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As implicações dos mega-agrupamentos de escolas

Os presidentes de quatro dos novos mega-agrupamentos de escolas da região falam sobre as implicações da junção dos vários agrupamentos num só. Teodoro Roque do Mega-Agrupamento Dr. Vasco Moniz de Vila Franca de Xira, Vítor Barreto, do mega-agrupamento Dr. Ginestal Machado de Santarém, Frederico Nunes, do Mega-Agrupamento de Alcanena e Maria Celeste Sousa, do Mega-Agrupamento de Santa Maria do Olival em Tomar, dão a sua opinião que pode ser vista em vídeo em www.omirante.pt.

Maria Celeste Sousa, Directora Mega-Agrupamento de Santa Maria do Olival – Tomar“Relação de proximidade com a comunidade escolar vaiperder-se”Defendo que os actuais agrupamentos devem continuar como estão, até para se conseguir fazer uma avaliação. Só depois devemos avançar para as modificações propostas. Acho que agora seria precipitado dividir os três agrupamentos que existem para os aglomerar a duas Escolas Secundárias: a de Santa Maria do Olival e a Jácome Ratton. Não consigo entender os benefícios desta medida, nem mesmo em termos financeiros. O que encontro é, de facto, muitos aspectos negativos. Por exemplo, uma directora ou director que possa vir a liderar um mega-agrupamento vai exercer, sobretudo, uma liderança burocrática. Não vai ter capacidade para abarcar os 3 ou 4 mil alunos que estão em escolas muito dispersas, entre jardins-de-infância, escolas do primeiro ciclo, dos segundos e terceiros ciclos e secundárias. Outro problema é a comunicação. Construímos as coisas com pessoas e, por isso, a relação de proximidade, sobretudo com os alunos, é fundamental. Na nossa escola temos 815 alunos. Eu entro às oito da manhã e saio às oito da noite porque privilegiamos a tal relação de proximidade. Não percebo como isso vai ser possível com agrupamentos dessa dimensão, que também penalizam as relações da escola com a família. É fundamental que os pais identifiquem a cara da organização. É o director que tem que receber os pais, falar com eles e explicar-lhes algumas coisas, sejam de carácter pedagógico ou de carácter disciplinar. Essa relação de proximidade vai perder-se completamente com os mega-agrupamentos. O director ou este “super director” vai ser um burocrata e isso vai, inevitavelmente, ter prejuízos muito graves nas escolas que, na minha opinião, são das organizações que mais trabalham para a construção de um futuro melhor da sociedade. Se nos tiram as condições e se insistem em prosseguir com esta irresponsabilidade de amontoar alunos e tornar tudo mais distante vamos ter prejuízos muito graves ao nível da educação. Afinal, ainda são as escolas que seguram os valores e lutam para que as coisas sejam feitas com equilíbrio.Frederico NunesDirector Mega-Agrupamento de Alcanena“Ter três unidades a competir entre si não fazia muito sentido”Em Alcanena a implementação desta medida, juntou 1800 alunos pelo que não considero, propriamente, que este novo agrupamento tenha a dimensão de um mega-agrupamento. Na minha opinião, está dentro dos limites normais de funcionamento e aceito que juntar os dois agrupamentos que existiam e a escola secundária, seja a melhor solução para o concelho. A vantagem reside no facto de ao invés de termos três unidades pequenas passamos a ter uma maior. Digo isto porque, face à previsão demográfica, o número de alunos não vai aumentar pelo que ter, em Alcanena, ter três unidades a competir entre si era algo que não fazia muito sentido. A questão que considero inaceitável foi o “timing” que nos deram para desenrolar o processo. Os três directores foram convocados, não para darem a sua opinião, mas para serem informados que tinham duas semanas para dizer se formavam uma comissão ou se esta teria que ser nomeada para que o novo mega-agrupamento começasse a funcionar, com todas as implicações inerentes, a 1 de Agosto. Isto não se faz e é mesmo uma violência. Penso que somos muito bons a improvisar mas muito maus a planear. Há ainda a questão ética, porque esta escola e os dois agrupamentos que existiam tinham elegido uma nova direcção há apenas um ano. Essa eleição era para quatro anos e, de repente, ao fim de um ano aparece isto. Julgo que isto tem que ser feito de uma maneira menos improvisada e mais planeada. Com a criação deste mega-agrupamento, penso que não tem havido grandes repercussões