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José Eduardo Carvalho vai deixar de ser o rosto da Associação Empresarial ao fim de década e meia de liderança

José Eduardo Carvalho vai deixar de ser o rosto da Associação Empresarial ao fim de década e meia de liderança

Na hora da despedida avisa que a região já deveria estar a trabalhar com a Estremadura espanhola para os fundos estruturais de 2013

O segredo do sucesso da Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém, assenta, segundo José Eduardo Carvalho, numa super-união dos seus dirigentes e numa estratégia inovadora que não passa apenas por dar formação e organizar feiras e seminários mas por intervir em tudo o que tenha a ver com o desenvolvimento da região.

Está há 15 anos à frente da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant e no final de mais um mandato. Vai recandidatar-se? O meu tempo como presidente da Nersant chegou ao fim. Não me irei recandidatar. Esgotou-se?Não, de maneira nenhuma. A minha decisão não tem a ver com falta de ideias, de projectos ou de motivação. Mas quando ocupamos cargos destes também temos que saber sair. Eu saio agora. Sem qualquer tipo de emoção ou pena. Na última semana de Janeiro ou na primeira de Fevereiro vai haver eleições e será eleito outro presidente.Qual é o seu legado?Deixo uma Associação Empresarial com 1400 associados; com um activo líquido de 15,6 milhões de euros; com um património invejável e com um volume de proveitos que este ano vai ultrapassar os 3 milhões de euros. A conjugação dos associados, do activo, do património e valor dos proveitos, transforma esta associação na terceira associação empresarial do país. E tem condições para continuar a acrescentar valor e a crescer. O volume de projectos aprovados nesta altura e que o próximo presidente vai trabalhar é de 15 milhões de euros. Isto dá alguma solidez.Fica completamente afastado?Não irei integrar nenhum órgão social.Está na Direcção da AIP (Associação Industrial Portuguesa). Candidatar-se à presidência dessa Associação é uma possibilidade? Eu tenho o bichinho do associativismo e considero que tenho perfil para esta actividade mas essa é uma possibilidade muito remota. De momento não está nos meus horizontes.Há um ano falava-se na vice-presidente da Nersant, Salomé Rafael, como sua substituta. Mantém-se essa possibilidade?A direcção da Nersant está a estudar o modelo da transição. Quem sai deve ter um papel no processo de transição. Não queremos que as coisas venham a correr mal no futuro. Há necessidade de reflectir. Conforme o modelo escolhe-se a pessoa com melhor perfil.O que é preciso para ser presidente da Nersant?Muita coisa, mas fundamentalmente é preciso disponibilidade e motivação. E isso nunca me faltou. E foi gratificante. Mas este trabalho não foi só meu. Foi feito por um grupo coeso de pessoas e de uma forma muito empenhada. Isso tem que continuar. Nunca tivemos rupturas e passaram pela direcção cerca de 40 pessoas. Nunca houve uma demissão. Nunca foi posta em causa uma decisão tomada. Isso foi fundamental. Quando se perde tempo a dirimir conflitos não se está a trabalhar e acrescentar valor às instituições. Vai manter-se essa filosofia?Provavelmente o modelo de uma direcção muito centrada no seu presidente e muito personalizada não fará sentido nesta fase. Talvez seja mais aconselhável haver uma direcção mais participada. Um núcleo duro de pessoas que se apoiem.Os núcleos da Nersant continuam a fazer sentido?Há coisas na Associação que correm muito bem e há outras que correm menos bem. A pessoa que me virá substituir tem que ter o bom senso e inteligência para manter o que corre bem e alterar e modificar, de forma prudente, as coisas que não são tão eficazes. Em relação aos núcleos temos que ser sinceros e aceitar que não se conseguiu o envolvimento e desenvolvimento que se esperaria pudessem trazer à Associação. A responsabilidade por esta situação pode não ser só dos núcleos. Pode ser também da sede. O peso que a sede tem pode ter acabado por asfixiar os núcleos. É algo que merece uma reflexão. Vai haver alguma alteração a nível da estrutura da NERSANT?Foi aprovada pela direcção a criação de uma SGPS - Sociedade Gestora de Participações Sociais, detida a 100% pela Nersant. Essa SGPS vai deter as participações todas que a Associação Empresarial tem nas empresas, que são dezoito. Qual a função da SGPS?Não só gerir essas participações que a Nersant tem nas empresas como também alavancar outro tipo de projectos e dinamizar esta área de negócios. É possível que entre na mini-produção de energia e que esteja presente nas próximas privatizações das águas, por exemplo. É possível também