Vítor Silva
Empresário, 64 anos, Alhandra
Vítor Silva, 64 anos, é o rosto do grupo Moquil, em Alhandra. É casado e tem três filhos. Dá aos netos aquilo que a agitada vida empresarial de outros tempos não lhe permitiu oferecer aos filhos. A natação, o ginásio e as caminhadas ocupam os tempos livres do empresário. A leitura e as viagens são outras paixões.
Sou leão. Nasci a 31 de Julho de 1946. Cresci em Alhandra. É aqui que vivo há 64 anos. Tive uma infância normal e feliz. Jogávamos à bola. Havia uma certa rivalidade entre três ou quatro bairros. No Verão frequentávamos a piscina. A minha mãe tinha uma loja de modas. O meu pai foi durante muitos anos madeireiro. Comprava pinhais e eucaliptais e depois transformava e abastecia as serrações de madeira e muitas fábricas de celulose. Chumbei no quinto ano e o meu pai internou-me num colégio. Como não havia vagas no colégio em Tomar fui para o Instituto Vaz Serra, em Cernache do Bonjardim. A experiência não foi muito agradável. Só vinha a casa nas férias. Permitiu-me ter uma certa camaradagem, mas também me ensinou a ter regras.Um dia saí do colégio. Fui até Tomar com um amigo. Custava-me estar ali ao fim-de-semana. Era uma terra de poucas atracções. A história é rocambolesca. Perdemos a camioneta ou gastámos o dinheiro e tivemos que nos pôr à boleia de regresso. Foi o próprio director do colégio que nos deu boleia e consequentemente o castigo. Durante dois fins-de-semana proibiram-nos de sair e ficámos com horas suplementares de estudo. Cheguei a pensar estudar engenharia, mas acabei por tirar gestão de empresas.Se tens que comer tens que trabalhar. Era o que me dizia o meu pai. Habituou-me a trabalhar desde pequeno. Às vezes até ficava um bocado sentido porque via que os amigos tinham as férias todas e eu só tinha bocados. O meu pai aproveitava-me sempre para trabalhar no escritório. Chegou a ter uma estância de madeiras e eu tanto estava ao balcão como pegava na carrinha para ir buscar materiais. A experiência criou-me hábitos de trabalho. Consegui escapar por um triz ao Ultramar. Fiquei classificado a meio da tabela. Era-se mobilizado pelas notas. A especialidade também ajudou: transportes rodoviários. Por todas as razões louvo o 25 de Abril porque permitiu que não fosse à guerra do Ultramar. O meu pai deixou-me a firma com bom nome e um empregado. Mais tarde cheguei a ter 500 colaboradores. Na década de 80 tinha um grupo de empresas e mais de 50 viaturas. A minha área sempre foi a construção e os materiais de construção. Hoje tenho dez colaboradores. Tenho clientes do Norte ao Algarve, mas as vendas têm registado uma quebra.Cheguei a fazer sete mil quilómetros por mês. Ia todas as semanas ao Porto. Agora viajo menos. Só quando é preciso. Estou quase na idade de reforma e tento proteger-me. Dou aos netos o tempo que não tive para os filhos. Tenho pena de não ter tido a disponibilidade que os meus filhos mereciam. Acompanhei, mas não tão perto como gostaria. Raramente os ia levar à escola. Hoje já vou muitas vezes levar a minha netinha à escola. Tive a sorte de ter uma mulher que foi quase mãe e pai dos filhos. Tenho orgulho na minha família. Piscina e ginásio. É o que faço quando fico no apartamento que tenho num condomínio na Ericeira. Sempre que o tempo o permite faço a minha caminhada diária de 40 minutos em Alhandra ou Vila Franca de Xira. Gosto de ler. Tudo o que está ligado à parte económica. Também gosto dos autores tradicionais, como Ernest Hemingway ou José Saramago.Gosto de viajar. Faço sempre uma viagem de 10 ou 15 dias no Verão. Este ano passei pela primeira vez a passagem de ano fora, na Corunha. Fiz umas mini-férias de três dias. A minha mulher já está reformada e tem mais disponibilidade. Nunca fui pessoa de dividir tarefas domésticas. Ultimamente tenho ajudado mais, reconheço que tarde, mas a disponibilidade é maior. A avó gosta muito de ter os netos em casa e eu procuro ajudar naquilo que posso. Cozinhar, pouco ou nada sei. Se não tivesse alguém lá em casa para tratar da cozinha seria sempre uma dificuldade.Nada se faz sem trabalho. Agora mais do que nunca. Felizmente os meus pais proporcionaram-me uma educação que me moldou o carácter e me permitiu ter regras hoje basilares. Procuro transmitir aos meus filhos essa formação. A seriedade e o respeito pelos outros são máximas que sigo.Ana Santiago
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