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Vila Franca de Xira é cenário de nova biografia sobre o conde de Farrobo

Vila Franca de Xira é cenário de nova biografia sobre o conde de Farrobo

O palácio das Cachoeiras, onde decorre a acção, está abandonado e degradado

A vida luxuosa do homem mais rico de Portugal no século XIX, o conde de Farrobo, chega a livro numa biografia romanceada que tem Vila Franca de Xira como palco principal. O belo e imaculado palácio retratado na obra é hoje um edifício em completa ruína.Filipe Matias

“O Milionário de Lisboa” é a biografia romanceada de um homem cuja história parece ter esquecido e que tem em Vila Franca de Xira o seu palco principal. A obra, apresentada no museu municipal da cidade no dia 29 de Abril, mostra a vida de Joaquim Pedro Quintela do Farrobo, o 2º barão de Quintela e o 1º conde de Farrobo.O livro é da autoria de José Norton, economista, interessado pela arqueologia e história de Portugal, que tem assinado diversos trabalhos em revistas dessas especialidades e no semanário Expresso. Norton é também membro da Sociedade de Geografia de Lisboa.“Nos últimos meses vim muito a Vila Franca, não apenas em pesquisa, mas também porque fiz um contacto excelente com os arqueólogos da câmara municipal. Até participei este ano numa escavação nos castelinhos, próximo do Carregado. Gosto muito de touradas e levo óptimas memórias de Vila Franca de Xira. Tenho cá bons amigos”, refere a O MIRANTE.A trama arranca a 17 de Agosto de 1840, com a partida do Terreiro do Paço, em Lisboa, do barco a vapor “Viriato”, fretado especialmente para transportar até Vila Franca as mais de setenta pessoas convocadas para a grande festa na quinta do Farrobo (nas Cachoeiras). A festa durou quatro dias, durante os quais se sucederam sumptuosas refeições, jogos de todos os tipos, representações teatrais, óperas, declamações de poesia e espectáculos de fogo de artifício. O final do livro é marcado pelo drama. “Fiz muita pesquisa para este livro, na Torre do Tombo, na Biblioteca Nacional e até no arquivo distrital de Vila Franca de Xira. Eu gosto de investigar, gosto de andar nos arquivos. O conde de Farrobo tem uma história muito interessante. E também tinha uma fábrica de produtos químicos na Verdelha (Forte da Casa) e esteve muito ligado à Companhia das Lezírias”, refere. O fruto da investigação é um livro de 272 páginas, que tem como pano de fundo o Palácio do Farrobo (ver caixa) e as grandes mudanças políticas da primeira metade do século XIX, “mostrando uma sociedade portuguesa que já nessa época se debatia com muitos dos problemas que ainda hoje a afectam, como a crise económica, a opacidade nos grandes negócios, a incapacidade da justiça e a mediocridade da política”, lê-se. O conde morreu a 24 de Setembro de 1869. Na sessão de apresentação do livro esteve meia centena de pessoas.Palácio do Farrobo é um edifício O Palácio do Farrobo, nas Cachoeiras, local onde decorre a trama principal do livro, é actualmente um local abandonado e degradado, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira. No seu livro, José Norton descreve-o como uma “imponente estrutura para a época” e uma “incompatibilidade” na paisagem. Tudo porque quem o desenhou, Fortunato Lodi, tinha em mente os campos italianos e não os relevos vilafranquenses.“No andar térreo há a cozinha e a sua casa para as massas; uma bela sala de jantar quase quadrada pintada pelos senhores Rambois e Cinatti; outra casa de jantar para os criados, quartos para hóspedes, para criados, para a música destes, para engomar e dispensa. Seis escadas dão comunicação entre os dois pisos. O andar nobre tinha uma sala grande do tamanho da casa de jantar do andar de baixo, outra mais pequena para uso diário, biblioteca com uma boa colecção de obras modernas, sala de bilhar, sala para xadrez e gamão, outra para jogos de cartas dedicada ao reverendo padre Castro, escritório particular do conde, quarto para estudo, outro para lições de música, quartos para hóspedes e respectivas casas-de-banho, uma copa e um belíssimo teatro arranjado pelo senhor Bertrand”, retrata o autor no seu livro. O palácio tinha também uma capela, uma cavalariça (e a respectiva casa do feitor) e uma adega com 34 pipas de madeira do Brasil. Hoje em dia é um espaço degradado. O vereador da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com o pelouro da cultura, João de Carvalho, admite o problema. “O palácio encontra-se num estado lamentável de abandono. E a câmara tem tentado falar com a entidade que é a proprietária do espaço no sentido de poder entrar em negociações com uma unidade hoteleira, por exemplo, para se poder fazer uma recuperação do espaço. A câmara não tem dinheiro para comprar o palácio. E custa milhões a recuperar. Mas podemos tentar servir de mediadores entre a misericórdia e uma unidade hoteleira que queira investir”, refere. Para José Norton “é uma pena” que o palácio se encontre em ruínas. “Mas não vou distinguir o Farrobo em relação a outras tristezas e outros dramas que há por este Portugal fora. Penso que será mais fácil restaurar o convento de Santo António, que também é uma peça notável do património de Vila Franca, do que o Farrobo. Têm-se cometido muitos crimes em Portugal no que diz respeito ao património”, lamenta. Em Julho de 2009 existia a ideia de transformar o espaço num lar para a terceira idade mas o custo da recuperação do edifício (estimado em 4,5 milhões de euros) acabou por colocar o projecto na gaveta.em ruínas
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