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Uma organização pornográfica

Esta semana comi papa Cerelac e gostei. Há anos que andava para voltar a saborear. Não esqueço, mas também sei que nunca mais vou encontrar, o sabor daquela farinha depois feita papa que em miúdo ia levantar à igreja da Senhora das Dores, na Chamusca, onde se distribuíam alimentos para os pobres. Não me lembro quem me mandava lá mas lembro-me tão bem de gostar que ainda tenho de memória o prazer e a felicidade desses momentos em que matava a fome, o desejo, a falta, coisas que estão gravadas na memória e que são maiores do que eu.Um amigo da política disse-me há muitos anos que sabia, antes de qualquer barómetro ou sondagem, quando é que o seu partido começava a ganhar terreno junto do eleitorado e podia levá-lo à cadeira do Poder: era quando as prendas começavam a chegar a casa, mais uma vez, com regularidade.Claro que a Igreja, na missa e na sacristia, e falta saber se também no confessionário, mete o bedelho na política todos os dias. Não há nada a fazer. Está escrito que será assim até ao fim dos séculos. Cavaco Silva deu uma lição promulgando a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo respeitando a vontade do Parlamento. Mas a igreja é intolerante e vive mal com a democracia. A igreja, enquanto organização, é pornográfica quando condena, por exemplo, o uso do preservativo. Eu sei que estou a bater no ceguinho. Mas é importante que enfrentemos os padres das nossas freguesias. Ouvir a voz de Cristo é não ficarmos rendidos às palavras melosas que os padres repetem todos os dias na missa lendo a Bíblia não como um belo livro de poesia mas como um livro de sentenças.Claro que o Governo interferiu na linha editorial da TVI. É claro que Armando Vara e José Sócrates metem o bedelho todos os dias, se puderem, junto das chefias das redacções, quando não é directamente junto dos jornalistas. Sempre foi assim. António Guterres salvou o Jornal do Fundão quando era primeiro-ministro por ser o jornal da sua terra. Foi também nessa altura que o Governo mandou comprar o grupo de comunicação social do Coronel Silva. Foi há tão poucos anos mas quem é que já se lembra disto? É claro que o Governo manda, quando pode, na RTP, na RDP e na agência LUSA. Alguém tem dúvidas? Só quem não conhece o meio e não conhece as pessoas que o frequentam. E depois há jornalistas que se pelam para serem influenciados. Basta ver como saltam das redacções para assessores dos membros do Governo e de outros organismos públicos. Foi a farinha, a memória da farinha depois feita papa, que provei do pacote do meu sobrinho Tiago, que me embalou para esta crónica. Começo a ter memória grande demais para o meu gosto. JAE

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