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“O ensino profissional surge cada vez mais como a primeira opção para muitos jovens”

“O ensino profissional surge cada vez mais como a primeira opção para muitos jovens”

Salomé Rafael e o orgulho pelas distinções obtidas pelos alunos das suas escolas

A directora da Escola Profissional de Salvaterra de Magos e da Escola Profissional de Hotelaria e Turismo de Lisboa; presidente da Direcção da Escola Profissional de Coruche e presidente do Conselho de Administração da Escola Profissional do Vale do Tejo em Santarém diz que os empresários já compreenderam que a qualificação dos seus trabalhadores significa maior produtividade e competitividade.

Como avalia o aproveitamento dos alunos formados pelas escolas profissionais?Penso que os empresários estão conscientes de que a qualificação dos seus activos significa maior produtividade e competitividade. Sempre trabalhámos em parceria com as empresas. Os empresários conhecem e confiam no nosso trabalho, o que resulta numa enorme aceitação dos nossos alunos. Os nossos níveis de empregabilidade situam-se entre os 80% e os 100% e há cursos em que a procura supera largamente a oferta. Importa ainda dizer que muitos dos nossos ex-alunos assumem já funções de grande responsabilidade, o que prova que essas empresas souberam tirar partido dessa formação de base.Há alguns anos o ensino profissional era visto pela sociedade como a solução para os alunos menos dotados que não conseguiam médias altas para entrar no ensino superior. Qual é o actual posicionamento do ensino profissional?O ensino profissional surge cada vez mais como a primeira opção para muitos jovens. Os níveis de conclusão e de empregabilidade que temos provam que este não é um ensino menor ou destinado a alunos com menos capacidades. Temos cada vez mais alunos a seguirem para o ensino superior e com excelentes médias. Os resultados nas provas específicas têm vindo a melhorar todos os anos e, em muitos casos, conseguimos superar as médias das escolas secundárias da região. Por isso, o ensino profissional assume-se como a alternativa certa para quem procura uma qualificação para o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, não exclui o prosseguimento de estudos.As empresas deveriam ter um papel mais activo ao nível da participação nas escolas profissionais?Sem dúvida. Nas nossas escolas, a relação escola-empresa faz parte da realidade quotidiana e nem imagino que pudesse ser de outra forma. As empresas, as autarquias e as associações empresariais têm um papel activo e muito importante enquanto membros do conselho consultivo de cada uma das nossas escolas. Algumas empresas são até accionistas da escola, como acontece com a Escola Profissional do Vale do Tejo – Santarém. Gostaria também de referir que o tecido empresarial tem uma participação muito significativa em iniciativas e actividades ao longo de todo o percurso formativo dos alunos, bem como na avaliação de muitos projectos. Recentemente, começámos a trabalhar com as empresas na qualificação e formação dos seus activos, desenvolvendo acções de formação à medida. Por isso, estas parcerias são fundamentais para o sucesso de qualquer projecto educativo.Em alguns casos a certificação e validação de competências está a fazer com que as escolas saiam do seu espaço físico e se desloquem para os locais onde estão os alunos. Como está a correr este novo desafio?Tem sido uma experiência muito gratificante e que tem superado todas as expectativas. Neste momento, o Centro Novas Oportunidades da Escola Profissional de Salvaterra de Magos tem protocolos com grandes empresas, autarquias locais, instituições, uma universidade, entre outros. A criação de uma rede regional de itinerâncias permitiu a muitos adultos a frequência, junto das suas residências e locais de trabalho, dos níveis básico e secundário de qualificação. Lamento, no entanto, a existência de alguns actores no terreno sem preparação técnico-pedagógica, cuja lógica é um mero negócio, o que vem desvirtuar a verdadeira essência para a qual as Novas Oportunidades foram criadas. O ensino profissional foi alargado à rede pública. As escolas profissionais estiveram à altura do desafio a nível de concorrência que isso significou?No meu percurso profissional de 20 anos nesta área, jamais posso considerar que as escolas secundárias públicas sejam concorrentes dos projectos onde estou envolvida. O trabalho desenvolvido pelo grupo de escolas fala por si. Da parte do Ministério da Educação houve