
O sapateiro que quase ficou paralisado refez a vida com o ofício da juventude
Uma hérnia discal trocou as voltas à vida de António Moreira
Depois de ter estado paralisado devido a uma hérnia lombar António Moreira deixou o trabalho de motorista e regressou ao ofício que aprendeu na juventude para dar a volta à vida. É o novo sapateiro de Vila Franca de Xira.
António Moreira, 41 anos, viu durante algum tempo a vida a andar para trás. Uma hérnia discal na região lombar deixou-o com as pernas paralisadas. Com o apoio da esposa e dos dois filhos conseguiu dar a volta à situação. Voltou a andar e montou o próprio negócio, uma sapataria que abriu na Rua Doutor Miguel Bombarda, mais conhecida pela Rua Direita, em Vila Franca de Xira. No pequeno espaço que alugou há dois meses, o novo sapateiro da cidade está a recortar uma sola para colar numas botas pretas. O negócio está a superar as expectativas e praticamente todos os dias António Moreira recebe sapatos para consertar. Enquanto vai tratando do calçado o novo sapateiro começa por recordar os seus 14 anos, quando vivia em Sabrosa, uma vila do distrito de Vila Real, e chumbou pela primeira vez na escola. “A minha mãe queria que eu fosse para as obras, mas consegui trabalho com o sapateiro da terra, que se disponibilizou a ensinar-me o ofício”. E por lá continuou até aos 20 anos, altura em que veio morar com uma tia em Vila Franca de Xira. Trabalhou durante algum tempo na captação de furos de água e depois arranjou trabalho numa fábrica de cerâmica do Carregado. Nunca pensou em abandonar os estudos e depois do trabalho ainda ia para as aulas na Escola Reynaldo dos Santos, no Bom Retiro, onde chegou a concluir o 11º ano. É com um sorriso que conta ter visto a vida mudar quando casou aos 25 anos e viu o primeiro filho a nascer. “Quando era solteiro não parava em casa, só vinha comer e dormir e depois de casar nunca mais voltei a sair como nos velhos tempos e claro que isso também custa”, reconhece. Depois de nove anos de trabalho na fábrica, passou para o transporte de mercadorias em camiões, o que lhe valeu, aos 38 anos, uma hérnia discal lombar. “Tinha de ser operado, mas existia uma probabilidade de 10% de insucesso. E com dois filhos para criar resolvi não arriscar”. O problema agravou-se e quando António Moreira deu por si, já andava a tomar todos os dias os comprimidos que tinha guardado para situações de emergência, às escondidas da esposa. O dia fatídico chegou em 2008, quando acabou completamente imobilizado em casa. “Sentia-me pessimamente mal, vomitei e tinha as pernas dormentes e com muitos formigueiros”, recorda. Pouco tempo depois deixou de ter qualquer sensibilidade da cintura para baixo. Esteve um mês com as pernas paralisadas e só depois da operação é que recuperou alguma sensibilidade. O médico chegou a confessar ao fisioterapeuta que António Moreira nunca mais andaria. Mas o sapateiro não aceitou o veredicto e com a ajuda da fisioterapia e da família acabou por recuperar. Há seis meses que anda sem qualquer tipo de limitação, encontrando-se estável. Depois de receber um salário de baixa médica, o sapateiro passou a ganhar uma pequena pensão que, mesmo juntando ao ordenado da mulher, se revelava insuficiente para suprir as necessidades da família. “Todos os dias em que estive doente, pensava em maneiras de dar a volta por cima porque sempre quis trabalhar”, confessa. Mesmo tendo uma recuperação assinalável, António Moreira continua a debater-se com vários problemas internos que não são visíveis. A força não é a mesma, mas mesmo assim o sapateiro resolveu “deitar a mão à vida” e resolveu pôr em prática o ofício que aprendeu na juventude, abrindo uma sapataria. Procura agora alguma estabilidade para conseguir criar os seus filhos, proporcionando-lhes um futuro melhor. E para isso conta com o apoio do amor da sua vida, a esposa, que nunca o deixou desanimar.

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