A menina alentejana falhou uma carreira nos aviões mas foi trabalhar para os comboios
Maria José Rosado Santos, nasceu em Alter do Chão, mas escolheu Alverca para viver
Nasceu no Alentejo, mas escolheu Alverca para viver. Maria José Rosado Santos foi trabalhar para a CP e apaixonou-se pelos comboios. Passou a vida a viajar sobre carris. Diz a brincar que tem uma filha aldeã e outra suburbana, que levava todos os dias para o infantário da empresa na capital. Não troca as composições pelo apertado espaço de um carro. Mesmo quando tem compras para fazer.
Em pequena, a menina alentejana de Alter do Chão, sonhava com viagens regulares a Paris. Quando a oportunidade de candidatar-se a um lugar de hospedeira de bordo surgiu e ficou apurada no primeiro lugar sentiu-se a voar. E só voltou abruptamente ao chão quando o pai, militar rígido, proibiu a única filha de partir em voos demasiado modernos para a época. Maria José Rosado Santos, 62 anos, filha adoptiva de Alverca, acabou por encontrar nos caminhos-de-ferro a oportunidade de emprego. Aos 20 anos, com o quinto ano do liceu concluído, rumou à capital. Não estudar foi uma espécie de pequena vingança. Ficou em casa de familiares, mas depressa alugou um quarto e alcançou a independência. Trabalhou em Lisboa, Santa Apolónia, das 10h00 às 17h30. Depois Alcântara e Avenida da República e, mais tarde, seria transferida para o Porto. Regressou depois a Lisboa. Desde cedo estudou em colégios internos. A experiência foi dura, mas foi útil. Contactou com meninos e meninas de várias classes. Aprendeu, desaprendeu, cresceu. O pai, já falecido, por quem tem uma grande admiração apesar de tudo, trabalhava na coudelaria de Alter do Chão como contabilista. A mãe, doméstica, vive hoje com a filha. Teve um irmão, mas faleceu aos três anos.Maria José Rosado Santos, actualmente divorciada, descobriu Alverca mais tarde, aos 26 anos, pouco antes de casar, e foi na cidade, na avenida Capitão Meleças, que encontrou a casa dos seus sonhos depois de ter corrido Lisboa e arredores. Não conhecia a cidade, mas deixou-se encantar pela casa.Teve uma primeira filha que com um mês de idade, altura em que teria que começar a frequentar o infantário da CP, rumou ao Alentejo e ficou aos cuidados dos avós. Os pais iam ver a menina todos os fins-de-semana. A mais nova já foi criada em ambiente citadino. A mãe levava-a todos os dias de comboio para Lisboa e frequentava o infantário da CP, mesmo ao lado do serviço. “Costumava dizer a brincar que tinha uma filha aldeã e outra suburbana”.A empresa estava bem preparada para ter mulheres trabalhadoras. Tinha supermercado, farmácia, colónias de férias para os filhos dos trabalhadores e parques de campismo. A filha mais velha passou a frequentar o Cebi em Alverca. Não foi fácil conciliar os horários. Levanta-se às 5h30 para se deitar todos os dias por volta da meia-noite. Foi administrativa e depois de chegar ao topo da carreira passou para a área comercial, a sua paixão. Fazia contratos de transporte com os clientes. “Costumo dizer que vendia comboios”.Está reformada há seis anos. É secretária da mesa da Assembleia de Freguesia de Alverca, eleita pelo PSD, e foi até Julho último a presidente do Rotary Clube de Vila Franca de Xira (ver texto nesta edição). O comboio continua a ser o seu meio de transporte privilegiado: para viajar até ao Porto, almoçar na Invicta e de regresso fazer uma paragem por Coimbra. Há alturas em que chega a ir até ao Algarve. A ex-funcionária da CP tem livre trânsito nos comboios e sem pagar pode dar uma volta cá dentro. Nos comboios mais especiais só tem que reservar lugar.Mas não é apenas a questão económica. Gosta verdadeiramente de andar sobre carris. “No comboio nós passeamos. Andamos para trás e para a frente. No carro e autocarro vamos ali amalgamados”. Até para ir às compras utiliza o comboio. “Saio na estação do Oriente entro no hipermercado, faço as compras e a empresa vem trazer-me os sacos a casa. Se me fizer falta alguma coisa levo na altura”, explica, numa conversa amena de café num centro comercial da cidade onde reside. “Em Alverca os carros ficam em cima dos passeios e os peões é que andam na estrada”Eleita do PSD na Assembleia de Freguesia de Alverca tem uma visão crítica da cidadeQuando fala de Alverca para onde vai o seu olhar crítico?Para tudo. Alverca não tem nada de jeito. As ruas estão sujas e os passeios mal arranjados. Os carros é que ficam em cima do passeio e os peões têm que andar na estrada. Pontos de encontro e espaços comerciais de qualidade não existem. É uma cidade velha, uma cidade feia.A maioria na junta de freguesia já deveria ter feito algo para mudar?Haverá interesse em mudar? Essa é a pergunta que se impõe… Alverca sofre também com a suburbanidade. Ou isso não é desculpa?Não é desculpa, mas é verdade que sofre. Mas exactamente por ser suburbana deveria estar um pouco melhor. Afinal está muito perto da capital.E se algum dia ocupasse o cargo de presidente de junta?Não tenho essa ambição. Não sou muito dada à guerra política. Eu e o meu ex-marido éramos do PSD. Ele era político ferrenho em Lisboa. Depois reformei-me, fui convidada para participar numa iniciativa por outro elemento do PSD e acabei como eleita na junta. Também faço parte da concelhia de Vila Franca, mas não gosto dos jogos políticos. Gosto de trabalhar, isso sim.Que opinião tem do presidente de junta de Alverca?Negativa. Acho que podia fazer mais trabalho na freguesia.É uma cidade onde continua a construir-se…Faz-me tanta confusão! Tanta casa que não está alugada e vendida porquê fazer mais?O PSD já levantou a questão?Não só eu como tantas outras pessoas. Não percebo porque é que existe tanto betão.João de Carvalho [vereador da Coligação Novo Rumo] daria um bom presidente de câmara?Gosto muito do João de Carvalho. Já o conheço há muitos anos. Não sei se o João de Carvalho tem perfil de político - provavelmente até tem - mas vejo-o como um graçolas. Nós olhamos para o João de Carvalho e lembramo-nos do alentejano dos Malucos do Riso.
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