
Morte de antigo avieiro ensombra festa de inauguração do Centro das Artes do Rio
Câmara cedeu ao grupo espaço para ensaiar e conviver
A festa de inauguração do Centro de Artes do Rio, espaço dedicado à comunidade avieira de Vila Franca de Xira, foi ensombrada pela morte de um dos componentes do rancho no sábado à tarde.
O dia de inauguração do Centro das Artes do Rio, um espaço dedicado à comunidade avieira, foi ensombrado pela morte de um membro do Rancho Típido dos Avieiros de Vila Franca de Xira. João Pinga, 54 anos, sentiu-se indisposto durante o evento, no sábado à tarde. Ainda foi tansportado ao Hospital de Reynaldo dos Santos de urgência, mas acabou por falecer pouco depois.Faltava pouco para o rancho adulto, o último a actuar, terminar a sua prestação. Daí a pouco haveria um lanche de confraternização, que não chegou a realizar-se dadas as circunstâncias.Com a criação do Centro das Artes do Rio, um espaço que visa a promoção do intercâmbio de experiências entre comunidades avieiras, o Rancho Típico dos Avieiros de Vila Franca de Xira, ganhou um espaço próprio para ensaiar e actuar. A “sede”, como os avieiros chamam ao Centro de Artes do Rio, foi cedida formalmente ao grupo pela câmara municipal. Um momento assinalado que contou com a presença do Governador Civil de Lisboa, sinal, referiu a presidente da câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, da importância que a Administração Central dá ao Bairro dos Avieiros.Maria do Céu Padinhas, 65 anos, nascida e criada num barco, passou a manhã a pescar polvo em Lisboa. Levantou-se às quatro da manhã para seguir viagem de carro até à Doca de Alcântara, onde tinha deixado o barco. A avieira, que costuma ir à pesca com o marido e um neto que está desempregado, regressou com dez quilos de polvo para uma tarde reservada à actuação na festa de inauguração. O centro fazia falta, disse, lembrando a velha sede, que foi deitada abaixo. Se não fosse construída uma nova estrutura, avaliou, não haveria espaço para fazer um baptizado ou um casamento. Perdiam-se as tradições dos Avieiros. Os trajes típicos e a música dos pescadores de Vila Franca desapareciam.Integrado no projecto de qualificação do Bairro dos Avieiros de Vila Franca de Xira e edificado no âmbito do PER (Programa Especial de Realojamento) e do “MARE” (Desenvolvimento Regional 2000-2006 – Programa Operacional Pesca), o centro é a realização de um sonho de Manuel do Vau, presidente da direcção do rancho, que ainda pesca enguias e o que rio vai dando num barco que remenda com madeira nova sempre que é preciso.“Alguém disse uma vez que o rancho é o ponto mais alto da cidade”, recordou Manuel do Vau mostrando-se particularmente feliz com aquele momento de reunião dos avieiros, “a alegria e a companhia do Tejo”. O centro, garantiu, fará regressar os que partiram com mais frequência. Opinião partilhada por Emília Rosa, que abandonou o grupo com 22 anos, depois de casar, e está de volta ao rancho ao fim de duas décadas de afastamento, na companhia do marido, Fernando Fernandes, com quem faz par. A “malta nova”, observou, tinha desaparecido dali, já não se via ninguém.O Centro de Artes do Rio é um espaço de história e memória de muitas gerações de que é preciso cuidar, lembrou, por seu turno, Maria da Luz Rosinha. A autarca vê no rancho um ícone de Vila Franca de Xira. O centro, afirmou, não é uma ilha. Trata-se, adiantou, de mais uma etapa do conjunto de obras a realizar nos Avieiros no âmbito do passeio ribeirinho, que vai atravessar a comunidade. Falta asfaltar as ruas, fazer nascer zonas verdes e de lazer, assim como calçadas. Intervenção conjugada com a renovação do jardim municipal, junto à estação de caminhos de ferro, com início previsto para Setembro.
