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João Mendes subiu à segunda categoria da arbitragem nacional

João Mendes subiu à segunda categoria da arbitragem nacional

Aos 28 anos o jovem árbitro de Riachos é uma das grandes esperanças do distrito de Santarém na difícil tarefa de arbitrar jogos de futebol

João Mendes é árbitro de futebol por vocação. Começou há dez anos como árbitro estagiário, foi assistente de Luís Rato Silva no nacional da terceira divisão. Formou equipa, foi subindo degraus a nível distrital, há quatro anos subiu à terceira categoria nacional e acaba agora de dar mais um salto importante para a segunda categoria nacional. O próximo objectivo é a primeira categoria. Estudioso e aplicado vai trabalhar para que isso seja um objectivo conseguido.

Jogava futebol antes da arbitragem?Curiosamente não. Nunca joguei futebol oficialmente. Praticava atletismo, corria os 1500 metros e 3000 metros obstáculos, e até era um atleta razoável.Então como é que entrou a arbitragem na sua vida?Entrou de uma forma muito simples. Um dia após umas provas de atletismo, o senhor José Gama Henriques convidou-me a mim e ao meu irmão gémeo para irmos tirar o curso de árbitro. Mais por curiosidade do que por vontade fomos, o curso correu-nos bem. Tinha então 18 anos, começámos logo a fazer jogos como árbitros assistentes e acabámos por nos entusiasmar e decidimos ficar.Deixou o atletismo?Não deixei logo, ainda conciliei as coisas durante algum tempo. Na hora da opção ganhou a parte mais difícil, a arbitragem?É verdade foi uma opção por uma corrida de fundo como é a arbitragem. Depois de fazer alguns jogos e de tudo ter corrido bem, senti que era a arbitragem que era a minha vocação.Chegar à segunda categoria nacional 10 anos depois de entrar para a arbitragem é excelente?É verdade. Tive alguma sorte. É preciso dizer que temos que andar no distrital pelo menos cinco anos. Tiramos o curso, passamos a árbitros estagiários, subimos depois à segunda categoria distrital, se tivermos pontuações para isso subimos à primeira categoria B distrital. Depois consoante as provas de campo e testes escritos e físicos subimos ou não à primeira categoria A distrital. Só depois, se ficarmos no primeiro lugar do distrito, é que vamos a exame para subir à terceira categoria nacional.Foi o que aconteceu consigo, subiu logo no primeiro ano em que teve essa possibilidade?Sim. Contribuiu para isso o facto de durante o tempo que fui árbitro no distrital ter andado como árbitro assistente do Luís Rato Silva, então árbitro no nacional. Isso foi bom, porque quando formei equipa já levava uma boa experiência.É importante para um árbitro jovem ser assistente nos nacionais?É muito importante. Penso mesmo que qualquer árbitro tem que ter uma noção do que é ser assistente, porque o seu trabalho é mais difícil do que ser árbitro principal. Está mais junto à assistência, mais junto aos bancos de suplentes e por isso mais sujeito a pressões. Dá uma grande bagagem para qualquer árbitro que pretenda fazer carreira na arbitragem. Há uma grande diferença entre o distrital e o nacional?Há uma diferença muito grande. Um árbitro assistente no nacional ganha outra força e mais cedo ou mais tarde ganha a ambição de lá chegar como árbitro principal. A prova disso é a subida de vários árbitros que foram assistentes.Quando é que começou a sentir que podia subir à segunda categoria nacional?Comecei a sentir que podia dar mais um salto importante na carreira, quando comecei a receber os relatórios das observações e fui vendo que estava com uma boa média para estar nos primeiros lugares. Mas só tive mesmo a certeza quando vi um dos assessores do Conselho Nacional de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol a assistir e a filmar o jogo Cova da Piedade – Farense, que era um jogo da fase de apuramento de campeão. Aí tive a quase certeza.Quando recebeu a confirmação da subida?Soube no dia 17 de Junho, altura em que foram publicadas as classificações no site da federação. Mas foi um dia de nervos, acabei por saber através de um colega meu de Aveiro, porque nunca consegui aceder ao site.Isso quer dizer que apesar da rivalidade há amizade na arbitragem?Há muita camaradagem. A arbitragem é um mundo muito engraçado. As pessoas em geral pensam que os árbitros são inimigos uns dos outros, isso não é verdade. A maioria dos meus verdadeiros amigos são árbitros e inclusive alguns que estavam na luta pela subida como eu. Apesar de andar no nacional continua a vir ao distrital arbitrar jogos de jovens ou a ajudar os seus companheiros de equipa?Eu adoro vir ao distrital. Fui eu que insisti com o presidente do Conselho de Arbitragem de Santarém para que sempre que estivesse disponível ser nomeado para fazer de assistente aos meus companheiros de equipa. Não ficava satisfeito quando não tinha jogo no nacional não ser nomeado para o distrital. Para mim estar um fim-de-semana sem fazer jogos é terrível.Isto da arbitragem também é um vício?