne, que fica durante a noite na arca frigorífica já desmanchada, na vitrina. Dentro do balcão, na parede, estão expostos os vários tipos de facas necessárias para cortar carne. Facas de desossar, mais pequenas e com a lâmina mais grossa, facas de cortar bifes que são as mais finas e as facas de cortar costeletas que apresentam as lâminas mais grossas. Na bancada está uma fusela que serve para “puxar o fio à faca”. No Talho Central da Chamusca vende-se todo o tipo de carne e enchidos. A experiência de 17 anos a trabalhar com carnes permite a Eduardo perceber há quantos dias o animal foi abatido, a sua qualidade e se é macho ou fêmea, apenas pelo olhar. “Só trabalho com carne de porco fêmea. A carne de porco macho é mais rija e tem pior gosto, por isso normalmente é mais barata”, explica. As carnes mais procuradas são as de porco e aves. O preço mais acessível relativamente à carne bovina é o factor principal para a escolha. A situação financeira que o país atravessa tem consequências directas no negócio de Eduardo Ferreira.“Nota-se cada vez mais que as pessoas compram menos do que compravam e olham mais para o preço do que para a qualidade. Por isso, vão muitas vezes aos hipermercados uma vez que os preços podem ser mais atractivos, embora a qualidade possa não ser a mesma. Felizmente tenho bons clientes que preferem a qualidade da carne”, diz acrescentando que acredita que este tipo de comércio tem “os dias contados”.Eduardo Ferreira refere que existem diferenças entre ser funcionário e patrão sobretudo a nível de exigência e responsabilidade. “Um proprietário nem sempre tem tempo para férias e horário certo”. A esposa é quem lhe faz a contabilidade da empresa, o que já lhe tira algumas dores de cabeça. Quando lhe perguntamos se voltaria a ser funcionário, Eduardo Ferreira responde: “Se fosse para o meu antigo patrão, o senhor Custódio, voltava. Trabalhei com ele 12 anos e ficamos amigos. É uma pena que tenha morrido”, revela.
O cortador de carnes que nunca teve outra profissão

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