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Quando os alunos adiantavam o relógio para sair mais cedo das aulas

Exposição “A Escola do meu tempo” mostra objectos escolares antigos em Alverca

A escola do tempo do Estado Novo pode ser revisitada no Núcleo Museológico de Alverca, concelho de Vila Franca de Xira. A mostra de objectos escolares usados por professores e alunos no século XX foi feita com a colaboração da comunidade.

No tempo em que Arnaldo Ramos, hoje com 62 anos, era menino de escola os rapazes aproveitavam a altura em que o professor adormecia para adiantar o relógio. “Quando ele acordava via as horas e mandáva-nos embora. Mais tarde apercebia-se da situação e no dia seguinte aborrecia-se”, conta com humor o reformado das oficinas da OGMA em Alverca. As tropelias dos então meninos e meninas não ficavam por aí. Isabel Mota, 55 anos, foi aluna da professora Alice Pedro e recorda hoje com um sorriso o dia em que as meninas entornaram uma jarro de água na secretária da professora estragando os desenhos feitos em folhas especiais que iriam ser enviados ao Papa no âmbito de um projecto nacional. “A senhora na altura estava noiva e quando pontualmente Raul Pedro lá aparecia ficámos fora de nós. A professora ficou muito triste quando os trabalhos se estragaram e foi chorar lá para fora”.A figura da professora marcou para sempre o seu percurso de Isabel Mota. “A seguir à minha mãe é a figura feminina mais importante da minha vida. Tive a sorte de ter a melhor professora do mundo”, confessa.A exposição “A escola do meu tempo”, mostra de objectos escolares usados por professores e alunos no século XX, foi inaugurada na tarde de sexta-feira, 19 de Novembro, no Núcleo Museoológico de Alverca.A chefe da divisão de património e museus da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Graça Nunes, explica que a exposição, feita com base na recolha junto da comunidade local, está em construção. “A exposição vai mudar todos os meses. Sempre que tivermos objectos novos vamos expô-los. Vamos tentar que seja dinâmica. A nossa exposição não encerra”, reforça Anabela Ferreira, anfitriã da exposição apareceu de bata branca e régua em riste.A primeira escola de Alverca funcionou no edifício da casa da câmara até 1920. “Conseguimos chegar às cartas dos professores na altura a reclamar sobre as condições da escola”, revela Anabela Ferreira.“Meninos acabou o recreio. Pode subir para a sala de aula”, disse a brincar tocando uma campaínha. Lá, em cima, no primeiro andar, onde se encontra-se a exposição sobre escola do Estado Novo, há uma composição para fazer. “É a composição sobre «A escola do meu tempo». Podem ser cinco ou dez linhas. Queremos registar as memórias que têm dessa experiência”, apelou.A professora Alice Pedro reconhece o quadro e a secretária semelhantes aos que a ocuparam durante 36 anos de serviço, 17 dos quais passados em Alverca. A pobreza era uma realidade, mas só teve um aluno descalço. Foi em Arcena. “Houve um dia que um rapazinho chegou à escola muito choroso porque se tinha magoado numa pedra no dedo do pé. Desinfectei e fui eu que tratei o dedo”.Em Alverca uma turma de alunos ofereceram um dia um cadeirão nova à professora com um coração recortado. Antes disso, para tornar mais confortável a cadeira sem fundo atribuída à professora numa escola improvisada, os meninos foram buscar duas tábuas à obra de prédios onde colocaram uma almofada. “Nunca levei nada da escola, mas aquele cadeirão achei que me tinham dado a mim”, diz com os olhos a brilhar a professora que chegou a usar a régua, mas guardou sempre a um canto a célebre palmatória ou a menina de cinco olhos.

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