O empresário que não desiste de lutar contra a crise
Carlos Caria nasceu em Miranda do Douro mas a sua vida é em Vila Franca
O quiosque TC, em Vila Franca de Xira, é comandado por um empresário que não desiste de lutar contra a crise. Carlos Caria já fez de tudo um pouco na vida mas refere que o seu melhor trabalho foi o de gestor de compras da RTP.
Aos 53 anos Carlos Caria, um dos responsáveis pelo quiosque “TC” em Vila Franca de Xira, já acumula experiência profissional em várias áreas. Trabalhou em empresas de serralharia, construção naval e foi gestor de compras da estação televisiva RTP. Actualmente é um empresário que, apesar do cenário “menos bom” da economia, garante que continua a lutar forte contra a crise, vendendo revistas, jornais, raspadinhas e outros artigos de papelaria. O quiosque “TC”, na Quinta da Mina, é um dos postos de recepção de anúncios e assinaturas de O MIRANTE na cidade de Vila Franca.Nasceu em Picoto, concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança, o único do país que não tem um único quilómetro de auto-estrada e possui uma das linhas ferroviárias mais bonitas da Europa (a linha do Tua). O pai trabalhava nas barragens e por esse motivo andava sempre a mudar de residência. Aos seis anos entrou na escola primária em Miranda do Douro. Tem cinco irmãos, três rapazes e duas raparigas. Confessa que não era problema partilhar a casa com os irmãos e garante que passou uma infância feliz. O pai acabou por ter de vir trabalhar para a central termoeléctrica do Carregado e Carlos aproveitou a boleia. Instalou-se em Vila Franca de Xira, onde inicialmente fez o secundário, antes de ir estudar para a escola Gago Coutinho em Alverca do Ribatejo.“Enquanto andava na escola em Miranda do Douro ainda levei umas reguadas e umas lições de cana, mas isso era uma forma que as professoras tinham de mostrar interesse pelos alunos. Nunca fiz queixa aos meus pais de elas me baterem, senão ainda levava mais uma reguada”, conta com um sorriso ao nosso jornal.“Alverca naquele tempo era muito diferente do que é hoje. Apanhei a fase revolucionária, eu fazia parte da associação de estudantes, fomos nós que pintámos a escola e fizemos uma sala para os alunos, juntamente com um campo de basquetebol”, refere. O seu primeiro emprego foi aos 19 anos, numa empresa do Carregado, próximo do Campera. “Entrei como soldador, não foi difícil encontrar emprego naquela altura. Eu estava responsável por uma máquina semi-automática, que fazia quase tudo, só me limitava a meter as chapas em cima dela e era ela que soldava”, conta. O seu primeiro emprego rendeu-lhe dois contos e seiscentos por mês – hoje pouco mais de 10 euros. Pouco tempo depois arranjou emprego em Alverca, na construção naval. Ainda passou por uma empresa de adubos às portas de Lisboa e depois arranjou um emprego onde ficou durante 23 anos, na RTP.“Eu era responsável das compras da estação de televisão. Sempre mudei de emprego à procura de algo melhor. A dada altura respondi a um anúncio para a RTP e fui uma das pessoas escolhidas para entrar. Eu era o responsável por todas as compras, desde um carro de exteriores aos cenários e adereços”, garante. Mais tarde, com as fusões e extinções de postos de trabalho na emissora pública Carlos ficou receoso pelo seu futuro e arriscou numa empresa de telecomunicações. “Foi o maior erro da minha vida”, admite.“Os espanhóis da Telefónica vieram ter comigo para arrancarmos com um projecto de venda de telecomunicações e aluguer de serviços em Portugal. Pareceu-me ser um projecto vencedor e como me davam as mesmas condições que a RTP decidi sair. Dois anos depois a Telefónica encerrou a sua actividade em Portugal e fiquei desempregado”, lamenta.O quiosque foi uma forma de encontrar uma ocupação e manter-se activo na sociedade. “Eu nunca tive medo de trabalhar. Todas as empresas por onde passei são diferentes e eu adaptei-me sempre a qualquer coisa. Desde que a pessoa tenha vontade de trabalhar consegue sempre encontrar alguma coisa”, refere. Carlos Caria diz que gostava de ter sido advogado. Apesar da crise que afecta o negócio mantém esperança que o futuro vai melhorar, embora não esconda alguma mágoa pelo estado actual do país.“Hoje em dia é muito difícil abrir a porta, é quase à conta para pagar aos fornecedores. Não dá para mais. Isto está muito mau. Acho que num país tão pequeno como o nosso dava para cada português viver melhor do que aquilo que vive. E fico ainda mais preocupado com a geração que aí vem. Nos moldes em que isto está não tem ponta por onde se pegue”, lamenta Carlos, que tem dois filhos.
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