Caro Serafim das Neves. Como leitor e assinante de O MIRANTE desde a primeira hora, já lá vão uns bons anos, permita-me que o ajude a resolver a sua perplexidade. Sou cidadão da Chamusca, tenho participado, dentro das minhas competências, na vida associativa da minha terra em várias áreas – somos sempre os mesmos - convidaram-me um dia para participar na política local. Para ser coerente com o que penso da intervenção cívica dos cidadãos aceitei ser eleito para a Assembleia Municipal. Nunca tirei dividendos pessoais nem materiais dessa participação. O que sou pessoalmente e profissionalmente (professor) a mim e à minha família o devo. Como penso que o caro amigo não me conhece, logo a sua opinião sobre a posição da CDU na moção de José Saramago, apresentada pelo BE, não terá sido mal intencionada, apenas não conhece bem os factos. A CDU absteve-se na votação da moção, não por birra, nem por não valorizar o homem e escritor universal que é. Como parece não saber, a CDU apresentou nessa Assembleia um texto sobre o escritor, elogiando a sua obra, o homem livre, o brilhante escritor e o cidadão político que foi José Saramago. Mas também compreenderá que quando uma moção apresenta ataques políticos a uma organização a pretexto de um voto de pesar, a sua intenção não será o voto de pesar mas sim a guerrilha política. Ou não será assim? Já não temos idade para acreditar no Pai Natal (aos 50 anos).Por último quero informá-lo que logo na altura da votação afirmámos - está em acta - que éramos a favor do voto de pesar mas que o conteúdo da moção (recomendava o nome de uma rua) deveria ser consensualizado, como é hábito entre diferentes forças políticas, o que não aconteceu, de modo a obter o maior número de votos possível (teve apenas um voto a favor) e por isso nos abstivemos. O jornalista de O MIRANTE que esteve de serviço é uma testemunha privilegiada do que lhe acabo de transmitir. Esta é a verdade. O jornal O MIRANTE e os seus colaboradores são já hoje uma referência na informação regional e por isso têm o dever de informar com isenção para não desrespeitar os seus leitores, nem os cidadãos que participam com honestidade em causas sociais (desportivas, culturais e políticas) muitas vezes com muito esforço pessoal e familiar. Sabe, é que nem todos ganham rios de dinheiro nestas actividades... Compreenda este desabafo mas não queria “ir para a Sibéria”, sem defender a minha posição e a dos meus companheiros de bancada. Numa democracia, todos temos o direito à defesa, mesmo quando somos pecadores. Reconheço que nesta hora me dava tanto jeito um certo espírito de humor.Com os meus cumprimentos.José Braz - Representante da CDU na AM de Chamusca