uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Politécnico de Tomar tem de continuar a mostrar à região a sua razão de existir

Politécnico de Tomar tem de continuar a mostrar à região a sua razão de existir

Eugénio Pina de Almeida é o único candidato à presidência do IPT e quer consolidar a instituição na região

Eugénio Pina de Almeida é o único candidato à Presidência do Instituto Politécnico de Tomar. A eleição é esta sexta-feira. Assume-se como um continuador da gestão de Pires da Silva, de que já era vice-presidente. Homem reservado, chegou a Tomar aos 11 anos, como aluno interno do Colégio Nun’Álvares. Na cidade casou e reside com a esposa e dois filhos. Formou-se em Geofísica, a que se dedicou desde a licenciatura até ao doutoramento recente. A faceta de gestor começou a ganhar terreno quando rumou a Abrantes para abrir e dirigir a Escola Superior de Tecnologia.

Elsa Ribeiro Gonçalves/João CalhazAssume-se como um candidato de continuidade? Sim, claramente. Com que estado de espírito parte para este mandato?Estou motivado e consciente das dificuldades que possam surgir e dos desafios que se avizinham. Mas sinto que existe capacidade, não só do IPT como também das pessoas, para podermos abraçar este projecto e continuarmos a fazer o nosso trabalho. Quais foram as razões que o levaram a ser candidato?Acredito que o Politécnico de Tomar ainda consegue ser muito melhor do que aquilo que é e quero continuar a trabalhar nesse sentido. Nos últimos quatro anos, durante o mandato do Dr. Pires da Silva, fizemos um esforço muito grande para desenvolver projectos e conseguimos coisas muito boas. Outras não foi possível desenvolver. Quais são as prioridades?A minha prioridade passa por consolidar os projectos em curso. Queremos apostar na qualidade dos cursos que temos, na qualificação do nosso corpo docente e criar mecanismos que tornem os produtos que oferecemos mais atractivos. Nunca perdendo de vista os sinais que a região nos vai transmitindo. Isso passa por uma adequação dos cursos à realidade sócio-económica da região?Sim. Devemos procurar adequar os cursos e criar novas ofertas formativas.A Nersant – Associação Empresarial da Região de Santarém dá-vos “pistas”? Têm contactos regulares?As relações que temos com a Nersant são já de há alguns anos. Temos desenvolvido vários projectos em conjunto. Desde a participação no TagusValley em Abrantes a outros projectos que têm vindo a ser desenvolvidos quer pela Escola Superior de Tecnologia quer pelas outras escolas do Politécnico de Tomar, em termos de formação. Acontece muitas vezes pedirmos a opinião ou um parecer à Nersant, especialmente quando são cursos mais técnicos. Temos como objectivo responder a uma necessidade premente da região e dos empresários e é por isso que recorremos à Nersant.É para isso que também servem os Centros de Estudos Politécnicos?Os Centros de Estudos Politécnicos surgiram mais como resposta às solicitações das autarquias. O primeiro foi o Centro de Estudos Politécnicos de Torres Novas. Na altura, o presidente da câmara, António Rodrigues, tinha uma estratégia de desenvolvimento para o seu concelho e precisava de formação na área das Tecnologias de Informação e Comunicação. O que fizemos foi estabelecer uma parceria e começamos a dar formação não graduada, de nível 4. Entretanto, foram surgindo outras solicitações. Na Golegã, o CESPOGA está mais virado para a área do Turismo Cultural. E, posteriormente, na Sertã mais virado para a Gestão e Floresta. Há possibilidade de abrir, ou descentralizar, uma nova escola em pólos urbanos importantes da região como Torres Novas, Entroncamento ou Ourém?Isso não é fácil. O ministério não está muito receptivo em criar novas unidades orgânicas. Por outro lado, uma unidade orgânica tem custos acrescidos muito elevados, quer do ponto de vista administrativo, quer do ponto de vista orçamental. Com as vias de comunicação que existem não faz sentido estar a criar mais pólos.“A Escola de Abrantes tem uma missão específica”A aposta e o investimento que estão a fazer na construção das novas instalações da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes fazem sentido? A Escola de Abrantes tem uma missão específica no âmbito da estratégia do Politécnico de Tomar. Está a ser vocacionada para as áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação e da Metalomecânica. Por exemplo, estamos a desenvolver um projecto, que já tem cerca de um ano e meio, que consiste na criação de um laboratório de inovação empresarial e industrial com as valências de Metalomecânica de Abrantes e de Electrotecnia em Tomar. Está a correr bem e temos estado a desenvolver vários projectos para empresas da região e de âmbito nacional. Para quando a mudança de instalações?Ainda vai haver um concurso para adjudicação da obra, que está estimada para custar entre 8 a 9 milhões de euros. Não estamos a falar só do edifício da escola como também da cantina, dos laboratórios... Já temos indicação que o financiamento ao projecto vai ser aprovado. É um processo complexo pelo que penso que ainda vai decorrer um ano e meio ou dois anos