Um senhor da agricultura sem papas na língua
Fernando Gomes da Silva chama os bois pelos nomes numa grande entrevista a O MIRANTE
Ex-ministro da Agricultura, engenheiro agrónomo e agricultor, dirigente associativo, Fernando Gomes da Silva não é homem de meias tintas nem de meias palavras e as suas opiniões são tão desassombradas como fundamentadas. Seja a falar da agricultura ribatejana, da Companhia das Lezírias, do caso Portucale ou da Feira Nacional de Agricultura e do CNEMA. Viveu o auge da exposição mediática quando esteve no Governo e, em plena crise das vacas loucas, apareceu em público a comer mioleira de vaca. Pouco preocupado com o politicamente correcto, este homem com raízes em Vila Franca de Xira e no Cartaxo diz que se fosse hoje voltaria a fazer o mesmo. António Palmeiro / João Calhaz
Foi ministro durante mais de três anos (entre 1995 e 1998), no tempo do primeiro-ministro António Guterres, mas não aguentou até final do mandato. Porquê sair tão perto do fim?Por razões de saúde.O episódio da mioleira teve alguma influência nisso?Não teve nada a ver com isso. Aliás, se tivesse a ver tinha saído muito mais cedo. Foi por razões de saúde e por aconselhamento médico de que não deveria continuar a manter aquele stress, aquela pressão que efectivamente a vida de ministro tem. Goste-se ou não, é assim. E gostava da vida de ministro?Tem dias. Há momentos muito gratificantes em que se tem a noção de que se está a mexer nas coisas, que se tem a mão na massa e portanto pode-se orientar as coisas no sentido que se julga ser o melhor. E há outros momentos que são muito difíceis, frustrantes e muito cansativos. Porque se tem a sensação que se está a bater contra uma parede e que nada anda, nada se resolve. Para quem quer modificar as coisas no bom sentido esses momentos são menos gratificantes. É aliciante ter esse poder de decisão, mas ao mesmo tempo é frustrante não se conseguir atingir alguns dos objectivos.É. Aliás só se deve aceitar ser ministro, e eu fui convidado duas ou três vezes depois do 25 de Abril, tendo a convicção que não se vai viver no céu nem é uma reforma dourada. Ao longo de toda a minha vida profissional foram certamente os três anos mais trabalhosos, mais cansativos. O que o levou a aceitar esse convite de António Guterres, se anteriormente tinha rejeitado convites idênticos?O que me levou a aceitar foi a experiência que já tinha ganho relativamente ao sector agrícola. Foi estar convicto que havia coisas que valia a pena serem feitas. Foi ter vivido sempre ligado ao sector agrícola e ter ganho uma dose de experiência e de conhecimentos por todos os cargos por onde passei que me convenceram de que era o momento de os pôr ao serviço da agricultura portuguesa. E depois foi o momento galvanizador da entrada do engº. António Guterres no Governo. Os Estados Gerais do PS foram um momento alto de mobilização da sociedade portuguesa.Tem simpatia pelo PS?Sim, mas não sou filiado. Se o actual primeiro-ministro o convidasse para o Governo daria o seu contributo?Não. Neste momento é completamente impensável. Aliás há outra questão que é o problema da idade. Há um limite de resistência física, psicológica, de disponibilidade mental e de atitude das pessoas. Aos 72 anos era impensável arcar com as responsabilidades de conduzir um ministério, fosse ele qual fosse.Diz que esteve sempre ligado à agricultura. É também agricultor?Sim. A minha família também descende de agricultores. Do lado da minha mãe da zona de Vila Franca de Xira e do lado do meu pai da zona do Cartaxo. Eu próprio sou agricultor na lezíria de Vila Franca.Com qual dessas duas zonas tem mais afinidades?São zonas contíguas e são dois pólos da mesma realidade que fica entre Lisboa e Santarém. Tenho relações familiares mais fortes em Vila Franca, indiscutivelmente. Até porque a família do meu pai é mais pequena e desapareceu, só tenho primos muito afastados, enquanto que em Vila Franca não. Nessa zona tenho família muito próxima. Aliás, a minha agricultura é aqui na lezíria de Vila Franca, mas sou sócio dos meus primos em Benavente e no Alentejo, na Vidigueira. O episódio da mioleira ainda hoje é lembrado. Contava com essa repercussão?Ainda hoje as pessoas