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Frederico Rasteiro um treinador de sucesso ao serviço do Riachense

Em três anos conquistou dois títulos de campeão distrital e duas Taças do Ribatejo

Frederico Rasteiro apareceu há três anos como treinador do Clube Atlético Riachense. Na altura foi uma surpresa para toda a gente. Era um desconhecido no futebol distrital. Teve uma primeira época conturbada. Mas rapidamente entrou em velocidade de cruzeiro e levou o clube de Riachos à vitória no campeonato distrital, duas vezes, e na Taça do Ribatejo, também duas vezes. É um homem correcto e garante que não tem empresário nem gosta de se oferecer a nenhum clube. Fernando Vacas de Jesus

Como é que apareceu como treinador do Riachense?Fiz os meus dois cursos de treinador em Santarém. Um dos prelectores foi Nuno Presume, que já tinha sido meu treinador em Fátima e mantínhamos e mantemos uma forte amizade. O Nuno Presume ainda é admirado pelas gentes de Riachos, e foi através dele que eu aqui cheguei. Aconteceu também que quando era treinador do Bidoeirense viemos jogar a Riachos e fizemos um jogo de grande classe. Nessa altura ficaram também contactos que resultaram no início da época seguinte.Era então um treinador muito jovem?Comecei a carreira com 31 anos. Comecei como treinador/jogador e dei continuidade à carreira. Curiosamente já tinha tido convites para adjunto de alguns treinadores, mas achava que era muito cedo. Mas surgiu a oportunidade de ser treinador principal e agarrei-a com as duas mãos.Aos 31 anos ainda tinha muito para dar como jogador?Nem tanto assim. Sentia que estava já numa curva descendente, não me sentia muito bem, e houve uma altura que foi decisiva para deixar o futebol como jogador. Foi a morte do Miklos Feher, que coincidiu com o nascimento da minha filha, e decidi abandonar como jogador.Mas acabou por continuar no futebol, com prejuízo para a família?A família tem sido uma das partes mais importantes para eu continuar no futebol. A minha mulher e os meus pais sabiam do gosto que eu tinha pela modalidade, e nunca me faltaram com o seu apoio em todos os aspectos. Embora saibam que ficam quase sempre para trás, também reconhecem que tiram alguns benefícios do futebol.A esposa costuma assistir aos jogos? Poucas vezes. As esposas sofrem mais do que nós, e temos que ter essa noção e de afastar a família o mais possível. Prefiro dedicar todas as minhas conquistas à minha esposa, à minha filha e aos meus pais. Porque sem dúvida são eles que sofrem e nos momentos bons e menos bons estão sempre presentes.Como é que compensa a família das suas faltas?A compensação é virar para a família todos os tempos livres que tenho. Neste momento a minha prioridade é o futebol e tenho que conciliar isso com tempo para brincar com a minha filha e estar com a esposa e os pais. Todos compreendem isso e nunca deixam de me apoiar. “O futebol distrital não tem grandes diferenças de distrito para distrito”Que conhecimentos tinha do futebol do distrito de Santarém?Tinha jogado no Fátima e no Torres Novas, e tinha tirado os cursos de treinador em Santarém deu-me a possibilidade de contactar técnicos daqui da zona e com eles trocar impressões sobre o que se passava nos clubes do distrito. Isso deu para perceber algumas coisas.Quando foi contactado pelo Riachense, sabia o que vinha encontrar?Na altura em que peguei na equipa do Riachense, o clube passava uma fase complicada, tinha descido de divisão, saíram muitos jogadores do plantel, houve uma renovação completa, vim encontrar um clube um pouco destroçado, mas com material humano de qualidade com vontade de trabalhar. Foi um trabalho árduo.Foi complicado e às vezes incompreendido pelos próprios associados?Sim foi complicado. Tínhamos muita gente jovem, uma série de jogadores que não conhecíamos, começámos a formar o plantel tarde, e as coisas não começaram bem, tivemos duas derrotas seguidas e a contestação foi muito forte.Nessa altura receou não resistir à pressão?Não. Em termos de vida pessoal prezo-me de ser honesto e frontal, e nessa altura em que sofremos duas derrotas e havia grande contestação, não hesitei e coloquei o meu lugar à disposição da direcção, situação que se manteve durante estes três anos que levo ao serviço do clube.Sentiu intensamente a contestação?Em Riachos há alguns factores que é preciso levar em conta. Há um grupo de dirigentes e adeptos, que procura que as coisas andem no melhor caminho. E há um grupo de pessoas que não fica muito satisfeito com as vitórias, convive melhor com as derrotas, porque se há só vitórias não têm motivo para criticarem, e ficam mais chateadas. É uma questão de mentalidade.Mas pode orgulhar-se da carreira do clube nestes três anos?Sem dúvida que sim. Sem falsas modéstias penso que o trabalho que desenvolvemos no Riachense foi espectacular. Fomos campeões duas vezes, vencemos duas taças do Ribatejo, fomos finalistas da Supertaça, é motivo de orgulho para nós, para os jogadores e para os dirigentes. Todas essas conquistas com um plantel muito curto?Posso dizer que na época passada tivemos um plantel equilibrado, conseguimos ter um grupo com soluções, que estavam à vista de qualquer adepto. Éramos efectivamente a melhor equipa e mostrámos isso no campeonato e na taça. Esta época foi muito difícil, houve muita gente que saiu, mas os três ou quatro jogadores que entraram encaixaram-se perfeitamente e conseguimos fazer uma equipa de 13 ou 14 jogadores muito competitiva. Que deu frutos. Houve algumas dificuldades na gestão do plantel, mas porque eram homens de grande garra e com muita vontade de vencer, isso tornou as coisas mais fáceis.Este ano, os objectivos foram ultrapassados?