que esteja presente a dinamizar fundos de desenvolvimento urbano - fundos imobiliários. A área de negócios da Nersant fica só num sítio.Porquê só agora?Efectivamente já deveria ter sido há muito mais tempo mas não houve disponibilidade. Termos estado fora dos parques eólicos e fora das privatizações das águas que já ocorreram no distrito, tanto em Santarém como no Cartaxo foi mau porque essas situações criam negócio às empresas associadas. Dão-lhes possibilidades. A SGPS vai fazer isso. O património da Nersant também passa para a SGPS ou para uma Fundação como foi feito noutras associações empresariais? Não. Apenas as participações nas empresas. Achámos mais prudente dada a situação que se vive a nível do movimento associativo. Não sabemos como vai evoluir este processo da congregação das associações. É previsível que algumas associações regionais acabem ou se transformem em delegações. Sem o património, a força que temos perder-se-ia. Precisamos de activos. Seja como for a Nersant não se vai extinguir. Integra a confederação mas mantém a sua personalidade jurídica. Isso já está decidido. E como já expliquei vai ser dona, a cem por cento, da SGPS. Imagina como teria sido a sua vida se não tivesse estado estes anos todos na Nersant?Não sei. Não imagino o que se teria passado se não tivesse aceite o convite que há 15 anos me foi feito pelo José Eduardo Marçal a quem nesta altura de despedida tenho que agradecer. É uma pessoa a quem o Nersant deve muito. Deveria ser muito difícil numa altura como aquela, andar à procura de sítios, mobilizar pessoas, etc...normalmente quem arranca com os projectos tem, de facto um grande valor. Quanto a mim e voltando à pergunta, ganhei numas coisas e perdi noutras. Provavelmente ganhei mais do que perdi.A coesão directiva de que falou foi o único segredo do sucesso da Nersant? Definimos à partida que a associação não poderia ter apenas a matriz tradicional. Fazer formação, seminários e uma feiras, como outros fizeram. Definimos também que não poderia ser apenas representativa dos interesses das empresas. Tinha que ter um papel interveniente no desenvolvimento regional. É neste modelo que assenta o sucesso, bem como num grupo de bons colaboradores, entre os quais destaco o Engº António Campos que foi director-geral durante 13 anos. Nunca tivemos uma ruptura e mantivemos uma relação de grande lealdade e eu tenho que realçar isso.Os recursos humanos são muitas vezes a parte mais frágil das organizações.Na Nersant sempre tivemos muito cuidado a esse nível. Uma associação pequena que tem pouco pessoal ao qual não pode pagar grandes salários tem que dar muita atenção ao recrutamento. Não pode haver muita rotatividade de pessoal porque isso é prejudicial à organização. Nem sempre é fácil escolher os melhores.Ninguém entra na Nersant por tráfico de influências como acontece em algumas instituições deste género. Nem o filho, nem o primo de fulano ou sicrano. Nem entra ninguém porque temos necessidade de um projecto aprovado e temos que fazer um favor. Fazemos o recrutamento com base num perfil psicológico definido, que é avaliado depois em termos psicotécnicos. Também temos um coeficiente de inteligência abaixo do qual ninguém é escolhido. O candidato tem que ter esse coeficiente de inteligência, as capacidades necessárias para o trabalho que vai desenvolver e o perfil que foi definido à partida. A vida política activa é uma possibilidade para si? Política não. De certeza absoluta. É o que tenho mais certo na vida.“Já devíamos estar a trabalhar com a Estremadura espanhola para a captação dos próximos fundos estruturais”Que desafios vai enfrentar o seu sucessor? Fala-se numa reforma a nível dos fundos estruturais. A partir de 2013 só deverá haver dinheiro comunitário para grandes projectos transnacionais. No Norte já estão a trabalhar numa grande região que integra as regiões espanholas de Castela e Leão. E aqui?Nós neste momento só temos uma solução que é começar desde já a trabalhar com a Estremadura Espanhola. Isto já deveria estar a ser feito. Mas vê alguém preocupado com este problema?As preocupações do momento são outras.É verdade que temos que viver as dificuldades do tempo presente mas ao mesmo tempo temos que pensar no futuro. Temos que discutir, reflectir. Temos que nos reorganizar. É impensável continuarmos com a divisão desta sub-região em duas CCDR (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional).