Um monárquico nas comemorações da República em Vila Franca de Xira
David Silva vê no rei um símbolo moral e familiar, mas considera-se acima de tudo um patriota
No dia em que se comemorava o centenário da República em Vila Franca de Xira O MIRANTE encontrou um monárquico nas ruas. David Silva tem especial carinho pela figura do rei, mas considera-se patriótico acima de tudo. “Considerando as desigualdades sociais hoje não estamos muito diferentes dos tempos que se viviam no fim da monarquia em Portugal”, opina.
“Está de luto?”, perguntavam os amigos brincando com o fato escuro que vestiu na terça-feira, 5 de Outubro, dia da cerimónia que assinalou o centenário da República em Vila Franca de Xira. “Tenho uma bandeira monárquica, mas hoje tirei-a por respeito”, revela David Silva, responsável pela área cultural da Junta de Freguesia de Vila Franca Xira, que se considera monárquico, mas patriota acima de tudo. Tem 31 anos, é licenciado em Estudos Portugueses e especialista em heráldica. “Estou aqui por motivos profissionais, mas também para congratular os republicanos nesta sua data tão especial”, confessava quando questionado sobre o porquê de celebrar o evento. Diz, orgulhosamente, sentir um carinho especial pela monarquia. Vê na figura do rei um símbolo moral e familiar que não consegue encontrar num presidente da República. Na sua opinião um chefe de estado republicano passa uma imagem partidária.David Silva defende que, nos dias que correm, o regime monárquico é economicamente mais eficiente que o republicano. A Casa Real Espanhola, exemplifica, tem um bom sistema de gestão e gasta menos que a Casa Civil da Presidência da República. Não entram nestas contas os valores desperdiçados em campanhas políticas.“Qualquer um de nós poderia ser rei. Somos todos, afinal, descendentes de D. Afonso Henriques”, responde quando se pergunta se D. Duarte seria uma alternativa a Cavaco Silva. Mesmo quando Portugal era monárquico já se denotava o sentimento republicano com o Direito Visigodo que influenciava na escolha dos reis já que eram as cortes, fortemente ligadas ao povo, que escolhiam o sucessor. “Vila Franca foi o segundo local a aclamar a República porque não compactuava com um rei que já não conseguia manter um papel de primazia do estado. Considerando as desigualdades sociais hoje não estamos muito diferentes dos tempos que se viviam no fim da monarquia em Portugal”, atesta.O povo, para David Silva, foi o maior herói da monarquia e da História de Portugal. A actuação dos populares foi fulcral em movimentos tão importantes como o aclamar de D. Afonso Henriques como o primeiro rei, o movimento Maria da Fonte, que colocou os políticos e monarcas “na ordem” e o próprio 5 de Outubro, que teria sido um insucesso se o povo não tivesse participado. Apesar da força do povo lusitano David Silva lamenta que, no momento de ir às urnas, este já não tenha a mesma força de outrora. “Existem democratas, socialistas e até comunistas no PPM [Partido Popular Monárquico] ”, atesta o monárquico, não filiado, salvaguardando que o papel daquela força não é a intervenção política de governação, mas a possibilidade dos cidadãos poderem vir a optar entre os regimes, visto que a Constituição de 1911 não permite a opção de escolha entre um rei ou um presidente.O que escreveram os jornais de então “Na manhã do dia 5 sairam d’aqui varios indivíduos e entre elles alguns membros da Commissão Parochial em direcção a Lisboa, em automóvel e bicycleta, que, possuidos d’uma alegria communicativa e esfuziante, regressavam às 11 horas e poucos minutos [ao Campo 5 de Outubro], gritando a plenos pulmões: Está implantada a Republica! Viva a Republica Portuguesa!»”. Escrevia assim sobre Vila Franca de Xira o Jornal “O Pensamento”, na edição do dia 13 de Outubro de 1910. “É impossível descrever o enthusiasmo que neste momento se apoderou de todos. Milhares de pessoas correm para os Paços dos Concelho, cuja porta foi aberta pelo presidente da camara, o energico republicano sr. Dias da Silva, e, quando ainda vibrava a ultima palavra da proclamação oficial em Lisboa, proclamava-se a Republica em Villa Franca. Eram 11 horas e um quarto da manhã. Depois de Lisboa foi Villa Franca a primeira terra a proclamar oficialmente o novo regime… Houve abraços e lágrimas de intima alegria”.
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