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Maria Reis foi convocada para a Selecção Nacional de Futebol de Onze

“Tive a oportunidade de conviver com jogadoras de grande qualidade, foi uma grande alegria”

Chegaram a chamá-la de “maria-rapaz” por preferir “dar chutos na bola” a brincar com bonecas ou ficar na conversa com as colegas da escola. Aos 15 anos, Maria Reis, natural de Ourém, foi chamada a um estágio da selecção nacional feminina de futebol sub-19. Morena da praia e boa de conversa, revela ter consciência de que o futuro de uma mulher não tem segurança no desporto. A prioridade, por isso, é o caminho para a universidade, mantendo a esperança de que haverá sempre espaço e tempo para “a bola”.

A jogar no Clube Atlético Ouriense, e com apenas 15 anos, Maria Reis é o número 17, defesa esquerdo. Apesar da idade, que vários notam ser o seu maior problema enquanto atleta, conseguiu um lugar na equipa sénior feminina, único escalão do género no clube. Por isso com 12 anos, ao pedir aos pais para que a inscrevessem na instituição, Maria Reis teve que ir jogar com os rapazes. “Desde pequena que deixei as bonequinhas de lado e pegava numa bola, gostava de andar com ela de um lado para o outro”, recorda. Nos Infantis B, teve primeiro que se confrontar com o facto de que os rapazes não lhe queriam passar a bola, alguns com “medo” de a magoarem. Com o tempo começaram a interagir, nasceram amizades, e, então como ponta de lança, “até marcava bastantes golos”. Após um ano parada, entra para a equipa sénior feminina aos 14 anos. Pouco tempo depois é convocada para treinos da selecção distrital de sub-17, tendo representado o distrito. Estava no Algarve, este Verão, quando lhe ligaram a informar que havia sido convocada para um estágio de quatro dias, em Rio Maior, na selecção de sub-19, e foi a maior explosão de alegria. “Aprendi práticas de jogo, evolui a minha maneira de jogar, tive a oportunidade de conviver com jogadoras de grande qualidade”, destaca, elogiando o trabalho da seleccionadora, Mónica Jorge. Ao lado de jogadoras de 18 e 19 anos, algumas com internacionalizações, Maria Reis foi a mais nova. Visivelmente surpreendida e orgulhosa, destaca que “já é muito bom com esta idade ter sido chamada para os sub-19, quer dizer que estão atentos ao meu trabalho e que vou continuar a evoluir, para que para o ano esteja lá outra vez”. Da experiência ficou apenas o estágio, mas Maria Reis afirma-se “contente” pela oportunidade. A universidade no futuro“Agora na escola já não jogo à bola”. Se houve um tempo em que o recreio era para jogar futebol com os rapazes, hoje Maria Reis preocupa-se “em primeiro lugar em tirar o meu curso, ter a vida segura, e só praticar futebol em part-time”. “Tenho dois treinos por semana, tenho que gerir o meu tempo”. Mas “se tiver que abdicar de um treino, terei que abdicar porque em primeiro lugar estará a escola”.A estudar ciências e tecnologias na Escola Secundária de Ourém, Maria Reis comenta que ainda não sabe bem que curso irá escolher daqui a dois anos. Talvez Farmácia, ou algo relacionado com Desporto. “Há pessoas que dizem que, como tenho jeito, devo ir para desporto; outras pessoas dizem que não, que a vida não está só no desporto e que tem que se ter outra segurança, para tirar primeiro o curso”. São muitas as dúvidas e a própria afirma que ainda não sabe o que vai fazer. Futebol a tempo inteiro é um sonho posto de lado, “pois sei que não iria ter os apoios suficientes”. “Imagina que alguma coisa corre mal, ia ficar sem fazer nada o resto da vida? Com um rapaz era mais seguro, como rapariga acho que não”. Rapariga na bolaO ídolo é o jogador argentino Leonel Messi e as equipas de sonho o 1º de Dezembro e o Real Madrid. Os pais é que nem sempre apoiaram com o mesmo entusiasmo esta sua paixão pelo desporto.“Quando era mais pequena, não iam muito à bola para isso”, refere. “Rapariga...diziam sempre «rapariga não tem futuro no bola, mais vale não ir para esse caminho»”, recorda. “Quando andava nos rapazes pensavam que daqui a dois anos já não ligava nada a isto”. Hoje nota que a apoiam “muito mais”. Mas o futebol feminino, no geral, “é mais complicado”, pois é colocado de lado face ao futebol masculino. “Gostava que tivesse mais importância”, comenta, pois existiriam mais apoios e mais oportunidades. Assim, a curto prazo o objectivo é mesmo “ter a média que eu quero para entrar no curso que eu quiser”. No futuro, o ideal é “ter um emprego bom e conseguir jogar à bola ao mesmo tempo”.

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