uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Super-contribuinte Serafim das Neves

Super-contribuinte Serafim das Neves

O presidente da Câmara de Torres Novas já começou a atacar o desperdício. Cada faixa a anunciar uma festa de aldeia passa a pagar à volta de 500 euros de taxa. Quem não tem dinheiro não tem vícios, diz o povo com razão. E nada de lamúrias que o tempo é de oportunidades. Noutra qualquer altura as taxas não seriam actualizadas para não enfurecer os eleitores. Agora já não faz mal. Ninguém liga a ninharias. É para a desgraça, é para a desgraça!!!Eu já deixei de me importar com a crise. Como e bebo do melhor enquanto posso e gasto à tripa forra. O subsídio de Natal já lá vai. Se o Governo mo quiser sacar já não vai a tempo. Os do cartão Visa chegaram primeiro. Levaram-me o subsídio e os ordenados dos próximos cinco anos. Está tudo apanhado. Empobreço alegremente como é da tradição nacional. E eu sempre fui um tradicionalista.Se queres que te diga já nada me importa. Quero lá saber dos políticos e dos orçamentos!!! Vejo os políticos engalfinhados na televisão e rio-me à gargalhada. Oiço o presidente falar das dificuldades e rio-me também. Quem me faz rir mais que todos é o presidente da Câmara de Santarém. Um verdadeiro mestre do entretenimento. Um rei da comédia. Não há outro melhor para anestesiar o povo. E nós bem precisamos de uma anestesia geral. Bilhetes para corridas de touros a um euro, vê lá tu. Quem é que pode ser contra as touradas com bilhetes a este preço? Tu sabes quanto custavam os bilhetes para os U2?E nem é preciso ir tão longe. No dia das touradas a um euro esteve cá o Júlio Pereira a cinco euros. No Júlio Pereira estavam cem pessoas. Na tourada à mesma hora estavam uns milhares, incluindo o Moita Flores e eu próprio. Eu que até nem gosto muito de touradas mas que adoro bandolins e cavaquinhos, troquei a música por umas boas cornadas e ferros curtos cravados à ilharga. À gastronomia é que eu não fui. Só lá vou depois de o Moita Flores tomar conta daquilo. Entradas a um euro com direito a uma sandes de coirato e uma imperial. Isso sim, era um Festival de Gastronomia. Nada daquelas merdas que servem por lá. Se é para enfardar é para enfardar. E não há nada melhor para vencer uma grave crise do que uma bela sandocha e coirato a escorrer gordura e sal. Esta crise está a animar-me à grande. Os presidentes de câmara choram, porque não lhes dão dinheiro para fazer mais museus, jardins e praças desérticas com bancos onde ninguém se consegue sentar sem deslocar meia dúzia de vértebras. Uma alegria para qualquer contribuinte, esta penúria a que os estão a reduzir. E ainda nem chegou o tal FMI.Ando eufórico de todo. Estou como aqueles adeptos de futebol que quando a sua equipa está a jogar mal e a levar três a zero, começam a puxar pelo adversário para ver se o seu clube leva sete ou oito. Nós somos um povo assim. Somos dados ao descontrolo total. No meio do caos é que nos conseguimos organizar. A disciplina oprime-nos, limita-nos, cria-nos constrangimentos inultrapassáveis ao nível da imaginação. A fartura faz-nos burros. A miséria dá-nos asas. Um dia destes saímos à rua para tomarmos a nossa Bastilha. Da última vez libertámos os presos políticos de Caxias. Agora podemos libertar o povo do Júlio de Matos. Alinhas???!!!Saudações despauteradasManuel Serra d’Aire
Super-contribuinte Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...