É um grande vício. A minha mulher que o diga.“Trabalha-se bem na arbitragem no distrito de Santarém”Neste momento o distrito de Santarém está bem representado na arbitragem nacional?Sem dúvida que sim. Temos um árbitro na primeira categoria, três ou quatro na segunda e oito na terceira, não desceu ninguém ao distrital. Isso só pode acontecer com muito e bom trabalho.Um bom trabalho do conselho de arbitragem ou sobretudo do Núcleo de Árbitros do Ribatejo Norte?Trabalha-se bem no conselho. Mas é no Núcleo que se trabalha melhor. A maioria dos árbitros que estão no nacional é de membros do Núcleo. Quer dizer que o Núcleo tem sido decisivo para o progresso da arbitragem do distrito de Santarém?Se não tivéssemos a carolice de algumas pessoas que todas as sextas-feiras estão no Núcleo para nos ajudar, não era possível atingir estas classificações e ter todos estes árbitros no nacional. O Núcleo é a única escola da arbitragem no distrito de Santarém. Depois há também a Comissão de Apoio Técnica que nos vai ajudando em Santarém naquilo que pode. Como é que se trabalha no Núcleo?Acima de tudo, preparamo-nos em termos físico, escritos e fazemos a análise de cada jogo com um grupo de pessoas ligadas e entendidas na arbitragem que nos ajudam nas dificuldades que temos. De quinze em quinze dias discutimos e falamos de tudo o que nos possa ajudar a ser cada vez melhores árbitros. Nem tudo é bom na arbitragem?Eu adoro ser árbitro. Tem alguns problemas, mas eu felizmente não os tenho sentido. Dentro do campo sinto o ambiente, e quanto mais hostil ele é mais vontade sinto de me superar e fazer uma melhor actuação.Já alguma vez se sentiu ameaçado?Não. Felizmente as coisas até me têm corrido muito bem. Nunca tive problemas para sair em nenhum campo. Ando há dez anos na arbitragem e nunca me senti ameaçado ou sequer pressionado. Tenho sido feliz.Uma subida por objectivosTraçou objectivos quando decidiu formar equipa para singrar na arbitragem?Se se quer ser alguém no mundo do desporto temos que ter objectivos, de outra forma não vale a pena cá andarmos. Traçou objectivos ambiciosos?Tracei. Há quem trace objectivos de chegar só à terceira divisão nacional e cimentar lá a sua carreira. Os objectivos que tracei são os de ir o mais além possível. E isso é chegar à primeira categoria. Mas não quero subir a qualquer custo, vou dando passos seguros, com muito cuidado para ir subindo degrau a degrau. Subir à segunda categoria com 28 anos de idade e 10 anos de arbitragem é uma proeza que não está ao alcance de todos, é uma carreira excelente. Daqui a quatro anos vai estar na primeira categoria? É verdade é muito bom. Não sei, o que posso dizer é que vou continuar a trabalhar para ser, acima de tudo, cada vez melhor árbitro, se conseguir estar na primeira liga melhor. Mas tenho consciência de que não é uma tarefa fácil.De qualquer modo o trabalho que tem feito tem dado resultado?Quando se trabalha com vontade e seriedade aparecem sempre os resultados. Quem quiser estar num patamar alto tem que trabalhar em termos físicos, psicológicos, escrita e preparação dos jogos. São quatro aspectos muito importantes para se conseguir os objectivos.Isso quer dizer que não se pode ser árbitro só ao fim-de-semana?Tem que se ser árbitro sempre. Ao fim-de-semana veste-se a camisola, durante o resto do tempo tem que se ser árbitro dentro e fora do campo. Seja quando se vai passear, quando se vai treinar tem que se ser árbitro, mesmo aqui no distrital não passamos despercebidos e por isso temos que nos portar como tal. “A família é o meu grande suporte”Como é que se vive a sua vida de árbitro em casa?Vive-se com intensidade. Às vezes é sentida a minha falta, é treinar fisicamente à terça e à quinta, à sexta é o Núcleo e ao sábado e domingo são os jogos, apenas à segunda-feira estou mais disponível.A esposa não se queixa?Se não tivesse em casa uma mulher como tenho não era fácil, ela dá-me todo o apoio, sente as alegrias que eu sinto e as tristezas que às vezes trago comigo. Sem o seu apoio não conseguiria atingir os objectivos que tracei. Tenho ao meu lado a melhor mulher do mundo!