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Gerir um terminal de autocarros sem perder a compostura

Gerir um terminal de autocarros sem perder a compostura

João Paulo do Vale já foi motorista e actualmente chefia o terminal de Fátima

Agora os únicos trabalhos como motorista que ainda executa são no recolher das crianças das escolas.

Afirma ter sido a paixão pelos carros que o levou a escolher esta profissão. João Paulo do Vale, 40 anos, é chefe do terminal de autocarros de Fátima, Ourém. Já foi motorista, hoje passa grande parte do tempo junto da bilheteira, controlando entradas e saídas. Função nem sempre fácil e cansativa, recomendando que a melhor opção é estabelecer o mínimo de conversa indispensável com o cliente. A garagem de Fátima serve quase de posto de Turismo, pedindo-se ali à chegada todo o tipo de informações. Assim, todos os dias há situações inusitadas, desde aparelhos dos dentes perdidos nos autocarros a pessoas esquecidas no terminal. Ouve-se de tudo, comenta-se de tudo. “Mais vale não ligar e não me meter”, diz.Tem todos os tipos de carta de condução menos a de mota. Afirma que nunca lhe interessou o veículo a duas rodas, preferindo sempre trabalhar com carros. Terminou a escolaridade obrigatória já no regime nocturno e durante sete anos foi motorista no Centro de Estudos de Fátima (CEF). Acabou por sair. “Não é que não gostasse, mas o salário não era atractivo”.Inscreveu-se na Rodoviária e passado um ano foi chamado. Após 15 dias de formação prática e teórica, iniciou funções como motorista. O primeiro percurso que lhe competiu foi entre a Cova da Iria e Santarém, trajecto com cerca de 60 quilómetros que iniciava pelas 07h15 e terminava às 09h00. Pelo caminho, o autocarro enchia três vezes, levando os mais novos para as escolas, para além dos passageiros para Santarém. “É um serviço agradável porque tem muitas paragens, muitos passageiros e é um percurso com alguma distância”, comenta. Entrou depois no serviço de Expressos, assegurando o serviço rápido para Leiria e, duas vezes por semana, para descontrair, o percurso até Lisboa. Uma rotina diária que levou durante cerca de dois anos. Actualmente, após sete anos, os únicos trabalhos como motorista que ainda executa são no recolher das crianças das escolas. É fácil perceber qual o passageiro que vai trazer dificuldades. Muitos vêm com vontade de descarregar e facilmente criam atritos. Nem sempre é fácil manter a calma, refere João Paulo do Vale. Estando a pessoa a atender sobre pressão, acaba por muitas vezes não tratar da melhor forma os restantes clientes. “Por vezes explodimos, não somos de ferro, as pessoas muitas vezes começam a ofender”, confessa. “Ouvem-se muitos problemas, as pessoas descarregam muito connosco”. Por isso defende, “é o mínimo de conversa possível”.Para quem está sempre no terminal encontra-se todo o tipo de situações. “Do marido que vai embora e deixa cá a mulher, pessoas que vão passear para o Santuário e perdem o autocarro, acontece todos os dias”. “Passageiros que se esquecem de trocar a bagagem nas mudanças de carro, esquecem carteiras, telemóveis, mochilas, até aparelhos dos dentes. Sempre dentro do autocarro, nunca no terminal”, comenta rindo. Como cidade turística, pela rodoviária de Fátima passam pessoas de todo o mundo. “Uma das coisas que já discutimos é que o posto de Turismo de Fátima está mal situado, do outro lado do Santuário. Devia estar mais próximo da rodoviária”, refere. Pedidos de informação sobre ruas, hotéis, museus, lugares a visitar na zona são frequentes no momento em que se tira o bilhete. “E às vezes estar a tirar o bilhete e ainda estar a dar esta informação é complicado”, comenta.Os dias mais movimentados no terminal de Fátima são os fins-de-semana, com alguma afluência nas sextas-feiras. “Apesar de não termos universidade, há aqui muitas paragens de estudantes. Este é um ponto de paragem da maioria dos Expressos”.Já lhe ocorreram situações caricatas, como estar a anunciar a chegada de um autocarro e fazer um comentário ao microfone sobre uma senhora idosa que acabava de cair no meio do terminal. Enganar-se nos destinos também é frequente, muitas vezes devido a atrasos nos autocarros. Ao fim da tarde, as crianças das escolas rumam até à rodoviária no regresso a casa e muitos tornam-se uma dor de cabeça para os motoristas que chegam a Fátima. “Aviso os mais novos, mas volto as costas e eles tornam a fazer das deles”.Já passou por momentos menos calmos, sobretudo na posição de chefia que hoje ocupa. “Chegou a haver períodos complicados, em que não havia carros suficientes para o número de passageiros. Tem que se arranjar outro carro, outro motorista. Um bom momento é chegar ao fim do dia sem problemas, sobretudo pela pressão que sempre temos de evitar pequenos toques em carros e acidentes”.
Gerir um terminal de autocarros sem perder a compostura

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