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“A poesia é a essência de toda a literatura”

“A poesia é a essência de toda a literatura”

Eduardo Lourenço nos “Encontros e Desencontros” com o Neo-Realismo

Se a essência da literatura é a poesia então a obra neo-realista deixa um legado de peso. Rótulos à parte, no que toca as correntes literárias, ficam as memórias dos grandes poetas e permanecem as grandes poesias. Como a de Mário Dionísio.

“A poesia é a essência de toda a literatura”. A frase de Eduardo Lourenço ecoou no auditório do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, na noite de sábado, 23 de Outubro, que encheu para ouvir o professor no âmbito da iniciativa “Encontros e Desencontros com o Neo-Realismo” que foi ao mesmo tempo uma oração de sapiência sobre História.“Porque a poesia é sempre aquilo que é mais elevado, mais alto, aquilo que o Homem projecta, vértice incandescente da vida”, frisou o ensaísta e crítico literário licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra, natural de S. Pedro do Rio Seco, Almeida, 87 anos.“Isso é válido para todos os poetas do Neo-Realismo”, disse Eduardo Lourenço, que na sua obra de análise poética do movimento não abordou o poeta da Póvoa de Santa Iria, Arquimedes da Silva Santos, por fixar o seu estudo numa fase anterior. Lamentou igualmente não ter incluído na análise a referência a Mário Dionísio, que actualmente considera um dos grandes do movimento e um poeta de grande complexidade. “Foi gente que não deixou escapou, nem podia escapar, de um lado existencialista sem o qual a grande poesia não funciona”, salientou.O Neo-Realismo foi na opinião de Eduardo Lourenço, uma espécie de golpe bastante preciso que aconteceu sobretudo no Alentejo e Ribatejo e que ajudou a dar voz a gente do campo que sentia que não tinha estatuto, realidade que está bem patente nos livros sobre os avieiros e gaibéus muito marcada pela angústia.“As primeiras criações do Neo-Realismo em prosa são uma reinvenção de um homem que não tinha estatuto literário”, analisou Eduardo Lourenço lembrando que o Neo-Realismo foi o discurso cultural que teve uma componente de resistência e fez oposição à ditadura. Manuel da Fonseca, Joaquim Namorado, Carlos de Oliveira foram outros poetas do Novo Cancioneiro publicados nos anos 40 do século passado. E para provar que, rótulos à parte, mais do que poesia neo-realista há sobretudo grande poesia citou a Mário Dionísio: “Quando eu continuar na minha marcha eterna, / direito no caixão, sereno e branco, / tu ficarás sozinha. / E talvez só então entendas claramente / que, além de ti, eu era a única pessoa”.Museu do Neo-Realismo recebeu 55 mil visitantes em três anosO Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, que assinalou na última semana o terceiro aniversário, já recebeu um total de 55 mil visitantes desde a abertura ao público.Desde 20 de Outubro 2007, data da inauguração, que foram realizadas 30 exposições, o que representa uma média de 10 exposições por ano, contabilizou o director do Museu do Neo-realismo, David Santos, no sábado à noite, antes de apresentar o convidado de mais uma sessão “Encontros e desencontros com o Neo-Realismo”, professor Eduardo Lourenço (ver texto nesta página). O espaço cultural recebeu ainda mais de uma centena de sessões de auditório. Na tarde de quinta-feira, 21 de Outubro, o aniversário do museu foi também assinalado com um concerto do pianista Samuel Lercher.
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