Os certificados comprovam a conclusão do processo que permite aos adultos com idade igual ou superior a 18 anos completar o 4º, 6º, 9º ou 12º ano de escolaridade.“Comecei a trabalhar com 12 anos. A professora da escola primária foi pedir aos meus pais para que me deixassem estudar mas éramos sete irmãos e a vida era muito complicada. Como os meus irmãos trabalhavam no campo, tive que me juntar a eles e acabei por nunca mais estudar”. Sentado na terceira fila do auditório da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant, em Torres Novas, Joaquim Espadinha, presidente da Junta de Freguesia de Vale das Mós, Abrantes, recorda que não teve a possibilidade de estudar quando era criança. Está a poucos momentos de subir ao palco para receber o diploma que lhe dá equivalência ao 9.º ano. O autarca frequentou durante quatro meses um curso de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) promovido pelo Centro de Novas Oportunidades (CNO) da Nersant. Foi incentivado pela assistente social do Centro Social e Paroquial de Vale das Mós. “Achei importante que, enquanto presidente de junta, era importante aprender. Aprendi alguma coisa de informática, área da qual não sabia nada e ficar com o 9.º ano era bastante importante”, disse o autarca de 62 anos, orgulhoso por ter respondido ao desafio. Ao todo, foram 153 pessoas que receberam na tarde de sexta-feira, 18 de Março, na Nersant, em Torres Novas, os seus diplomas de RVCC. Os certificados comprovam a conclusão do processo que permite aos adultos com idade igual ou superior a 18 anos completar o 4º, 6º, 9º ou 12º ano de escolaridade através de um processo de reconhecimento das suas aprendizagens e capacidades apreendidas ao longo da vida. Participaram grupos de trabalhadores de empresas e instituições de vários concelhos como Ferreira do Zêzere, Abrantes, Alcanena, Ourém ou Torres Novas. Francelina Bentos dos Santos, 64 anos, trabalha há 21 anos num lar de idosos em Ourém. Frequentou o curso para obter mais conhecimentos e ficar com o 9.º ano concluído. Apesar de estar à beira da reforma, diz que esta experiência foi muito gratificante e até já brinca com o facto de querer ir para a Universidade da Terceira Idade. “É sempre uma mais valia obter novos conhecimentos. Finalmente, já sei mexer num computador”, refere a O MIRANTE, revelando que com “força de vontade” conseguiu conciliar a formação com o trabalho e a vida familiar. De fato e gravata, Nuno Santos é o espelho do orgulho. Trabalha numa empresa de peles em Vila Moreira, Alcanena, e tira várias fotos aos colegas que, tal como ele, frequentaram esta formação. “A nível de informática, sinto que não temos bases para fazer os trabalhos que nos pedem. Só com muita dedicação e empenho consegui fazer o trabalho final. Todos os dias estava agarrado ao computador para poder aprender. Hoje já brinco com aquilo”, revela. Para António Campos, presidente da Comissão Executiva da Nersant, a formação que a Nersant está a dar no âmbito das Novas Oportunidades é “uma missão de trabalho”. O responsável realçou o facto da formação ter sido dada nas instalações das empresas e instituições, “para minimizar os custos e o tempo perdido em deslocações”, reduzindo os obstáculos a quem quer aprender mais. Salomé Rafael, recentemente eleita presidente da Nersant, sublinhou que esta foi “uma jornada muito bonita” considerando o programa de Novas Oportunidades como “uma das boas medidas no sistema educativo e de formação”. A sessão contou com vários momentos de animação musical a cargo de alguns formandos, que entraram no auditório de acordeão em riste, contagiando o público com a sua boa disposição.