se lembram disso. Contava com essa repercussão mas numa dimensão positiva que eu creio que não se deu na altura. Hoje já é recordado com graça. E o problema que se colocava na altura, que era o da doença das vacas loucas, desapareceu. Ninguém fala nisso hoje. Felizmente voltou-se a comer carne de bovino. Na altura o consumo dessa carne caiu 85 por cento. O que se consumia era porco e frango. Porque fez aquilo?A minha actuação na história da mioleira tinha a ver com uma coisa que não foi entendida na altura. Talvez me tenha explicado mal e as pessoas tenham captado mal. Tenho esse quadro muito presente e o que pretendia era dar uma orientação de confiança à população. Dizer que num país onde não existiam casos de vacas loucas a mioleira era perfeitamente possível de ser comida. Não havia risco para a população porque não existiam animais doentes. E aliás, no Luxemburgo, que foi onde isto se passou, creio que nunca chegaram a existir animais doentes. Depois a questão foi politizada, utilizada também como arma de arremesso político, mas isso faz parte do jogo.Voltaria a fazer o mesmo?Sim. Se calhar teria era mais cuidado em explicar melhor.Esse caso demonstra que não se preocupa muito com o chamado politicamente correcto.De facto não me preocupo muito. Aliás, não tenho uma carreira política. Costumo dizer que tenho uma carreira de cidadania. Sou um cidadão activo e presente na vida do meu país e com preocupações nesse domínio. E o desempenho da função de ministro foi um desempenho de um dever cívico. Tinha obrigação de prestar o meu contributo. Bem ou mal, não me compete a mim julgar. Nessa perspectiva, não me preocupa nada o politicamente correcto.Ser ministro foi a sua estreia absoluta na política?Sim. Não estava ali por ter chegado ao topo de uma carreira política. Evidentemente que estava a desempenhar um cargo político e isso sente-se. Senti o peso da representação e por várias vezes tive que intervir em representação do Governo do meu país. E isso tem peso institucional. Agora para agradar, para fazer carreira política, não! Nunca sentiu o apelo da política antes. Nunca teve convites para ser candidato a cargos políticos?Tive um primeiro convite, ainda não havia Ministério da Agricultura, para secretário de Estado da Agricultura imediatamente a seguir ao 25 de Abril. Isso tinha uma explicação. Eu tinha antes do 25 de Abril intervenção que podemos chamar-lhe política. Era oposição àquela forma de governar. E exprimia isso publicamente. A Pide tinha a minha ficha. Quando fui mobilizado para o Ultramar o comandante do batalhão sabia que eu era um “perigosíssimo” fichado na Pide. E como tinha diversos trabalhos e estudos publicados sobre agricultura a seguir ao 25 de Abril pôs-se a questão. Disse que não, porque não me considerava preparado. Estava ainda a fazer caminho. Em 1976 aceitei dirigir o gabinete de planeamento do Ministério da Agricultura, com o ministro António Barreto.Apanhou o processo da Reforma Agrária?Apanhei, mas não participei. Conversei dias e dias seguidos com o ministro António Barreto quando ele estava a elaborar a chamada Lei Barreto, que deu origem ao desmembramento da Reforma Agrária, do processo das UCP, das cooperativas do Alentejo. A minha actuação era mais no domínio técnico. “O ministro Jaime Silva foi uma catástrofe para a agricultura”Tem uma imagem austera e sisuda. É construída ou faz parte do seu carácter?É verdade que tenho uma grande dificuldade em sorrir para as fotografias. Isso é verdade. Até os meus filhos e os meus netos o dizem. Mas acho que não sou sisudo. Tinha e tenho um grau de exigência muito grande do ponto de vista do desempenho profissional, das relações humanas. O que não tem nada a ver com dureza, mau feitio, embora reconheça que há alguma imagem que vai passando.Ou que passou sobretudo na altura em que foi ministro.Naquela altura passou por uma razão muito concreta e muito objectiva. Vinha-se de uma tradição em que fundamentalmente pontuavam duas associações: a CAP e a Confagri. E não tinham nenhum papel e andavam permanentemente fora do jogo a CNA e a própria AJAP. As primeiras reuniões que fiz foi exactamente com essas confederações nacionais de agricultores. Disse-lhes