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Há cerca de setecentas associações empresariais e isso enfraquece os empresários

Há cerca de setecentas associações empresariais e isso enfraquece os empresários

Presidente da NERSANT diz que a associação tem sido mais ouvida pelos ministros dos governos socialistas

José Eduardo Carvalho, presidente da associação empresarial da região de Santarém avança com as medidas que a organização vai defender para atenuar os efeitos da crise. Diminuição da taxa única da segurança social e aumento do IVA, diminuição dos salários das administrações públicas e manutenção do sistema PME Invest para garantir crédito bancário. E avisa: “Se não fizermos isto o FMI vai fazê-lo por nós em Agosto ou Setembro”.

Se os governos tivessem estado mais atentos ao que os empresários e as suas associações têm dito nos últimos anos, seria mais fácil à nossa economia aguentar esta crise?O problema é saber que empresários é que os governos ouvem. Em Portugal há perto de 700 associações empresariais. Ninguém sabe como existem ou como subsistem. Algumas só têm existência porque é importante para o seu presidente ter um acesso directo ao secretário de Estado. Claro que esta divisão do movimento associativo agrada a quem governa. Por outro lado, em determinados momentos os governos são mais sensíveis aos argumentos dos banqueiros e dos grandes grupos do que aos argumentos das associações empresariais. Os empresários não conseguem influenciar as decisões dos governos?Há situações em que isso acontece mas são raras. É um desencanto. O que os empresários pensam não é tido em conta a maioria das vezes. Os pequenos-almoços que se possam ter com o ministro ou com o secretário de Estado; as pequenas reuniões ou a participação nos conselhos económico-sociais não chegam para influenciar decisões a nível da economia. No universo das associações empresariais onde se situa a NERSANT? Em termos patrimoniais e de proveitos estamos entre as maiores do país. E há outros indicadores a considerar. A AIP, por exemplo, tem 4.200 associados e nós temos 1.400. O VAB da nossa estrutura accionista ultrapassa 95 por cento do VAB criado na região. Temos uma dimensão que, associada ao trabalho desenvolvido, nos dá peso e credibilidade junto das instituições que interagem connosco. Quais os resultados obtidos pela NERSANT junto dos governos nos últimos anos?Tivemos um ministro que nos ouviu muito no tempo dos governos de Cavaco Silva, que foi o Engº Mira Amaral (Indústria e Energia). Mas os ministros do Partido Socialista ouviram mais a Associação e os interesses dos empresários do distrito de Santarém que os Ministros do tempo de Durão Barroso e Santana Lopes.Só para dar um exemplo, em 2008, pela primeira vez, os órgãos sociais da NERSANT, todos - Conselho Geral e Assembleia Geral - fizeram conferências de imprensa e contestaram publicamente o que estava a suceder quanto à reprovação das candidaturas de empresas da região ao QREN e aos PO regionais. Fomos ouvidos por membros do Governo e até houve uma reunião na qual estiveram presentes quatro secretários de Estado com governadores civis, os quatro presidentes das CCDR e o gestor do QREN. Expusemos as nossas razões, fomos rebatidos…E o resultado?O que é um facto é que se compararmos as taxas de aprovação das candidaturas do distrito de Santarém em 2008 e 2009 elas aumentaram 200 por cento de um ano para o outro. Outra situação foi quando ficámos dois anos e meio fora dos Fundos Estruturais com tudo o que isso significava. Também conseguimos ultrapassar a situação com um ministro do PS. Nem sempre a NERSANT anda a pregar no deserto. Não. Em relação às medidas anti-crise, por exemplo, um conjunto significativo de propostas que nós fizemos, foi aceite e implementado. Por exemplo, a criação dos fundos de fusões e aquisições, para as empresas ganharem dimensão e internacionalizarem-se. A criação de um fundo de investimento imobiliário. Arranjar uma forma de fazer protecção social aos empresários, nomeadamente aos empresários em nome individual, em situações de insolvência ou de falência. Foram propostas que se fizeram e que tiveram acolhimento.Todos