É por isso que ainda não há filhos?Gostávamos de já ter um filho. Mas sabemos que seria muito difícil ter toda a disponibilidade que preciso para tentar chegar ao topo. Não foi só por isso, ainda não tomámos a decisão de ter um filho. É ainda necessário usufruir da nossa vida a dois.A esposa já o acompanhou a alguns jogos?Só me acompanhou na minha estreia como árbitro num jogo de seniores, foi no Tramagal num jogo com o Samora Correia. Não gostou do que ouviu e só me acompanhou noutro jogo, que foi a final da Taça do Ribatejo, mais um jogo importante na minha carreira.E os pais?Vivem com intensidade as minhas conquistas e as do meu irmão, mas também não são espectadores usuais nos jogos que arbitro. No entanto, sempre nos deram todo o apoio.Como é que receberam a notícia da sua subida?A minha mulher foi a primeira a saber por mim da subida. Assim que soube telefonei-lhe imediatamente, porque entendo que era ela a pessoa que mais merecia saber a seguir a mim. E ainda ao telefone ouvi-a chorar de alegria, foi muito emocionante, e uma mostra muito grande do amor que sentimos um pelo outro. Os meus pais também ficaram orgulhosos e satisfeitos. A minha mãe é mais expansiva e chorou de felicidade, o meu pai aguentou melhor e com a voz algo embargada deu-me os parabéns.No dia 17 de Junho acabou por haver festa em casa?Sim houve uma comemoração a dois. Demos um forte abraço e ficámos super contentes. Depois comemorei com os meus assistentes e com os meus amigos da arbitragem. Usufrui bem destes momentos.Falou dos assistentes, são uma peça importante na sua carreira?São mesmo muito importantes. Sem eles não tinha subido. Se não trabalhássemos todos em prole do mesmo objectivo, não iríamos a lado nenhum. Não foi só o João Mendes que subiu, foram também o Pedro Lopes, Paulo Raposo e Adriano Sousa, que trabalharam comigo durante toda a época.Neste campeonato ainda existe uma equipa de arbitragem?É verdade. Somos efectivamente três amigos. É pena que não continue assim na segunda divisão, já vamos levar árbitros assistentes do quadro da Federação, que não são da nossa equipa, isso torna as coisas mais difíceis. Também há o trabalho para além da arbitragem?É verdade. Não sou profissional da arbitragem. Gostava de o ser mas não o sou. Não podemos viver só da arbitragem. Mas é bom termos outra profissão, até para desanuviarmos um pouco do stress.Acredita na profissionalização da arbitragem?Acredito perfeitamente. Penso mesmo que esse é o seguimento de toda a carreira e um passo importante para a melhoria da arbitragem em Portugal.Qual é a sua profissão?Sou electricista. Trabalho na empresa em que o meu patrão é o único árbitro do distrito de Santarém na primeira categoria nacional, o André Gralha. Isso tem sido bom para a sua carreira de árbitro?Tem sido decisivo. Se não tivesse um patrão que me desse o apoio que ele me tem dado, seria muito complicado conciliar as duas coisas, e fazer o que tenho feito. Não falho a nenhuma sessão do núcleo, estou sempre dispensado para ir a formações. Trabalho com uma pessoa que compreende o que faço. A ajuda do André tem sido extraordinária.Em termos de habilitações literárias?Tenho o décimo segundo ano e o curso de electromecânica. Agora vou preparar-me para tirar o curso de inglês escrito e falado, porque se quero ir mais além na arbitragem tenho que dominar o melhor possível a língua inglesa.Chegar aos 28 anos à segunda categoria nacional é excepcional, quantos anos é vai lutar pela subida ao escalão mais alto?Agora vou lutar para garantir a manutenção, porque não é uma tarefa fácil. Estabilizar é muito importante. Vou continuar a aprender e depois vamos ver como é que as coisas vão correr. A médio prazo é óbvio que continuo a sonhar em chegar à primeira liga. Mas para já não é uma obsessão. Se conseguir estabilizar na segunda divisão, gostava que ao terceiro, quarto ano conseguisse a subida. Seria óptimo. A certeza é que vou lutar por isso, trabalhando ainda mais do que tenho feito até aqui.
João Mendes subiu à segunda categoria da arbitragem nacional

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