que as regras eram iguais para todos e que não contassem com tratamentos privilegiados para ninguém…Seria uma prática habitual?Suponho que sim. E deixou de ser. Depois não sei. Afastei-me bastante a seguir. Aliás, não voltei a retomar actividade no sector agrícola propriamente dito senão agora. Em 1998 fui para casa descansar. Retomei a actividade em meados de 1999. Estive no Instituto de Participações do Estado, ligado a coisas completamente distintas da agricultura. Depois estive ligado à Agência Portuguesa para o Investimento na gestão de parques empresariais, de que saí em 16 de Abril deste ano. Foi a partir daí que me voltei a meter mais na agricultura e aqui na associação. A CAP moveu também uma “guerra” ao anterior ministro da Agricultura, Jaime Silva.Mas aí com muita razão (risos). A época do ministro Jaime Silva é uma catástrofe para a agricultura portuguesa. E ele em si mesmo também é uma catástrofe. São palavras duras.Sim, sim. Mas não tenho a menor dúvida disso.Catástrofe porquê?Não conheço nenhuma atitude do ex-ministro Jaime Silva que tenha sido útil à agricultura portuguesa, ou aos agricultores portugueses. Ou sequer que se justificasse ser útil a médio prazo. Tudo aquilo que Jaime Silva fez foi desastroso para a agricultura portuguesa. Conheço imensas asneiras e coisas mal feitas, acintosamente erradas.Conhece o actual ministro da Agricultura?Conheço. Não conhecia. Já estive a conversar com ele. Em comparação com o Jaime Silva nem vale a pena procurar comparações. Parece uma pessoa com bom senso, que conhece algumas coisas da agricultura. Tem a vantagem de ter formação em gestão. É importante ter essa noção e não embarcar em fantasias. Na sua actuação no dia a dia tem grandes limitações porque o país também as tem. Não se lhe pode pedir mundos e fundos. As recordações do Colete Encarnado e os elogios a Conde RodriguesRetemos na memória uma visita que fez a Paço dos Negros, Almeirim, em que se associou à festa e até dançou. Foi num momento muito difícil, praticamente no fim da minha vida como ministro. Terá sido a última visita que fiz. Comecei por me sentir mal no regresso de uma reunião de Bruxelas. Depois, lembro-me de chegar a Almeirim e no gabinete do presidente da câmara Sousa Gomes ele me ter dito que eu estava com muito má cara. Depois a festa correu bem. Ainda lá tenho a salva oferecida pelos agricultores de Almeirim. Gosta do convívio popular?Sim, com certeza.Apesar de ter raízes aristocráticas.Pode-se dizer que sim. Mais do lado da minha mãe, da família Palha Van Zeller. O criador das festas do Colete Encarnado, José Van Zeller Pedro Palha, era primo direito da minha mãe. Só que era um primo direito muito mais velho que a geração da minha mãe.Chegou a residir em Vila Franca de Xira.Não. Sempre residi em Lisboa. Vinha era aqui passar férias. E costuma frequentar as festas do Colete Encarnado?Quando era mais novo sim. Agora já não me meto nesses apertos. Mas lembro-me de ter vivido muitos anos seguidos as esperas de toiros - vistas da janela, não lá em baixo - quer no Colete Encarnado quer na Feira de Outubro. Como é que acha que Vila Franca de Xira tem evoluído?Acho que ultimamente tem evoluído bastante. Mas tem um problema geográfico muito complicado. Está encurralada entre a serra e o rio. E só se consegue estender a cavar na serra, o que é difícil. Depois tem ainda a linha de caminho de ferro e a auto-estrada que condicionam muito. Mesmo assim, o interior da cidade tem melhorado e evoluído no bom sentido. E em relação ao Cartaxo, onde também tem raízes?O Cartaxo é muito mais fácil de desenvolver. Não está encurralado. O Cartaxo teve um presidente da câmara e um homem de muita qualidade, o José Conde Rodrigues. Ganhou a câmara quase de fraldas, muito jovem, e fez um excelente trabalho de desenvolvimento. O actual presidente, Paulo Caldas, também chegou ao cargo muito jovem e já vai no terceiro mandato.Muito jovem. Não sei se não terá sido jovem de mais. Destes últimos mandatos tenho menos opinião. Acompanhei mais as coisas com o Conde Rodrigues. Sei que ele me propôs na estrutura do PS para ocupar um lugar elegível como candidato a deputado pelo círculo de Santarém. Que eu teria aceite.O seu nome