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Francisco Constâncio é um dos últimos habitantes de Glória do Ribatejo que ainda faz da carroça o seu principal meio de transporte

Francisco Constâncio é um dos últimos habitantes de Glória do Ribatejo que ainda faz da carroça o seu principal meio de transporte

Museu de Glória do Ribatejo inaugura exposição sobre carroças no sábado, 21 de Agosto

A égua Estrelinha segue a passo pela estrada fora em direcção à horta do seu dono a quem todos chamam “Chico Raiado”. Sentado na carroça o agricultor garante que ela só se assusta com os camiões.

Francisco Constâncio, 76 anos, puxa a carroça para o centro do amplo quintal de sua casa. De seguida vai buscar a Estrelinha, uma égua castanha que pertence à família há vários anos e que deve o seu nome a uma pequena mancha branca em formato de estrela no centro da cabeça. Segue-se o processo de atrelagem. A coelheira é colocada no pescoço do animal de modo a ficar preso à carroça. As correias apertadas à medida da barriga e as rédeas presas na carroça e no focinho do equino fazem parte do ritual diário do reformado.“Chico Raiado”, nome pelo qual Francisco Constâncio é tratado pelos que o conhecem há muito tempo, é um dos oito habitantes de Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos, que ainda possui carroça e a utiliza diariamente. A Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural da Glória do Ribatejo inaugura sábado, 21 de Agosto, a exposição intitulada “As últimas carroças” que vai estar patente no museu da vila até Junho de 2011. Os responsáveis da Associação recolheram elementos ligados à utilização de carroças e fotografias antigas de pessoas que faziam das carroças o seu principal meio de transporte, recordações de outros tempos num tempo em que ainda continua a haver carroças no activo. O antigo agricultor apoia a perna numa das rodas e, com destreza, sobe para a carroça e senta-se numa almofada que torna o assento de madeira mais macio. Durante os dez minutos que demora a viagem de carroça entre a sua casa e a horta é a Estrelinha que escolhe a velocidade a que quer seguir. Vai a passo. Nas calmas. Francisco Constâncio não a apressa. Segura nas rédeas e o sol bate-lhe na face tisnada. Fala da sua vida e de quando começou a trabalhar. Quando quer que a égua ande mais depressa ou devagar garante que não lhe bate. “Basta falar com ela e dar um jeitinho nas rédeas que ela obedece. É muito obediente”, revela.O reformado está habituado a conduzir a carroça pelas estradas alcatroadas e cruzar-se com automóveis e motas. “A Estrelinha só tem mais receio quando os camiões passam por ela, de resto gosta de sair todos os dias”, conta a O MIRANTE. Chico Raiado que nunca teve automóvel. “Quando preciso sair da terra vou de táxi ou autocarro”, diz. “Só tenho carta de condução para tractores”.Antigamente, quando trabalhava no campo, antes de comprar a primeira carroça, possuía uma junta de vacas e ia com elas para longe. A localidade de Fajarda, no concelho de Coruche, era um dos locais onde trabalhava. Levantava-se às cinco da manhã e demorava mais de três horas a chegar ao local de trabalho. Com a carroça não é muito mais rápido, mas o facto de ir sentado torna as viagens menos cansativas.Francisco Constâncio já perdeu a conta ao número de carroças que já teve, mas garante que tem esta há mais de uma década. As rodas de madeira que se usavam antigamente foram substituídas por pneus. “Agora tenho uma carroça mais sofisticada”, brinca. Como qualquer veículo necessita de manutenção. “Quando os pneus rebentam tenho que ir à oficina para remendar”, esclarece.Em relação à égua Estrelinha conta que não gasta dinheiro com a sua “manutenção”. Tudo o que o equino come vem da horta que possui perto de casa, onde cultiva tomates, feijão verde, couves, batatas, produz vinho, entre outras coisas. Tudo caseiro, garante. E para provar a veracidade do que diz oferece-nos um saco de tomates acabados de colher.“Queremos mostrar aos mais novos como era a vida na nossa freguesia há 50 anos”A Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural da Glória do Ribatejo foi criada há 24 anos. Segundo o presidente da Associação, Roberto Caneira, o seu objectivo é a recolha, estudo e divulgação do património cultural da localidade ribatejana. A direcção é composta por nove elementos. Todos os anos organizam uma exposição temática. Temas como o vinho, pão, guerra colonial e bordados a ponto cruz já estiveram em exposição no Museu da Glória do Ribatejo.Os elementos da associação fazem a recolha do material a expor. Para a exposição “As últimas carroças” foram tiradas fotografias com os proprietários dos veículos e respectivos animais. De acordo com o levantamento efectuado existem, actualmente, oito carroças a serem utilizadas na Glória do Ribatejo. “Estamos a assistir ao fim de um ciclo uma vez que as carroças estão a ser substituídas pelos tractores. Queremos mostrar aos mais novos como era a vida na nossa freguesia há 50 anos atrás”, explica Roberto Caneira.
Francisco Constâncio é um dos últimos habitantes de Glória do Ribatejo que ainda faz da carroça o seu principal meio de transporte

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