respeito pela oferta já existente nas Escolas Profissionais?Não. A ideia foi tentar responder às exigências de qualificação impostas pela OCDE, sem se respeitar as ofertas já existentes por parte das escolas profissionais, duplicando assim investimentos em equipamentos e recursos humanos.Muitos dos seus alunos fazem estágios noutros países e a situação não é recente. Como tem sido essa experiência? A internacionalização tem sido uma aposta das nossas escolas, não só através dos estágios no estrangeiro mas também através do desenvolvimento de projectos e parcerias europeias. E o resultado não podia ser mais satisfatório. Temos ganho muitos primeiros prémios em concursos internacionais, o que permite aos nossos alunos adquirirem conhecimentos e vivenciarem um conjunto de experiências que serão uma mais-valia para o seu futuro profissional. Os estágios no estrangeiro têm corrido muito bem e tem-se verificado um conjunto de empregos muito significativos. Tem havido aumento da formação nas áreas mais técnicas?Não. Bem pelo contrário. Posso até dizer que houve um retrocesso. Os alunos procuram, por exemplo, cursos que não tenham Matemática e Físico-Química. Além disso, gostaria também de lembrar que os cursos mais técnicos são mais dispendiosos e mais difíceis de gerir, como é o caso de Manutenção Industrial, Electrónica, Automação e Comando, Mecânica, Construção Civil e Hotelaria. Muitas escolas fogem destas áreas formativas, apesar de elas constituíram uma necessidade do tecido empresarial para que este se torne mais produtivo e competitivo. Já para não referir que estas profissões são muito bem remuneradas. Portugal era um dos países da União Europeia que menos estudantes tinha no ensino profissional proporcionalmente ao ensino secundário. A situação mantém-se? Essa situação tem vindo a ser invertida, mas acho que não devemos olhar unicamente para as estatísticas. Como referi anteriormente, não basta aumentar o número de vagas no ensino profissional. É preciso avaliar a qualidade da formação que está a ser ministrada, questionar se a oferta formativa vai ao encontro das necessidades do país, das empresas e, por fim, há que valorizar socialmente os cursos profissionais e trabalhar com as estruturas empresariais, sindicais e Ministério da Educação para uma maior valorização de algumas profissões. Tem largos anos de experiência no sector do ensino profissional. O que pode dizer aos jovens e aos pais dos jovens que têm que decidir o que fazer a nível da sua formação académica?Tendo em conta a conjuntura actual, esta é uma decisão que tem que ser tomada com muita responsabilidade. O importante é que as famílias e os alunos possam ser bem informados sobre os vários percursos formativos e respectivas saídas profissionais e sobre as especificidades de cada tipo de curso. Infelizmente, nem todos os estabelecimentos de ensino permitem uma divulgação da oferta formativa da região, o que condiciona uma escolha mais adequada para os alunos. “É repugnante que se misture a soberania de uma instituição com questões partidárias”Um dos piores momentos da minha vida profissional foi, sem dúvida, entre 1999 e 2000, quando surgiu o enquadramento da nova figura jurídica das escolas profissionais. O protocolo assinado entre a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos e o outro parceiro privado foi deitado ao lixo, não se cumprindo tudo o que tinha sido acordado. Alguns autarcas, com o objectivo de fazerem oposição à presidente da câmara, tentaram impedir uma solução, ao ponto de a EPSM quase ter sido extinta nessa altura. Foi uma grande desilusão estar à frente de uma instituição, em nome da qual tinha assumido enormes responsabilidades pessoais com a banca, e profissionais com alunos, professores e funcionários e depois ser confrontada com a atitude de alguns “pseudo-políticos” que, com uma irresponsabilidade assustadora, colocaram em risco dezenas de postos de trabalho e o futuro da própria instituição. É repugnante que se misture a soberania de uma instituição com questões partidárias.Em compensação, têm existido momentos muito bons. Sempre que um jovem ou um adulto termina com sucesso o seu percurso formativo, a alegria que sentimos é enorme. A sensação de dever cumprido, faz-nos acreditar que tudo valeu a pena. Temos muitos projectos e muitos desafios pela frente e por isso os melhores momentos ainda estão para vir.
“O ensino profissional surge cada vez mais como a primeira opção para muitos jovens”

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