os processos que o governo pôs à disposição para criação de empresas já satisfazem a Nersant?Em relação ao processo de formalização de empresas Portugal está à frente de muitos países da Europa. Em termos de apoio à criação de empresas e de incentivos ao empreendedorismo não estamos tão avançados.Quais são as falhas?Em primeiro lugar é preciso que se refira a questão cultural. Não há uma cultura propícia ao aparecimento de empresas. Na década de 80 houve um “boom” graças a algumas medidas implementadas mas se formos verificar onde estão e o que fazem, descobrimos que o tal “boom” não foi tão importante quanto isso. E a partir de uma certa altura houve um enorme refluxo. Nós temos dificuldades todos os anos em atribuir o Galardão para o Jovem Empresário, o júri tem dificuldade em escolher. Poucos jovens se sentem atraídos para esta actividade. É por falta de apoios?Os apoios também são um problema. Há uma diferença entre os apoios para quem tem uma empresa em actividade e para aqueles que entram de novo. As “start-ups” são sempre penalizadas. Têm sempre apoios mais baixos. É algo que não se percebe. Qual é a situação a nível das empresas de capital de risco?Continuam sem funcionar, ou se funcionam, não funcionam como deveriam funcionar.Porquê?O capital de risco é um produto que a partir de uma certa altura se estragou. Deixou de servir para apoiar o lançamento de novas empresas; para financiamento de iniciativas empresariais e passou a ser um instrumento para actuar em situações de crise ou de prevenção. Para responder a situações conjunturais. Antes da crise havia a ideia de fazer uma dotação muito forte nos fundos de capital de risco. Inclusivamente criar sociedades de capital de risco regionais. Empresas de capital de risco ligadas a universidades. Mas a crise veio baralhar tudo. Deixou de haver recursos alocados a essas iniciativas e estamos neste momento numa fase um pouco complicada em que as grandes empresas de capitais de risco ainda funcionam, como a Inovcapital que vai fazendo algumas operações mas o capital de risco nos bancos, por exemplo, desapareceu. Os candidatos a empresários já são capazes de transformar uma boa ideia num bom negócio? Quando há uma situação de crescimento económico, o acesso ao crédito é fácil. Há a possibilidade de haver um maior leque de actividades empresariais financiadas, implementadas. Quando começa a haver restrições no acesso ao crédito, tudo isso acaba. As crises geram por vezes situações de difícil compreensão. Passa-se alguma no Distrito de Santarém? A apresentação de propostas para instalação de empresas nas áreas que temos disponíveis nos Parques de Negócios nunca foi tão grande como agora. O que é um pouco paradoxal em relação a este cenário. É de facto algo de difícil compreensão.“Se não tomarmos medidas o FMI irá tomá-las por nós” “Defendemos três medidas para atenuar os efeitos da crise. A primeira é reduzir drasticamente a taxa social única da segurança social e subir o IVA ao mesmo tempo, de forma a manter a arrecadação fiscal ao mesmo nível. Baixávamos drasticamente os custos do trabalho para as empresas sem mexer nos salários e isso iria contribuir para o aumento da competitividade.Por outro lado devia haver alguma diminuição dos salários das administrações públicas ou pelo menos congelamentos do 13º e 14º mês ou o seu pagamento através de certificados de aforro.Manter as PME invest. É impensável acabar com elas. Os bancos só estão a dar crédito às empresas que vão com a garantia dos PME Invest. Se acabarem com este instrumento acaba o crédito.Isto é o que defendemos. Achamos esquisito que algumas associações empresariais tenham medo de dizer que o acordo entre PS e PSD a este nível foi incipiente. Se não fizermos isto, o FMI vai fazê-lo por nós em Agosto ou Setembro. Não há outra solução”.