até começarmos a obra.Qual considera ser o maior desafio à frente dos destinos do IPT?Será talvez ter capacidade para motivar as pessoas e conseguir mantê-las motivadas, a trabalhar com gosto, para podermos levar este projecto por diante. O programa de acção que apresentei só é exequível se estivermos todos no mesmo barco. Quais são os objectivos?Defini três objectivos. Consolidar o papel do IPT como motor de desenvolvimento da região, a partir da oferta formativa, investigação ou parcerias desenvolvidas com as autarquias e outros organismos. Por outro lado, a partir das relações de cooperação com outras instituições de ensino superior, afirmar o IPT no seio das instituições de ensino superior em Portugal. Finalmente, a partir das redes de cooperação que já possuímos com instituições, não só para a mobilidade como em outros projectos, afirmar o Politécnico de Tomar na rede de instituições a nível mundial. Como é que se combate a tendência da diminuição de candidatos ao ensino superior?É um problema das instituições que estão, sobretudo, no interior. O IPT “sofre” por todos os anos ser dos que mete menos alunos na primeira fase, no contingente geral. Isto resulta da forma como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresenta os resultados. É um fenómeno que já tem cinco ou seis anos e ao qual já nos habituamos. Mas quando chegamos a 31 de Dezembro e enviamos os dados estatísticos para o ministério todas as vagas foram preenchidas. Temos conseguido manter os 3600 alunos. Metemos 50 por cento por contingente geral e os restantes 50% por mudança de curso, transferência, reingresso ou Maiores de 23 (M23). O programa M23 é importante para assegurar a sustentabilidade do IPT?Já foi mais importante. Notamos que os candidatos do M23 estão a diminuir. As pessoas talvez pensassem que fosse uma forma fácil de aceder ao ensino superior mas esqueceram-se que a conclusão de uma licenciatura não é assim tão fácil. As pessoas começam a achar que não vale a pena arriscar. Porque trabalham, têm dificuldades em conciliar horários, pagam propinas e têm que fazer deslocações. Têm noção do índice de empregabilidade dos alunos recém-licenciados? Temos um Observatório que está a fazer esse estudo para todos os cursos. Até porque é uma das exigências solicitadas pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Temos que facultar dados estatísticos credíveis sobre a empregabilidade dos nossos alunos, uma vez que os dados do Centro de Emprego não chegam. Temos uma ideia aproximada do que 85% dos nossos alunos estão a fazer. Mas nem todos os cursos apresentam índices de boa empregabilidade.Ponderam encerrar alguns cursos?No próximo ano lectivo há alguns cursos que não vão ter vagas: Administração Pública, Técnicas de Arqueologia, Gestão de Comércio e Serviços, Engenharia Química e Bioquímica e Design e Desenvolvimento de Produtos. O facto de se suspender as vagas não é o mais importante. A questão com a qual nos devemos preocupar é se esses alunos vão ter ou não empregabilidade. Porque senão corremos o risco de estar a defraudar as expectativas dos candidatos. Temos essa responsabilidade moral. Por este motivo, uma das áreas onde pretendemos que os nossos alunos saiam mais fortalecidos é na área do empreendedorismo. Temos um Centro de Incubação de Ideias e Negócios onde procuramos transmitir aos nossos alunos, ainda durante a licenciatura, algumas ideias de como podem criar o seu negócio. Do Colégio Nun’Álvares à presidência do Politécnico de TomarEugénio Pina de Almeida, 43 anos, nasceu em Lisboa e viveu boa parte da sua infância em Moçambique. Tomar, cidade onde reside há muitos anos e onde conheceu a esposa, entrou na sua vida aos 11 anos, quando passou a frequentar o então famoso Colégio Nun’Álvares como aluno interno. Agora, está a dias de se tornar presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), onde entrou como professor assistente em 1996.Licenciado e mestre em Ciências Geofísicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, concluiu no início de Julho o doutoramento em Ciências Geofísicas e da Geoinformação na mesma instituição. Antes havia tirado uma pós-graduação em Direcção Estratégica de Universidades, na Universidade Politécnica da Catalunha. Do seu currículo académico constam ainda colaborações como investigador com várias instituições e projectos.