Lobo Antunes diz que foi enganado pelo vice-presidente da Entidade de Turismo
Escritor faltou a encontro em Tomar porque não gostou do aproveitamento político
Lobo Antunes já ia a meio caminho em direcção a Tomar quando decidiu regressar a Lisboa. O escritor faltou ao encontro de sábado não por ter medo das ameaças de militares mas porque não gostou do aproveitamento gerado à volta da sua visita à cidade templária, uma iniciativa da Entidade Regional do Turismo.
Ana Santiago O escritor António Lobo Antunes diz que é mentira a justificação apresentada pelo vice-presidente da Entidade Regional do Turismo, Manuel Faria, para a sua ausência numa iniciativa que estava marcada para a noite de sábado, 21 de Agosto, no Café Paraíso, em Tomar. O autor, que se sente enganado, assegura que nunca faltaria a um encontro com os leitores por medo do confronto físico, tal como foi divulgado pela organização, que revelou que Lobo Antunes decidiu não comparecer por razões de segurança tendo em conta a notícia de que um grupo de militares na reforma ameaçava partir para a violência por causa de declarações do escritor sobre os ex-combatentes. “O escritor sentiu-se defraudado porque foi convidado para participar numa sessão de autógrafos em Tomar e vê-se confrontado com a promoção turística à volta da sua visita dizendo que iria ficar numa suite”, explica a O MIRANTE Rui Breda, o director de comunicação das Publicações Dom Quixote, editora do autor, esperando que outras oportunidades surjam para que o escritor possa regressar a uma cidade “pela qual tem um grande carinho”. O autor de “Memória de Elefante” e “Cus de Judas” saiu de Lisboa na sexta-feira, com a intenção de passar um fim-de-semana em Tomar, tal como estava divulgado pela organização, mas decidiu voltar atrás a meio do caminho depois de ler num jornal uma notícia que ligava a sua visita a intuitos turísticos.O MIRANTE apurou ainda que António Lobo Antunes também não gostou de ver a sua participação no evento associada ao apelo que fez o Presidente da República Cavaco Silva para que os portugueses fizessem férias no país, informação que acabou por ser passada aos órgãos de comunicação pela organização. Da mesma forma que mandou corrigir a informação de que teria frequentado o Café Paraíso e jogado bilhar no local no tempo em que cumpriu o serviço militar na cidade. O escritor José Ribeiro, amigo de Lobo Antunes e membro da Academia Pedro Hispano, que o autor também integra, foi chamado para falar do escritor durante a conversa e garantiu publicamente que a confirmação estava feita, mostrando-se magoado com a atitude do autor.O evento de sábado, amplamente divulgado, com cartazes espalhados por toda a cidade, não foi cancelado e à hora marcada os convidados chegaram mesmo a ser distribuídos pela mesa enchendo o café, no centro histórico da cidade. Só quando o vice-presidente executivo do Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, Manuel Faria, usou da palavra é que informou que o escritor não iria estar presente para espanto do público. Alguns optaram por abandonar a sala logo no início, mas alguns permaneceram no espaço para ouvir excertos de textos do autor. Em plena sessão Manuel Faria justificou a decisão do escritor, de não comparecer à iniciativa, com a notícia publicada nesse mesmo dia pelo Expresso (fotocopiada e distribuída aos participantes). A polémica baseia-se em extractos de uma grande entrevista com João Céu e Silva que motivaram agora ameaças de agressão física a Lobo Antunes por parte de militares reformados. Na entrevista Lobo Antunes fala do número de baixas mortais no seu batalhão na guerra colonial em África e da forma como os soldados tentavam transferir-se para zonas de combate mais calmas. Os militares reformados querem processar o escritor e negam as referidas baixas em combate e o referido método de transferência dos soldados para zonas de guerra mais calmas. Lobo Antunes já veio a público garantir que nunca pretendeu ofender as Forças Armadas portuguesas, das quais fez parte, lembrando que os seus avôs materno e paterno foram militares.No Café Paraíso esteve montada uma venda de livros do autor. A iniciativa resultou de uma parceria conjunta da Galeria Templários – Welcome Center do Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, do município de Tomar, do Hotel dos Templários e do Café Paraíso.Vereador da Cultura de Tomar chama “cobardolas” a Lobo Antunes O vereador com os pelouros da Cultura e Turismo da Câmara de Tomar, Luís Ferreira (PS), diz que o escritor António Lobo Antunes é “pedante, convencido e armado ao pingarelho”. Essas e outras considerações estão patentes na página do autarca na rede social Facebook e surgem como comentários à ausência do autor de uma tertúlia agendada para a noite de sábado na cidade (ver texto nesta página).No diálogo com vários interlocutores, Luís Ferreira, que tem os pelouros da Protecção Civil, diz que “o ambiente de Tomar ganhou pela ausência de tal senhor” e explica porquê: “É que no mesmo espaço já estaria a necessária concentração de pedantice e convencimento, se é que me entendem”.Depois de considerar Lobo Antunes uma “peça” que “se acha uma vedeta”, Luís Ferreira escreve que “Tomar não precisa destes tristes espectáculos nem de má publicidade”. E aponta também críticas à Entidade Regional de Turismo: “Quem o convidou devia ter mais cuidado com quem convida porque este tipo de gente – que se acha de outro mundo – acaba sempre por deixar ficar mal onde vai”.E acrescenta, em mais um comentário tendo o escritor como alvo: “O homem (…) é um cobardolas que com base numa abjecta ameaça se foi logo esconder, decerto em casa de família, como é bom tom nestes casos. Se queria segurança solicitava-a. Não colocava Tomar nas bocas do mundo por uma ‘miudeza’ dessas”.
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