não passou na estrutura distrital do PS?Exactamente. Não passou. Guarda algum ressentimento disso?Não. Aliás quem comandava o processo na altura era o Jorge Lacão, com quem me dei bastante depois disso. Não tenho nenhum ressentimento e até percebo. Porque os lugares de carreira política devem ser desempenhados por quem se interessa e está disponível para fazer uma carreira política. Não convém que o faça sem saber fazer mais nada, porque depois é uma tragédia. Mas também não convém que o faça apenas como, digamos, uma coisa de segunda. Tem de se ter alguma profissionalização e algum tempo para o fazer. Nessa altura tê-lo-ia feito. Tinha disponibilidade, tinha tempo. Isto foi antes de ser ministro, no tempo dos Estados Gerais.Se fosse depois talvez já aceitassem o seu nome?Não sei. Os lugares elegíveis na lista de Santarém são poucos e há muitos profissionais da política para os ocupar. Depois é a questão da não filiação. Mas continua a haver independentes nas listas do PS.É verdade mas normalmente depois deixam de o ser. São logo convertidos, o que complica um pouco as coisas para quem se quer manter como independente. Embora não goste nada dessa palavra. O que eu sou é não filiado. “A CAP teve enormes benesses dos governos”Os profetas da desgraça dizem que a nossa agricultura não tem futuro.Não têm razão. Essa foi uma das razões por que terei aceitado ser ministro da Agricultura. Porque sempre acreditei e continuo a acreditar que é possível e viável fazer agricultura em Portugal. Agora não é possível fazer toda a agricultura em todo o Portugal. É absolutamente abusivo afirmar que não se pode fazer e, pior do que isso, afirmar que não se faz. Se não houvesse agricultura o país era um deserto. Em algumas zonas da região há em muitos casos o problema da pequena dimensão das propriedades. O emparcelamento é uma boa opção para resolver esse problema?Os projectos de emparcelamento são de uma maneira geral experiências relativamente falhadas. Então qual é a solução?Hoje estamos numa fase da dimensão económica e aí o associativismo pode ter importância. Porque dois agricultores que se associam para explorarem em conjunto um espaço criam uma exploração com dimensão.Ainda há muita dificuldade de os agricultores se associarem. Do que é que têm medo?O sentimento não é propriamente o de medo. Mas em geral é o sentimento de posse que um agricultor tem da sua terra e que é muito forte. Muito mais forte que um industrial tem da sua fábrica. É uma questão sociológica e cultural a nível mundial. Há uma relutância de se associarem, às vezes mesmo apenas ao nível da comercialização, que é uma coisa fundamental. Porque hoje é muito mais difícil vender que produzir. Como é que vê actualmente a actuação das duas grandes confederações de agricultores, a CAP e a CNA? Quer uma quer outra perderam grande influência e grande força, se recordarmos qual era a presença das duas confederações há 15 ou 20 anos. A CAP teve sempre uma posição de privilégio? Há uma coisa que nunca percebi. O conselho económico e social tem três confederações patronais e duas sindicais. Porque é que a CNA não está neste conselho e só está a CAP? É que a CAP não representa efectivamente os agricultores de Portugal, não tem a totalidade dos agricultores associados. Mas porque é que se criou essa ideia?Porque foi a primeira que apareceu, porque apareceu como grande obstáculo à reforma agrária do pós-25 de Abril. E porque teve por parte dos governos enormes benesses em dinheiro e em meios.Processo Portucale foi um negócio ruinoso para a Companhia das LezíriasComo é que olha para a Companhia das Lezírias enquanto empresa agrícola do Estado?Não por ser uma empresa agrícola, mas por ter os activos fixos que tem, o solo, e pela localização no país, é fundamental que continue a ser uma empresa pública. E sendo pública não tem razão para dar prejuízo se for bem gerida. E ultimamente não tem dado. A companhia tinha uma gestão catastrófica até eu entrar como ministro, era na altura administrador o engenheiro Hermínio Martinho. O que é que a privatização pode trazer?No dia em que for privatizada, o maior montado de sobro da Península Ibérica é transformado em betão armado. O lençol