É impensável?Colocar uma parte da região na CCDR Centro e outra na CCDR Alentejo foi a única forma de conseguir os recursos financeiros que, neste momento, a região tem para investir. Mas agora é altura de repensar as coisas. O futuro presidente da Nersant vai ter que estar nisto e, provavelmente, liderar o processo.Porquê? No distrito de Santarém deveria haver uma associação de municípios e há duas; deveria haver um Politécnico e há dois; deveria haver um hospital e há uma série deles...Mas não há duas associações empresariais. Não há mas tivemos que lutar por isso.Houve tentativas de criar uma outra?Houve, houve...mas isso já lá vai. Foram fomentadas por alguns presidentes de câmara.Os projectos iniciados por um presidente de câmara não têm continuidade com o que lhe segueQual é a situação das empresas da região? O distrito sofre dos problemas que sofre o país. Não somos uma ilha nem temos quaisquer indicadores nesse sentido. No entanto houve poucos encerramentos de empresas com relevância económica e social, ao contrário do que aconteceu noutros distritos. Mas as pequenas, médias e micro empresas têm sentido bastante os efeitos da crise.Sim, a outro nível e dimensão, as empresas que estavam pior preparadas sofreram logo no início da crise as consequências deste desajustamento estrutural. Outras que estavam razoavelmente consolidadas estão agora a ter dificuldades e limitam-se a garantir a sua sobrevivência. Há dificuldades brutais que nos levam a crer que vai haver um agravamento das taxas de insolvência no próximo ano. É difícil voltar tudo para a exportação. Tudo o que está dependente do mercado interno vai ter problemas e eles vão ser agravados com as restrições de acesso ao crédito. Como é que isto se resolve?A nível do país há que reduzir a despesa pública e aumentar o crescimento. Só que o aumento do crescimento não se faz com aumento de impostos mas com a sua diminuição. O grande ciclo vicioso em que nos encontramos é o seguinte. Não há partido nenhum que chegue ao poder anunciando uma política rigorosa de decréscimo da despesa pública, porque há seis milhões de pessoas que vivem do Orçamento Geral do Estado. Quem está no poder não tem capacidade de implementar o que tem que ser implementado.É uma visão pessimista.É a realidade. A aposta da Nersant nos Parques de Negócios só tem face visível em Rio Maior. Não é uma frustração para si?Não tem só face visível em Rio Maior. Temos 16,1 milhões de euros de apport accionista 6,1 M€; temos 22,3 milhões de investimento efectuado pelas sociedades gestoras e temos 44,9 milhões de euros de investimento induzido com 17 empresas instaladas ou em instalação e 643 postos de trabalho criados.Como se explica que Santarém não tenha um único terreno disponível para instalação de empresas? A situação também se resolve com jogging ou a receita é outra? Em Santarém o Parque de Negócios começou com um projecto que era liderado e dinamizado pelo presidente José Miguel Noras. Estas situações têm um risco. Quando mudam os presidentes de Câmara, os que entram não consideram os projectos como seus mesmo que os achem importantes. Não lhes dão aquela prioridade que dariam se fossem lançados por eles. Mas isto é em todo o lado. E nem sequer é preciso haver mudança da cor política. Eu não tenho dúvidas que se tivesse havido continuidade o Parque já estaria feito. Mas vai acabar por fazer-se porque é realmente importante.Há quem defenda a redução do salário mínimo nacional e a redução dos salários em geral, no sector privado. Concorda?Não sou apologista disso. Os sectores devem pagar aquilo que podem. Os que podem devem pagar. Os que não podem, não podem. A questão dos salários tem que ser vista do ponto de vista sectorial. Estar a uniformizar sem olhar as diferentes realidades não faz sentido. Os empresários da região estão à altura da situação que se vive?O universo empresarial tem os mesmos problemas de todos os outros sectores. Mas neste momento, nenhum sector de actividade, em função da importância que tem para o país, corre tantos riscos como alguém que se proponha criar uma empresa. Se um indivíduo se mete nos negócios e falha, tem um problema diabólico. E o mercado é implacável.Não concorda que respondam com o seu património particular? Aqui há tempos assisti a levarem as mobílias dos quartos dos dois filhos menores de um empresário. Há países onde se defende que haja, pelo menos durante este período mais agudo da crise, uma salvaguarda dos bens patrimoniais dos empresários, desde que não se comprove o dolo nem a insolvência fraudulenta. Eu acho que era importante a aplicação desta medida em Portugal. Os governantes respeitam as Associações Empresariais?De um modo geral respeitam mas neste momento o ministro da Economia, por exemplo, dá mais atenção ao Secretário-Geral da CGTP do que dá a qualquer dirigente de uma grande Associação Empresarial.
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