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Elegia para um retrato de turma em Outubro de 1961

Elegia para um retrato de turma em Outubro de 1961

A Escola Técnica de Vila Franca de Xira estava sempre em obras. O professor chamava-se talvez Eurico. Desapareceu mas não se podia falar no assunto porque, diziam, «quem falar vai para a ilha do sumiço». Da primeira fila recordo com nitidez três figuras: o Mário Tui, um rapaz que era do CASI e o Zé António que passava o tempo a falar de Roterdão onde se ganhava bom dinheiro e o trabalho era simples – pôr carimbos nas sacas de café. Na segunda fila o primeiro morto, o Rosa, Sei que fomos de comboio para Alhandra e depois a pé para o cemitério de São João dos Montes. Levei um fato de Verão e apanhei muito frio. Depois está o Manuel Moreira, o Eliziário, o Zé Afonso, o Modesto e o Abreu. Na terceira fila está o Félix, o Zé Bolota, o Vidaúl e o Picanço. Ao todo 27 alunos e um professor, são passados quase 50 anos e não me lembro do nome de todos os rostos. Há outras memórias: os pais do Zé António tinham um café, o Rosa morreu, o pai do Modesto tinha um conjunto musical, o Vidaúl vinha de Povos e disse uma vez na aula de Trabalhos Manuais «prefiro ser castigado a denunciar um colega». O Manuel Moreira sabia uma quadra: «Vila Franca, rosa branca / diz a canção popular / tens uma escola velhinha / onde eu ando a estudar». O José Afonso era de A-dos-Loucos. A mãe do Zé Bolota vendia na praça e era muito simpática. Um polícia novo multou o cigano em 80$50 mas foi por engano; era nosso vizinho. O meu pai guardava a camioneta ao lado das carroças da Câmara, o porteiro era o Tio Pecas, pai do Mário Coelho, grande artista da Festa Brava. O nosso jornal chamava-se Velas do Tejo. Ainda lá estará na parede? Quem se lembra?José do Carmo Francisco
Elegia para um retrato de turma em Outubro de 1961

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