Tosquiar ovelhas para evitar que elas sofram com o calor do Verão
A equipa de Luís Virga foi à Chamusca tratar do rebanho da Quinta da Murta
O trabalho é duro e feito em silêncio. Um dos homens amarra as patas das ovelhas para as imobilizar. Os outros cortam-lhes a lã. Os animais aceitam a tosquia com docilidade.
Três motores eléctricos pendurados numa trave do telheiro zumbem como moscardos. São eles que accionam as máquinas. Está um dia de Primavera. Com a chegada do calor, chegaram os tosquiadores à Quinta da Murta no concelho da Chamusca. Uma equipa de quatro homens para tirar a lã a quatrocentas ovelhas. Um dia e meio de trabalho, no mínimo. No redil coberto já há um grupo de animais que foi separado do rebanho. Ali perto, no campo, deitadas na erva, as restantes ovelhas aguardam a sua vez. Luís Virga é o líder da equipa de tosquiadores. Vem com o primo Leonel Virga, de Marianos, concelho de Almeirim. Com eles trabalha Manuel Antunes, de Coruche. Essencial para que o trabalho dos três se realize com celeridade e eficácia é a ajuda de Victor. É ele que trata de atar as patas das ovelhas para que elas se mantenham quietas enquanto são tosquiadas. Chamam-lhe apernar. É um trabalho que exige perícia. O nó tem que ser suficientemente resistente para manter as ovelhas presas e ao mesmo tempo fácil de desatar. Um dos tosquiadores afia uma lâmina da sua máquina numa roda. Soltam-se faíscas multicolores. Depois os três homens calçam as luvas e esperam até ter a seu lado um animal devidamente manietado. Nunca há muita lã acumulada no chão. À medida que é cortada é prontamente colocada em sacos que vão sendo arrumados numa pequena divisão. As ovelhas são animais dóceis e pacientes. Abrem uns olhos enormes que parecem assustados mas mantêm-se praticamente em silêncio e não estrebucham. Quando o tosquiador lhes desata as patas, no final do trabalho, desandam, completamente carecas, em direcção aos comedores e ficam a tasquinhar enquanto observam as que esperam vez para o barbeiro.O trabalho é pago à unidade. Os tosquiadores trabalham em silêncio de costas dobradas. Apertam as ovelhas entre as pernas e cortam a lã. Primeiro do dorso, a seguir do pescoço e finalmente da barriga. Entre três e quatro minutos para cada uma. Ao fim do dia o ritmo não será o mesmo porque a resistência física não dá para tanto. “Aqui só são quatrocentas ovelhas mas há rebanhos bem maiores. Na Quinta da Lagoalva são duas mil e seiscentas”, conta Luís Virga. Perguntamos se ficam com os braços e as mãos dormentes. “O pior são as costas”, explica. O trabalho é duro mas mais duro era quando em vez de máquinas eléctricas eram utilizadas tesouras. Na carrinha dos tosquiadores, estacionada nas proximidades, há um gerador. Serve para alimentar as máquinas nos locais de tosquia onde não existe electricidade. “Os motores têm 21 anos. Tantos quantos eu tenho deste trabalho”, conta Luís Virga. “O pior são as máquinas e os cabos de ligação. Têm que ser substituídos de dois em dois anos”. De vez em quando há quem tire a lâmina da máquina e a lave num balde com água. “Esta lã da barriga é mais curta e está mais seca”, explica Manuel Antunes. Rodrigo Ferro, o dono dos animais, observa e vai ajudando a trazer as ovelhas para serem imobilizadas. Com ele estão António e Jorge, dois trabalhadores da quinta. O capataz, Sabino Saturnino, vai dando indicações sobre a melhor maneira de separar os animais que teimam em manter-se juntos. Existem dezenas de raças de ovelhas. “Estas são ovelhas lacaune. São ovelhas de leite. Não têm muita lã. Uns dois quilos por cada uma. As minhas são de raça merina. São ovelhas de carne e têm mais lã que estas”, explica o capataz. Na Quinta da Murta funciona uma queijaria. O objectivo principal é o leite e não a lã. A tosquia é feita para evitar que os animais sofram com o calor. Da vagina de uma das ovelhas sai algo redondo e avermelhado. “Saiu-lhe a madre”, diz o capataz. E vai calçar umas luvas. Quando o tosquiador solta o animal Sabino imobiliza-o e com a perícia de muitos anos de campo, empurra-lhe o útero para o interior. Uma ou outra ovelha apresenta pequenos cortes no lombo ou feridas junto do ânus, provocadas por larvas saídas de ovos dos moscardos. Com um spray que deixa uma mancha roxa ele desinfecta-as.
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