uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
De empregado da taberna a dono da mais antiga drogaria de Vila Franca de Xira

De empregado da taberna a dono da mais antiga drogaria de Vila Franca de Xira

Vítor Manuel Félix é uma figura conhecida e querida da cidade ribatejana

O mundo do trabalho chegou cedo à vida de Vítor Félix. Nasceu numa família humilde durante o Estado Novo. Gostava de ter sido professor mas não teve meios para estudar. Foi empregado numa taberna a ganhar 20 escudos por mês e hoje é o dono da drogaria mais antiga de Vila Franca de Xira.

A drogaria de Vítor Manuel Félix é uma das mais antigas lojas da cidade de Vila Franca de Xira e uma das poucas que ainda vai aguentando o negócio. O reconhecimento é feito um pouco por toda a cidade. Aos 71 anos Vítor Félix é uma figura conhecida e querida da cidade ribatejana. Mas o homem que hoje fala a O MIRANTE atrás de um balcão de madeira cheio de sulcos tem outra história de vida, onde nem tudo foram rosas. Nasceu em 1939, durante a ditadura do Estado Novo, no Casal do Evaristo, concelho de Alenquer. Estudou até à quarta classe na escola do Areal mas como o dinheiro escasseava Vítor teve de se fazer à vida.“Éramos gente humilde, passavam-se muitas dificuldades. Eu tinha uma irmã que já morava em Vila Franca de Xira, um cunhado que foi empregado do “Zé Barbeiro” e sempre tive um bichinho por Vila Franca. Assim que tive oportunidade vim para cá”, relata.Tinha 12 anos quando arranjou o seu primeiro emprego, a servir vinho e comida numa tasca da cidade. O patrão dava-lhe mesa e roupa para compensar o escasso salário mensal de 20 escudos. “O meu primeiro emprego foi numa tasca, onde se fazia leitões assados. Ao fim-de-semana vinha muita gente a Vila Franca ao mercado e cheguei a assar uns três leitões numa manhã. Aquilo vendia-se tudo antes do almoço. Eu abria às seis e muitas vezes começava logo a servir o mata-bicho, o bagaço, o copo de vinho. Eram tempos muito diferentes”, refere. O balcão de pedra é o traço decorativo de que melhor se lembra.“Vila Franca naquele tempo era uma grande vila, pelos touros, pelo ambiente, pelas pessoas. Alenquer era quase uma aldeia comparada com Vila Franca. Quando eu ia passar férias à aldeia encontrava-me com os amigos e levava sempre novidades aqui da cidade, como o jogo das caricas. Naquela altura Alenquer ficava longe e o acesso era feito por estradas más. Naquele tempo Vila Franca era uma coisa extraordinária”, confessa o homem que viu os primeiros dias da ponte Marechal Carmona. Foi o rio Tejo que fez Vítor Félix vir para Vila Franca de Xira e, mais tarde, desistir do trabalho na taberna. Adora pesca e ainda hoje faz parte do Clube Amadores de Pesca de Vila Franca de Xira. “Não conseguia ter um domingo livre para ir pescar, tive de pensar noutro trabalho”, recorda. Aos 14 anos conseguiu trabalho numa drogaria que existia há um bom par de décadas, na rua Almirante Cândido dos Reis. “Trabalhei com o João Godinho Alves, um senhor extraordinário, um grande mestre, aprendi muito. Mais tarde ele acabou por trespassar a drogaria e eu, juntamente com o meu actual sócio (Fernando Ernesto), comprámos isto e aqui estamos juntos desde a formação da sociedade, em 1970”, conta.Vítor Félix garante que não fica triste por ser uma das poucas drogarias da cidade que vão resistindo, embora num suspiro prolongado à medida que as grandes superfícies vão atraindo os novos públicos. “Não fico triste, nesse aspecto sinto-me orgulhoso porque tivemos uma boa profissão, ainda gostamos de receber um cliente e falar um pouco, trocar ideias. Fazemos o que não se faz nas grandes superfícies”, defende.“Mas estamos numa grande crise e numa decadência profunda. Estou certo que drogarias do meu género não vão longe. Não temos quem dê continuidade a isto”, lamenta. No ar flutua um cheiro típico das drogarias, resultante do acumular de várias matérias-primas e produtos que esperam por ser misturados ou embalados. “Gostava de ter sido professor mas não tive oportunidade. Gosto muito de ensinar, é algo que me dá muito prazer. Até no CAP de Vila Franca cheguei a ensinar muitos miúdos a pescar”, conclui com um sorriso.
De empregado da taberna a dono da mais antiga drogaria de Vila Franca de Xira

Mais Notícias

    A carregar...