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Uma vida dedicada à moagem de cereais

Carlos Gonçalves iniciou-se na vida profissional na azenha do pai e não se vê a fazer outra coisa

Os projectos passam por continuar a batalhar no sector, permanecendo na empresa até poder. Não se recorda de bons momentos, comentando que sempre foi uma luta constante. “Tenho que morrer em combate”, refere.

Afirma que o trabalho que desenvolve o foi envolvendo até já não ponderar em praticar outro ofício. Carlos Gonçalves tem 59 anos e é natural de Zibreira, concelho de Torres Novas. Se actualmente é um dos sócios de uma empresa de moagem, a “Mopafil”, longe vão já os tempos em que o trabalho se realizava na antiga azenha do pai, quando se levava muito mais tempo a produzir uma tonelada de farinha que hoje centenas delas, recorda. Os tempos estão difíceis e Carlos Gonçalves refere que esta é uma das piores fases de que se recorda ao longo da sua vida profissional, numa área dedicada a um dos recursos fundamentais à alimentação: os cereais.Fez o então 7º ano do liceu, na área de económicas e financeiras, e foi trabalhar. “Não entrei na faculdade e comecei a ajudar o meu pai na moagem, pois ele tinha uma azenha na área do Almonda”, lembra. Uma vida trabalhosa, de sol a sol, num ofício bastante pesado. “Foi um primeiro período de dois anos, o espaço antes de ir para o serviço militar”.Na tropa foi sargento do Exército, tendo feito uma comissão no Ultramar, em Moçambique, na polícia militar. “Quando regressei constituí família e foi nessa altura que assumi a actividade como profissão definitiva”. Afinal “em 1975 também não havia muitas oportunidades disponíveis, porque não havia empregos”, comenta.Voltou novamente à azenha do pai, com o irmão, mas já então tinham criado uma pequena moagem eléctrica em Zibreira. “Fomo-nos desenvolvendo e lá trabalhámos até 2001”, altura em que abriram a Mopafil na localidade. “Fizemos então esta unidade nova, já com sistemas completamente actualizados em termos de tecnologia”, conta.“Actualmente a empresa tem vindo a crescer e já cá estão a trabalhar três elementos da geração seguinte”, comenta, destacando que pelo negócio ficaram os dois filhos e um sobrinho. Carlos Gonçalves refere que ele próprio nunca pensou em fazer outra coisa, até porque esta é “uma actividade onde é difícil voltar para trás. Além da pessoa gostar, criam-se situações irreversíveis”.Criaram-se contactos e ligações e Carlos Gonçalves já nem pondera alternativas para depois da reforma. “No liceu, o meu objectivo era arranjar emprego, como funcionário público ou talvez num banco. Na altura concorri para várias coisas e ainda chegaram a chamar-me para a PSP. Mas já estava por aqui”.Afirma não ser pessoa de desistir, levando até ao fim os projectos nos quais se envolve. “E felizmente tenho alcançado sempre os meus objectivos com saldo positivo”. Gosta de falar do ofício e recordar aos mais novos a importância do trabalho que desenvolve, de que nem todos se apercebem. A fábrica produz farinhas alimentares, recursos essenciais para bens como a carne ou o leite, comenta. Se lhe perguntam qual o momento que mais o marcou ao longo da sua vida profissional, comenta que os tempos actuais são dos que mais o têm preocupado, “por causa da forma como as matérias-primas, os cereais, estão a ser comercializados”. “Talvez não seja a forma mais correcta para um bem de primeira necessidade”, comenta, frisando que os cereais fazem parte da base da alimentação e são essenciais a uma série de produtos que compõem a roda dos alimentos.Refere que na altura da azenha a concorrência era diferente, “o mercado era diferente”, apesar de haver mais pessoas na área. Hoje é um dos sectores com uma concorrência mais agressiva, sendo que o preço do cereal é cotado em bolsa. “Esta área da moagem cativa pela evolução da indústria em si. A pessoa começa e tem sempre a tendência para inovar, arranjar novos métodos”.Os projectos passam por continuar a batalhar no sector, permanecendo na empresa até poder. Não se recorda de bons momentos, comentando que sempre foi uma luta constante. “Talvez quando se acabou de pagar a fábrica. Foram 10 anos de grande sacrifício”. Ainda hoje procurar outro ofício não lhe parece ser alternativa. “No leque de opções tão limitado neste país… Iria fazer o quê?”. Por isso vai continuando, na administração da empresa que ajudou a fundar, na companhia do irmão e ainda com as memórias. “Tenho que morrer em combate”, refere por fim.

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