É verdade. Foi com muito mérito nosso, mas também por demérito das equipas que investiram para a subida. Quando traçámos os objectivos no início da época sabíamos do nosso valor e do valor dos nossos adversários. Foi o trabalho sério que desenvolvemos e a vontade dos jogadores que permitiu algumas revelações que até a mim me surpreenderam e com 13 ou catorze jogadores conseguimos chegar ao fim com vitórias a todos os níveis. Teve a colaboração importante de Miguel Cunha?Miguel Cunha é uma pessoa extraordinária. É uma pessoa marcante na história deste clube. Pela sua maneira de estar no futebol simboliza bem o que é o Riachense. O transfere que havia entre o Miguel, a direcção e a equipa técnica e jogadores, foi óptima, houve sempre capacidade de diálogo.“Tivemos que encarar a recusa de subir”Na época de 2008/2009 o Riachense recusou a subida, isso não foi frustrante para o grupo de trabalho?Tivemos que encarar isso como um facto real. Perante aquilo que é a realidade actual dos clubes, temos que ter consciência das dificuldades porque passam. Os dirigentes fizeram contas e viram que o clube podia ir para o abismo e recusaram a subida. Foi difícil para nós mas acabámos por dar razão a quem tomou a decisão.O que é que é preciso para alterar os problemas dos clubes?É uma tarefa de todos nós, dirigentes, treinadores e jogadores. Os tempos das vacas gordas já lá vai. Os jogadores e nós próprios temos que tirar proveito das experiências que possamos ter nas várias divisões para termos sucesso. Neste momento não se pode pedir muito aos clubes.Mas houve efectivamente alguma frustração?Nem por isso. A terceira divisão não é mais forte do que o distrital de Santarém, e a envolvência é menor a todos os níveis. De qualquer forma é um campeonato nacional, com uma maior visão. Como treinador continuei a fazer o meu trabalho com o mesmo entusiasmo sem pensar em outros voos.Que ambições tem como treinador?Tenho algumas. Mas sou sobretudo uma pessoa consciente, sei que esta vida é muito difícil, há muita oferta. Os empresários trabalham com treinadores que lhe dêem outras garantias. Eu nunca tive empresário e ainda estou a fazer formação.“Arbitragem não é diferente da dos outros distritos”Como é a arbitragem do distrito de Santarém?A arbitragem do distrito de Santarém não é diferente da dos outros distritos. Há bons e maus árbitros. Não quero ir muito por aí, porque já tenho um processo na Associação, por declarações que fiz.Há pouca abertura das pessoas para as críticas?É isso mesmo. Penso que as pessoas ligadas à arbitragem não querem ou não sabem ouvir. Quando fiz observações não foi de forma destrutiva. Logicamente que aconteceram coisas que não deviam acontecer. Foram feitas nomeações inadmissíveis. Na minha opinião os melhores árbitros devem ser para os melhores jogos, e isso não aconteceu, principalmente na fase de apuramento de campeão, onde houve situações muito más.Acredita que há arranjinhos?Não. Mas às vezes há coincidências que nos deixam apreensivos. Mas sei a dificuldade que há em formar árbitros e por isso não dificulto a sua vida.E o futuro de Frederico Rasteiro como treinador?Baseio a minha carreira naquilo que faço. Não tenho ilusões, sei que o momento é muito difícil para toda a gente. Não me ofereço a ninguém, não tenho um grupo de jogadores para levar comigo, aguardo o futuro com tranquilidade.O Riachense já falou consigo?Não. Não tive qualquer abordagem de nenhum dirigente. O clube está numa fase decisiva da sua vida. As pessoas ainda estão a estudar o que fazer. Eu tenho alguma ambição e quero ter coisas boas para fazer.É um treinador caro?Só para que tenham uma ideia, posso dizer que três partes do que recebo no Riachense são para pagar as deslocações que tenho de fazer. Frederico Rasteiro nasceu em Leiria há 37 anosFrederico Rasteiro nasceu em Leiria há 37 anos, é casado, e tem uma filha. Jogou futebol em vários clubes dos distritos de Leiria e Santarém. Começou no União de Leiria, onde chegou aos seniores e à Super Liga. Jogou durante vários anos na Liga de Honra, no União de Leiria, partindo daí à aventura. Jogou no Feirense, União de Lamas, Santa Clara dos Açores e Vila Real. Numa fase já mais adiantada da sua carreira veio para o distrito de Santarém, jogando no Centro Desportivo de Fátima e no Torres Novas e acabou a sua carreira de jogador no Bidoeirense, clube onde aos 31 anos começou a sua carreira de treinador de futebol. “Então como jogador treinador”.É profissional da educação, trabalha com crianças num ATL de Leiria, onde desenvolvem actividades ligadas ao desporto.

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