freático mais abundante e mais importante é rapidamente sugado por piscinas e campos de golfe. Como no caso Portucale…São 500 hectares da Companhia das Lezírias entregues ao grupo Espírito Santo a 70 escudos o hectare segundo me lembro, porque me vou esquecendo de algumas coisas desse processo para não dormir mal. E teve a agravante de fazerem lá dentro uma barragem que tirou a água à companhia, que a deixou seca numa das zonas. Como é que explica a decisão de vender esses terrenos para um empreendimento numa das zonas mais ricas em termos agrícolas?Porque se faz um negócio ruinoso para a Companhia das Lezírias. Se calhar não foi ruinoso para alguém. Que houve ali outros interesses envolvidos, é evidente que houve. Ainda tentou parar o empreendimento ao anular um despacho para o abate de sobreiros.O ministro à época deu uma autorização abusiva e a lei, que não permitia que o ministro tomasse essa posição, tinha que ser cumprida. O processo que vinha de trás é que é grave porque permitiu que alguém tomasse conta de uma propriedade naquele sítio. Aquilo era para ser um empreendimento de desenvolvimento de projectos agrícolas. E isso fazia todo o sentido. Mas isto transformou-se tudo, aldrabou-se tudo e virou um projecto de casinhas, campos de golfe e barragens.A Companhia das Lezírias não teve a perspectiva de que isso pudesse vir a acontecer?Na altura o presidente da companhia, Hermínio Martinho, deixa-se comer neste processo. Pelo menos não teve a argúcia para travar o processo a tempo e horas. E a responsabilidade é dele. E deve-se dizer que os donos do Portucale nunca transgrediram a lei. Só cortaram sobreiros quando estavam autorizados. Quem não defendeu os interesses do Estado e da Companhia das Lezírias foi o conselho de administração presidido por Hermínio Martinho, ao permitir tudo isto. Nunca foi convidado para gerir a Companhia das Lezírias?Fui convidado. Mas não aceitei explicando que tinha interesses directos na mesma zona da companhia e que entendia que havia um conflito de interesses. “O CNEMA só ainda não faliu porque os bancos e o governo continuam a sustentá-lo”O ex-ministro da Agricultura, Gomes da Silva, vê com preocupação a gestão que a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), faz do Centro Nacional de Exposições (CNEMA), enquanto maior accionista, porque o espaço “é uma fonte de prejuízo e não é possível manter uma fonte de prejuízo eternamente”. O antigo governante acrescenta que o centro só “ainda não faliu porque os bancos e o governo continuam a sustentá-lo”.Gomes da Silva vai mais longe e diz que houve uma grande promiscuidade pelo facto de o Ministério da Agricultura ter sido accionista do CNEMA. “O centro ou é um espaço público e então é do ministério e a CAP não pode ter o privilégio de gerir o CNEMA. Ou é uma sociedade de um conjunto de entidades que são associações empresariais e então é delas e não do Estado que não tem que lá pôr o dinheiro, nem tem que sustentar aquilo”, defende. E realça que a CAP não pode estar sentada na cadeira à espera dos subsídios para manter o complexo, dizendo que isso é um exemplo da postura da confederação ao longo dos anos. “Habituaram-se a ter uma vida relativamente fácil e nunca tiveram que fazer pela vida”.Uma coisa que incomoda o ex-ministro é que a Feira Nacional de Agricultura seja cada vez mais uma feira de “folclore”, de espectáculos, e menos de agricultura. E vai mais longe ao dizer que “qualquer feira de vinhos e enchidos em Lisboa, na FIL, tem mais força do ponto de vista dos produtos agrícolas, do que tem a feira de Santarém, onde os produtos agrícolas não existem”. Dá como exemplo de um certame verdadeiramente agrícola, a feira do milho que se realiza em Valada do Ribatejo (Cartaxo). Para o antigo governante, o buraco do CNEMA começou com a construção do espaço, que considera “perfeitamente faraónica”. “Aquele pórtico de colunas na entrada dá impressão que estamos a entrar em Roma nos tempos do império. Não se percebe para que é que aquilo foi”, sublinha, apesar de considerar que o dinheiro que se gastou na construção não é o mais grave. “O drama é que aquilo todos os anos é um buraco”.
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