Vítor Martins
47 anos, cardiologista, Santarém
O médico cardiologista Vítor Martins, 47 anos, não se limita a aconselhar os doentes a praticar desporto. Faz questão de dar o exemplo. Três vezes por semana passa pelo ginásio ao final do dia. É casado com uma médica da mesma especialidade. Têm seis filhos. Trabalha mais do que quando era mais jovem e por isso é obrigado a dormir cinco horas por dia. Mergulhar na piscina da casa que tem na cidade, com vista para o campo, é uma forma de descontrair da intensidade do dia a dia.
Nasci por acaso numa aldeia do Fundão, na Serra da Gardunha. Os meus pais moravam em Lisboa, onde fiz os meus estudos, mas a minha mãe estava na altura em casa dos meus avós. Nasci de noite. O médico dormiu lá em casa. Hoje em dia ninguém recomenda isto. Tenho mais quatro irmãos mas sou o único médico da família. Como era bom aluno sempre tive muita liberdade. O que me era pedido pelos meus pais é que tivesse boas notas. Aproveitava para ir ao cinema. Sempre fui entusiasta da arte. Gostava de sair com os amigos. Ia passar temporadas ao Alentejo a casa dos meus tios e a casa dos meus avôs que tinham uma casa agrícola muito grande. Aproveitava para me divertir.Ganhei mais dinheiro como explicador de matemática do que no início de carreira. Dei explicações do 10º e 12º durante os seis anos do curso. A altura dos meus exames era a altura dos exames dos meus alunos. Tinha que estudar as minhas matérias mas também tinha que dar explicações. Isso dava-me jeito porque me permitia ter liberdade económica. Tinha automóvel e dinheiro para sair. Não precisava de pedir aos meus pais.O meu pai morreu com uma complicação cardíaca quando eu tinha 20 anos. Tinha sido operado ao coração e faleceu meses depois. Era professor de liceu. Chegou a ser o director do Colégio Inglês. Eu já estava a tirar medicina. Acabei por escolher depois a especialidade de cardiologia. Acho que a situação não me influenciou. Pelo menos conscientemente. A minha mãe esteve sempre em casa a tomar conta dos filhos.Estou a trabalhar há 12 anos em Santarém. Aceitei o cargo porque o que me era proposto era interessante. Vim abrir o laboratório de arritmologia e pacing. É o trabalho que já gostava de fazer no Hospital de Santa Maria. Santarém é uma cidade interessante mas tem um problema: está demasiado próxima de Lisboa. É pena que ao fim de semana esteja tudo fechado. Se isto não acontecesse talvez as pessoas saíssem à rua.Aconselho os meus pacientes a praticar desporto e dou o exemplo. Vou ao ginásio ao final do dia. Faço uma hora e 20 minutos e exercício. É normalmente depois das 20h00 quando acabo o trabalho. Antigamente jogava mais ténis. Também gosto de correr. Quando estou a tomar banho na piscina tenho uma vista excepcional para o campo. Vivo numa casa em Santarém que nunca teria em Lisboa. Gosto de ler e tenho uma paixão pela fotografia. Ser simpático é importante para ajudar a tratar as pessoas. É importante que a pessoa perceba que estamos interessados nela. Isto faz parte da terapia. Não é só a questão farmacológica. Hoje consigo transmitir mais segurança. A experiência de vida e o conhecimento das pessoas ajuda-me a ser melhor médico. Em casa temos seis crianças. Tenho dois filhos do meu primeiro casamento. A minha mulher tem quatro filhos. Ao fim de semana chegamos a ter 14 crianças em casa. Temos sempre a casa cheia. Estou habituado. Uma das coisas que recordo são as festas que os meus pais faziam para muita gente. Não consigo tirar folgas. A minha actividade a nível hospitalar é muito intensa. Mais do que quando era mais jovem. Trabalho com a minha esposa que é também médica especialista. Tiro uma folga ou outra para ir a reuniões científicas. Os hospitais estão a ficar desfalcados de recursos humanos e muitas vezes ou trabalhamos ou deixamos de ver as pessoas. Isso não faz parte do meu feitio. Durmo cinco a seis horas por noite. Levanto-me às 7h00 e às 8h00 estou a trabalhar todos os dias. Trabalho de manhã no Hospital de Santarém e à tarde no consultório na Clínica do Coração. À noite acabo a minha actividade por volta das 20h00. Às 22h00 estamos a jantar. Já cheguei a viajar 300 quilómetros com a família para almoçar no Norte. Voltámos no próprio dia. Em casa também gosto de cozinhar. O prato deve ser feito com gosto, requinte e com os sabores de que gostamos. São pratos pouco calóricos, simples, acompanhados por um bom vinho. Outras vezes vamos jantar fora a um restaurante que escolhemos pela criatividade. Gostamos de conhecer restaurantes novos e de viajar. O que pensamos hoje pode não ser verdade no futuro. Nunca sabemos tudo. Estamos sempre a aprender. Tudo o que dizemos e pensamos tem que ser aperfeiçoado no futuro. A construção daquilo que nós somos e pensamos é algo dinâmico. Ana Santiago
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