
O dedilhar dos terços no Senhor da Boa Morte
Vinte e cinco fiéis acompanharam recitação
Nem todos são prata ou madrepérola. Sejam comprados em Fátima, Roma ou Pádua servem o desígnio espiritual. Em Quinta-feira de Ascensão os fiéis mais devotos dedilharam terços na Ermida do Senhor da Boa Morte, em Povos, Vila Franca de Xira.
À entrada da Ermida do Senhor da Boa Morte, em Povos, Vila Franca de Xira, Teresa Santos vende velas que os mais devotos deixam a arder no crematório. Vinte cêntimos para as mais pequenas. Quarenta para as maiores. Quem chega compra sempre meia dúzia. É Quinta-feira de Ascensão. Cinco horas e meia da tarde. Arranca a recitação do terço na capela. Foram poucos os que se aventuraram a pé pelo percurso. Preferiram chegar ao santuário de carro, quase sempre acompanhados por familiares. Os mais novos não ficam muito tempo. Compram as velas, rezam uma oração e voltam a entrar nos carros.Não há vendedores ambulantes de terços, ao contrário do que acontece com as velas. “Um terço é uma coisa muito pessoal, que não se compra assim em qualquer lado”, explica Rogério Rodrigues, 65 anos, vilafranquense. O seu terço de prata tem mais de 40 anos. Foi compradoo em Roma e oferecido pelos padrinhos. “É um terço do Papa João XXIII”, diz, enquanto entra na capela acompanhado pela mulher.Uma procissão de crentes entra na capela. São sobretudo pessoas já reformadas. Maioritariamente mulheres. Percorrem o corredor e dirigem-se à imagem do Senhor Jesus da Boa Morte, frente ao altar. Muitos tocam a imagem, benzem-se e dizem uma oração antes de regressar ao lugar. Trazem roupas domingueiras. O feriado é dia especial e cumprem-se ainda as antigas tradições cerimoniosas. Os terços que saem dos bolsos são feitos de materiais simples. “O terço tem mais valor espiritual que material”, refere Ilda Nunes, 64 anos, mostrando o que traz na mão. “Não precisa de ser em ouro ou em prata. Este pertenceu à minha mãe, que morreu há sete anos e como são os festejos do Senhor da Boa Morte trouxe o terço dela”, explica emocionada.À falta de padres para acompanhar a recitação do terço (ver caixa) é Teresa Santos, da Comissão de Festas, quem conduz o momento. Os fiéis levantam-se e acompanham, respondendo em coro com as Avé Marias. Apesar das regras rígidas que compõem o ritual da recitação do terço quase ninguém lhes obedece. Há mesmo quem nem tenha trazido o terço e acompanhe apenas com as rezas, num acto simbólico. Há quem se ajoelhe, mas a duração das rezas leva a que não permaneçam na posição até ao final. O fundamental é o princípio da celebração da Ascenção.O coro da Castanheira do Ribatejo acompanha a recitação entoando cânticos religiosos antes do anunciar dos mistérios. A recitação leva cerca de uma hora, e mesmo antes de terminar, a vereadora da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Conceição Santos, junta-se aos fiéis. Usa um terço simples, que comprou em Pádua. “Ficaram de me trazer um de Fátima. Hoje trouxe um terço simples. Simples como são a capelinha e o Senhor da Boa Morte”.

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