em termos educativos, embora existam alterações ao nível dos docentes e de alguns serviços administrativos que funcionavam e vão ser extintos, o que levanta sempre algumas crispações. Passamos também a ser muitos: 1800 alunos e mais de duzentos professores. Não é fácil, a nível da mentalidade, entrarmos neste novo paradigma todos felizes e contentes. Mesmo assim, em Alcanena as questões que se levantam não têm sido muito graves e temos conseguido resolvê-las através do diálogo. Vítor BarretoPresidente do mega-agrupamento Dr. Ginestal Machado, Santarém“Uma grande reestruturação organizativa”A criação destes novos agrupamentos verticais que vão desde o pré-escolar ao secundário, neste momento, implica uma grande reestruturação organizativa. Em pouco tempo temos que reorganizar toda a estrutura das escolas. No caso do Mega Agrupamento de Escolas Dr. Ginestal Machado, a reestruturação aconteceu durante o período de férias das pessoas e tem sido algo complicado tentar reorganizar e encontrar todos os elementos da organização neste agrupamento. Estas são as principais implicações a curto prazo. A médio e a longo prazo é lógico que, estando reestruturado todo este sistema, vamos encontrar algumas vantagens e também dificuldades. Se pensarmos em termos teóricos existem vantagens. Estamos a falar de economias de escala uma vez que estamos a aumentar a escala de intervenção, mas como sabemos todas as economias de escalas têm problemas e, em determinado momento, podemos ter problemas de economia.Este agrupamento tem 2100 alunos, tem mais de 200 professores e tem quase uma centena de funcionários. É complicado, em pouco tempo, reorganizar um mega agrupamento. A longo prazo podemos encontrar algumas vantagens. Não são já evidentes, mas vamos tentar que não impliquem os alunos nesse processo. Até ao terceiro ciclo podem existir vantagens uma vez que existe uma continuidade dos alunos desde que iniciam o percurso escolar. Encontramos uma linha de orientação para os alunos. Quando entramos no secundário é que começa o problema. As escolhas dos alunos implicariam que o agrupamento lhes fornecesse todas as possibilidades de escolha, o que não é o caso. É quase impossível que uma escola secundária, num agrupamento, ofereça todas as vias possíveis para os alunos completarem o seu percurso. Para os alunos pode haver vantagens em termos dos recursos e da mesma linha de conduta da organização, do mesmo projecto educativo, mas não é muito fácil depois a escolha para o secundário uma vez que o secundário tem muitas vias que o agrupamento não oferece.Teodoro Roque Presidente do Mega-Agrupamento Dr. Vasco Moniz -Vila Franca de XiraPassamos a fazer um trabalho mais próximoEste reordenamento da rede escolar vai obrigar a um trabalho mais próximo e também pretendemos que venha a ser mais consistente. Este agrupamento, com a integração da escola secundária no agrupamento de escolas Dr. Vasco Moniz, passa a ter um projecto educativo que vai permitir a formação dos jovens desde o pré-escolar ao ensino secundário. Considero que, deste modo, passamos todos nós, profissionais da educação, a fazer um trabalho mais próximo, onde a articulação entre os diferentes níveis de ensino vai ser estratégico e determinante para um trabalho que queremos que seja de melhor qualidade. Quanto a ser “mega” já existem constituídos no concelho de Vila Franca de Xira agrupamentos com muito maior número de alunos. Não somos um agrupamento nessas condições mas passamos a ser um agrupamento com quase dois mil alunos. Os estudantes que fazem parte deste agrupamento de algum modo irão continuar como até aqui, nas escolas que sempre frequentaram. O que eu quero é que se produza um trabalho de maior proximidade e simultaneamente que se cause a menor perturbação possível. O que os alunos vão ter é a possibilidade de saber que dentro das escolas do agrupamento vão poder iniciar e concluir o ensino secundário. Na sua vida diária penso que não vão haver alterações uma vez que já dei orientações no sentido dos alunos que estão na escola Vasco Moniz continuarem a tratar lá dos seus assuntos, porque naturalmente este nível de ensino obriga a um relacionamento com os encarregados de educação e com os professores. Nas restantes escolas do primeiro ciclo e jardim-de-infância naturalmente que tudo se mantém.

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