“A Geofísica sempre foi uma área de que gostei. Principalmente a parte da sismologia, da vulcanologia, da meteorologia”, revela quem acabou por seguir a carreira de investigação toda nessa área, da licenciatura ao doutoramento. Eugénio de Almeida diz que não há hipóteses de prever um sismo com cem por cento de certeza. “Tem-se conseguido prever alguns uma ou duas horas antes, mas sistematicamente não há garantias” refere, acrescentando que no Vale do Tejo a zona de maior risco é em Benavente. No país a zona mais crítica é o Algarve.Actualmente considera-se um homem mais dedicado à gestão do que à ciência, a que se dedicou os primeiros 15 anos da carreira. Diz que não tem tempo para hobbies e o pouco tempo livre que lhe resta é para dedicar à esposa e aos dois filhos. Nos últimos tempos teve ainda a carga adicional do doutoramento e da candidatura à presidência do IPT. “Foi muito desgastante”, refere. Ultrapassadas essas duas etapas, quer ir de férias e desligar do quotidiano profissional – coisa que nos últimos 10 anos diz não ter conseguido.Na área da gestão, teve a sua primeira grande experiência aos 33 anos quando foi para Abrantes ajudar a criar a Escola Superior de Tecnologia (ESTA) nessa cidade em Agosto de 1999. Foi director da ESTA até final de 2005, quando assume a vice-presidência do Politécnico de Tomar, tendo como presidente António Pires da Silva de quem se assume um continuador.Eugénio Pina de Almeida é uma pessoa de carácter reservado, pouco dado a protagonismos. “Sempre gostei de trabalhar sossegado. Gosto mais de ver os resultados do que é feito do que aparecer como protagonista”, afirma quem reconhece que as novas funções vão obrigá-lo a uma maior exposição. “Faz parte da profissão”, diz.A ligação a Moçambique foi-se esbatendo com os anos. Mas quando acabou a licenciatura ainda pensou “seriamente” em regressar ao país onde os pais ficaram a viver mesmo após a descolonização. “Agora já não tenho esse saudosismo”, diz. E a Lisboa também só vai quando é para tratar de coisas da vida profissional. Como aconteceria horas depois desta entrevista. “Há espaço suficiente para dois politécnicos no distrito de Santarém”Faz sentido existirem dois institutos politécnicos no distrito de Santarém?Acho que sim, se os dois souberem assumir o seu papel. Costumo dizer aos meus colegas que, se um dia me vierem perguntar porque é que existe o Politécnico de Tomar, quem vai dar essa resposta não sou eu, é a região a quem o Politécnico de Tomar serve. É para isso que trabalho. O distrito de Santarém é muito grande. Acho que há espaço mais do que suficiente para existirem dois politécnicos porque têm áreas complementares, tirando a Gestão. Cada um está a cumprir a sua missão e a servir a sua região. Têm contactos, relações institucionais com o Politécnico de Santarém?Há casos pontuais onde colaboramos. Como aquele que foi liderado pelo Politécnico de Santarém na área da Cultura Avieira em que um departamento nosso colaborou com a Escola Superior de Educação de Santarém e, nessa altura, foi celebrado um protocolo. O que acontece é que estamos mais virados para as áreas das tecnologias enquanto o Politécnico de Santarém tem o seu núcleo mais forte na agrária, na educação, no desporto, na enfermagem… Mas quando temos pontos em comum, colaboramos perfeitamente. Não concorda com a fusão dos dois politécnicos?Não entendo a questão da fusão. A nossa região devia sentir-se satisfeita por ter dois politécnicos que trabalham e respondem ao que a nossa região precisa. O que se ganhava com a fusão? Mais confusão, talvez. Tomar tem sabido tirar partido da existência de um politécnico?O concelho de Tomar tem consciência que o IPT é extremamente importante na economia da região. Não só por isso como pelo conjunto de projectos que desenvolvemos em conjunto com a autarquia e com outros organismos. Temos que mostrar à região para que servimos.Daí a aposta da abertura da Galeria IPT no centro da cidade?Houve uma altura em que sentimos a necessidade de atrair as pessoas e trazer a cidade até ao politécnico para que participassem nos nossos eventos. Mas as pessoas olham para o muro do IPT e pensam que não podem entrar. Resolvemos fazer ao contrário e ir nós até à cidade. Abrimos a Galeria.IPT/Centro de Exposições com uma dupla missão: poder mostrar os trabalhos que os nossos alunos de Artes Plásticas e Fotografia fazem e, deste modo, sentirem a crítica do público pela primeira vez e, por outro lado, para aproximar o IPT da cidade uma vez que também recebe exposições de outros artistas. O que é feito do projecto da Escola Superior de Artes e Conservação e Restauro em Tomar?Esse é um projecto muito antigo do Politécnico de Tomar. Foi uma visão do Prof. Pacheco de Amorim e que o Dr. Pires da Silva, quando assumiu a presidência, incluiu no seu manifesto. Tentou mas, de facto, o ministério não está muito receptivo a abrir mais unidades orgânicas. No meu caso, não incluí no meu programa de acção a implantação de uma Escola Superior de Artes porque considero que é necessário revalidar o projecto. Aquilo que quero é promover um debate, saber se vale a pena continuar a lutar, até porque a fundamentação do projecto vai ter que ser revista. Não excluo a hipótese mas acima de tudo vou promover o debate.Quais é que são os reflexos desta crise no Politécnico de Tomar?Sentimos a crise de duas formas. Uma das maiores fontes de receita são os projectos que desenvolvemos em parceria com as empresas e com as autarquias e que contribuem para consolidar o orçamento da instituição. Perante uma crise há uma retracção e a execução dos projectos acaba por ser adiada. Por outro lado, também sentimos por parte da tutela pouca abertura para, por exemplo, apoiar o desenvolvimento de projectos ou investigação.
Politécnico de Tomar tem de continuar a mostrar à região a sua razão de existir

Mais Notícias

    A carregar...