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O fabricante de velas que não tem alma de emigrante

O fabricante de velas que não tem alma de emigrante

Avelino Sebastião exporta cerca de metade da produção da sua fábrica

Começou a trabalhar em cantarias aos 11 anos como aprendiz e foi emigrante em França mas não aguentou as saudades. A melhor vida passou-a na tropa diz Avelino Sebastião, sócio de uma fábrica de velas em Giesteira, Fátima.

Avelino Sebastião é proprietário da fábrica de ceras e velas “Giesta”, em Giesteira, freguesia de Fátima, Ourém. A sua vida profissional, porém, só tardiamente chegou a esta área, embora ele e o irmão se afirmem como os únicos produtores no concelho. Começou a trabalhar aos 11 anos, por volta de 1964, a trabalhar em cantarias em pedra. “O serviço era duro”, lembra, afirmando que fez apenas a quarta classe e se dedicou quele trabalho, porque “era o que havia na zona”. No seu primeiro emprego, no qual se manteve durante cerca de cinco anos, diz não ter aprendido grande coisa. “Era trabalho duro. Não era emprego que se quisesse”, diz. Para trás ficaram os estudos. “Pensei aqui há uns anos tirar o 9º ano e o 12º ano, mas não tenho tido tempo”. A ideia foi esmorecendo e acabou por desistir.Aos 16 anos, após a morte do pai, decidiu viajar para França, ao encontro dos irmãos. A travessia ilegal da fronteira foi uma autêntica aventura. Três dias de viagem, nos finais de Agosto, pelos descampados, fugindo à polícia fronteiriça. Entre Espanha e França, ele e um colega foram apanhados. “Mas lá conseguimos fugir”, apanhando um comboio até Paris e daí um táxi até à casa do irmão. Só com um endereço, sem saberem falar francês, comenta.Em terras francesas permaneceu cerca de dois anos e meio, trabalhando numa oficina de peças de automóveis. “Não gostei de França”, revela, comentando que o pensamento esteve sempre em Portugal e na vida que aqui levava, apesar da guerra colonial e do risco de embarcar para África. Por isso decidiu voltar. De regresso a casa, foi dar o nome para a tropa. Até ser chamado, esteve cerca de um ano numa fábrica de velas em Mira de Aire, distrito de Leiria. Iniciou o serviço militar em Janeiro de 1974, dando-se o 25 de Abril na mesma altura em que se preparava para integrar a Força Aérea. Nos três anos que se seguiram, afirma ter vivido a melhor experiência profissional da sua vida. “O melhor tempo foi o da tropa, ao contrário do que muitos dizem”. “Tinha lá muitos amigos”, comenta, destacando que ainda ponderou a hipótese de ficar, mas acabou por decidir sair. “Mais tarde vim a arrepender-me”, nota. “Andava à vontade”, conta. Nos dez anos seguintes voltou a trabalhar na fábrica de velas de Mira de Aire, juntamente com o irmão, encarregando-se sobretudo do sector das frutas, que a empresa também possuía. Aí foi fazendo contactos, uma vez que se dedicava mais ao transporte, e adquirindo as ferramentas que lhe viriam a abrir as portas para o seu negócio. Actualmente as coisas são mais complicadas. “Antes bastava a palavra, havia mais respeito, era tudo mais saudável”. Hoje, por vezes há clientes que não pagam, outros que fogem. Cerca de 50 por cento da produção é para exportação, sendo que se têm virado sobretudo para os produtos esotéricos. Na fábrica trabalham nove pessoas, todas da família. “É uma empresa familiar”, refere, notando que existe um bom relacionamento entre todos. Diz que gerir uma fábrica é complicado, são sete dias por semana de trabalho para o proprietário. “Já tenho pensado em fechar e ocupar-me noutra actividade”, comenta. A hipótese é permanecer no mesmo ramo, mas só como armazenista.Este sector, assim como outros, tem sentido muito a concorrência chinesa. Mas, refere, “já foi mais”. Actualmente os clientes já se apercebem que o trabalho barato realizado pela China já não vale tanto a pena e preferem apostar no seu produto.
O fabricante de velas que não tem alma de emigrante

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