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O fiscal de limpeza que adora o que faz

Fernando Silva trabalha na Câmara de Ourém onde começou como motorista do presidente

O seu grande desafio é a cidade de Fátima. “É o altar do mundo, é a imagem do concelho. Fátima não pode estar suja e isso preocupa-me muito”, afirma.

Fernando Silva, 48 anos, é fiscal de higiene e limpeza no município de Ourém. Funcionário de referência, recebeu este ano uma medalha pelos 25 anos ao serviço da Câmara de Ourém. Diz adorar a sua profissão, ainda que seja sempre visto como o “chato”, que zela constantemente pela higiene do concelho. A limpeza de Fátima, nos dias das grandes peregrinações, é o seu maior desafio. “Na área da limpeza urbana é o que me dá mais prazer, pelo equipamento que envolve, pela luta. Ver tudo sujo à noite e de madrugada tudo limpinho... É o que gostaria de ver todos os dias, mas é muito dispendioso”. Os estudos de Fernando Silva ficaram pelo 11º ano e apesar de já ter tentado terminar o ensino secundário, acabou por desistir. “Andava um pouco perdido, porque as dificuldades eram muitas. Como praticava muito desporto, sobretudo judo e râguebi, optei por ir para o serviço militar”. Na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, conheceu “gente muito boa”, “educadores”, tendo trazido um louvor. Em 1984, com 23 anos, concorreu a uma vaga de motorista do então presidente da Câmara de Ourém, António Teixeira. Nesse tempo, recorda, o autarca, que não gostava de conduzir, dava todos os dias a volta ao concelho. “Os tempos eram diferentes, as pessoas não eram tão exigentes”. Apesar de comentar que o trabalho era um tanto aborrecido, conheceu muita gente e teve a oportunidade de transportar até ao Castelo de Ourém o então Presidente da República, Ramalho Eanes, aquando da inauguração da estátua de D. Nuno Álvares Pereira.Ao fim de três anos mudou de departamento, tornando-se leitor e cobrador de consumos de água. “Era monótono, não me dava gozo”, mas conheceu o concelho todo e chegou a tratar quase todas as pessoas pelo nome. “Havia zonas em que era quase só eu, o carteiro e o homem da luz que por ali passávamos e conversávamos com as pessoas. Era o único gozo do trabalho”.Só em 1998 Fernando Silva tornou a mudar de departamento, desta vez fazendo o levantamento das habitações do município que não tinham água ao domicílio. “Comecei a envolver-me na questão dos resíduos, contactei com a Valorlis. Sempre gostei muito de questões ambientais e tive sempre contacto com a Quercus. Fui conhecendo pessoas que me ajudaram muito. Começaram a passar por aqui muitos estagiários e aprendi muito com eles”.Em 2000 faz um curso de fiscal do ambiente e começa a exercer essas funções no concelho, realizando todo o tipo de formações que pudessem interessar à sua área. “Sou viciado nestas questões de ambiente, na área dos resíduos e da limpeza urbana, e tento sempre que a minha cidade e concelho estejam limpos. Para mim foi um orgulho ter tido em Ourém o Eco-Escolas. Devemos dar valor a estas coisas”. Reconhece que a sua formação é “toda de tarimba” e que aprendeu imenso com todos os estagiários, de diferentes áreas, que foram passando pela Câmara de Ourém. Compete-lhe a “fiscalização da empresa que faz a recolha dos resíduos (SUMA), a supervisão da limpeza no concelho, das recolhas, dos despejos clandestinos e dos processos que chegam à autarquia”. Uma função que é também pedagógica, alertando as pessoas para os caminhos a seguir, “onde deixar certos resíduos”. O seu grande desafio é a cidade de Fátima. “É o altar do mundo, é a cidade que passa para o exterior. É a imagem do concelho. Fátima não pode estar suja e isso preocupa-me muito”, afirma. Ao mesmo tempo, “adoro o que faço e a limpeza urbana é o que me dá mais pica. Entregar a cidade de Fátima limpa às 07h00”, nos dias das grandes peregrinações.Muito mudou desde 1998 em termos de limpeza e recolha de resíduos. “Da parte do município houve um esforço enormíssimo”, mas mesmo as pessoas hoje estão mais sensibilizadas para estas questões. Frustra-o, por isso, “não conseguir mudar as mentalidades” e continuar a verificar situações de despejos ilegais. “Nunca pensei em mudar de profissão, só para a reforma e nem sei se lá chego. Adoro o que faço”. Fernando Silva começa o seu dia de trabalho pelas 06h00 e sai do edifício municipal pelas 18h00. Por gosto e por dedicação e exigência ao seu serviço. “Já me disseram que o trabalho para mim não é trabalho”, refere rindo, notando que muitas vezes a família fica em segundo plano.Lembra uma má experiência em que mexendo num caixote do lixo se picou com uma seringa e teve que se submeter a diversos exames. O lado bom do seu ofício “é o reconhecimento do nosso trabalho”, diz.

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