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Curioso Manuel Serra d’Aire

Perguntas-me tu, na tua última epístola, se ainda há camionetas da carreira por cá. Então não há Manel! Pelo menos em Santarém, às vezes, até parece que há de mais. De cada vez que passo na avenida da gare vou com o coração nas mãos, com receio de levar com um machimbombo em cima. Porque a avenida é tão apertadinha e alguns motoristas são tão destemidos a atirarem-se para a via que passar por ali pode tornar-se numa experiência radical para o automobilista comum.Mas, tirando isso, confesso que já tenho saudades das antigas camionetas da carreira que passavam pela minha terra. Eram velhos chassos a tresandar a gasóleo onde se podia fumar, que paravam estrategicamente junto a tascas ao longo do percurso permitindo molhar o bico aos clientes e ao cobrador, por vezes repletas de passageiros que transportavam consigo as bagagens mais improváveis, como galinhas e coelhos mais ou menos acondicionados. Esse era o velho Portugal em que não havia BêPêÉnes nem BêPêPês, nem telemóveis, nem computadores, nem televisão por cabo, nem Internet, nem casamento gay. Mas havia camionetas da carreira um pouco por todo o lado e eram elas que ligavam as “berças” à “civilização”. Que ligavam a paisagem a Lisboa. Hoje as camionetas da carreira são coisas assépticas, uma espécie de corredor de avião que não voa e onde não há hospedeiras para nós galarmos as pernas.Passando das camionetas para o estacionamento, folgo em saber que as dificuldades financeiras da Câmara de Santarém já passaram. Só assim se explica que a autarquia tenha 15 mil euros para pagar anualmente o estacionamento dos magistrados do Tribunal de Santarém no novo parque de estacionamento subterrâneo da cidade. A Justiça deve ser cega, mas o povo não. Por isso é de acreditar que quem diariamente se desloca de carro para o seu posto de trabalho na cidade vá solicitar regalia igual à senhora câmara. Afinal, somos todos iguais aos olhos de Deus e da Justiça. E, como já dizia a minha avó: ou há moral ou comem todos!E por falar em comer, que me dizes tu das hortas biológicas urbanas que a Câmara de Almeirim vai colocar à disposição da população para esta as amanhar. Temos ali uma espécie reforma agrária em perspectiva, mas ao contrário. Em vez de ser o povo a ocupar terras para as cultivar, é a câmara municipal a querer pôr os munícipes de enxadas nas unhas e a vergarem a mola em nome de uma alimentação mais saudável e mais barata.Estou convencido que com esta medida o conceituado almanaque Borda de Água vai esgotar em Almeirim. E provavelmente as conversas de café em Almeirim vão deixar de ser sobre o Carlos Castro, a Casa dos Segredos, as contratações do Benfica ou as trafulhices dos políticos para abordarem temas mais terra a terra, como a hora ideal para regar os tomates ou as virtudes da sementeira da cebola em terra adubada com excrementos de galinha. É certinho!Saudações agrícolas do Serafim das Neves

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