“Seria um desastre para as nossas empresas se Angola não se desenvolvesse”Qual a região mais próxima de Santarém a nível empresarial? Há Lisboa, Porto e Península de Setúbal. Depois Aveiro e Braga e a seguir, neste momento, Leiria e Coimbra estão no mesmo patamar que nós.Somos uma região de micro e pequenas e médias empresas? O tecido das PME é muito mais forte em Braga e Leiria, por exemplo do que aqui. Apesar de haver uma franja significativa de pequenas e micro empresas, em termos de PIB e VAB, temos grandes empresas. Quais as empresas mais afectadas pela crise? As empresas de mercado regulado, como as de energia e telecomunicações, por exemplo, não estão com grandes dificuldades. A nível da distribuição, apesar da retracção do consumo e de haver uma concorrência brutal, as empresas mantêm-se. As empresas que exportam e as que se estão a lançar em projectos de internacionalização, também estão a responder bem. E é impressionante o número de empresas que no último ano e meio está com negócios no estrangeiro. Quem está com maiores dificuldades é quem continua ligado a alguns sectores de mão-de-obra intensiva, nomeadamente construção civil e as empresas que estão vocacionadas para o mercado interno.O que vai acontecer na regiãoFalou de internacionalização. Quais são os mercados onde as empresas da região estão a entrar? A procura de mercados emergentes, nomeadamente em África, é uma das grandes preocupações operacionais das empresas da região. É impressionante a capacidade das nossas empresas, nomeadamente em Angola.Há alguns anos o maior problema, nomeadamente em Angola, era a burocracia. Isso foi ultrapassado? O sistema está mais agilizado. E por vezes já temos agradáveis surpresas. Houve uma empresa da região que precisou da ajuda da NERSANT para fazer o registo de uma patente em Angola. À partida pensámos que não haveria nenhum instituto naquele país que regulasse aquilo. Mas ele existe e funciona. Neste momento, por exemplo, já há empresas que estão a fazer certificação de qualidade em Angola. Os problemas vão sendo todos ultrapassados?O maior é o dos pagamentos. Ainda há pouco tempo o Estado angolano devia 3,5 mil milhões de euros a empresas. Não só portuguesas.Não é só o Estado português que não paga a horas.Não. Claro que não. Em Angola falta agora consolidar o mercado interno. Com o desenvolvimento do mercado interno em diversos sectores haverá mais oportunidades. Seria um desastre para as nossas empresas se Angola não se desenvolvesse.E Espanha?Gostava que me indicassem qual o grande investimento; a grande concessão de uma grande estrutura que tivesse sido ganha por uma empresa portuguesa em Espanha. É um mercado próximo mas só funciona de lá para cá. E os mercados de Leste quase desapareceram dos objectivos das empresas da região. Alguns desses países também estão com dificuldades, como é sabido.As soluções da NERSANT para ultrapassar a criseÉ notória a descida acentuadíssima do financiamento. O crédito está a baixar de forma alarmante. O fisco, com a redução das receitas fiscais, vai continuar a utilizar alguns instrumentos, nomeadamente as penhoras das contas correntes de clientes o que acaba por provocar a insolvência das empresas.E as medidas tomadas?Foram medidas agressivas no que diz respeito à arrecadação de receitas. Do lado da despesa são intenções vagas, que não temos tanto a certeza que venham a funcionar. Só há dois caminhos. Baixar salários. Um grande economista americano de esquerda que é o Krupper disse que Portugal precisa baixar salários. E a outra era desvalorizar a moeda.Nem o PS nem o PSD tiveram coragem de diminuir salários na administração pública. Nem cordenar as protecções sociais. Mas do lado dos privados isso está-se a fazer. Cada vez há mais acordos negociados entre empresas e trabalhadorespara reduzir, de forma negocial os salários.O que é mais frequente é haver suspensão dos prémios de produtividade, de absentismo e de aumentos salariais.Os privados estão a fazer mas percebe-se que é muito difícil baixar salários. A desvalorização da moeda saindo do Euro também não é saída. Aumentávamos a capacidade exportadora mas devido ao peso que a dívida tem, nas empresas, particulares e nomeadamente nos bancos, ficávamos com a dívida tutelada numa moeda forte que é o euro e ficávamos com os activos numa moeda fraca. Era o caminho para as falências.
Há cerca de setecentas associações empresariais e isso enfraquece os empresários

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