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Uma engenheira agrária que pinta as cores da lezíria

A paixão pela pintura de Purificação Pires ganhou outra matiz depois de um lírio a óleo

A lezíria de Vila Franca de Xira, onde Purificação Pires trabalhou como engenheira agrária, é uma das maiores inspirações da pintora. Um lírio a óleo intensificou a paixão da artista. Está reformada do Ministério da Agricultura mas trabalha a tempo inteiro na pintura e artes decorativas. Em casa já não tem onde colocar tantos quadros que actualmente são mais de três centenas.

Um pequeno apartamento, em Vila Franca de Xira, serve de atelier à pintora Purificação Pires, 64 anos. Todas as paredes estão repletas de quadros e não existe espaço livre para pendurar mais. No atelier e na casa, que fica mesmo ao lado, o número de telas já ultrapassa as três centenas. Na ampla sala onde pinta, banhada pela luminosidade que entra pelas janelas, as revistas e livros de pintura acumulam-se nas estantes. Há muitas caixas espalhadas com tintas e pincéis. Além das telas destacam-se também os arranjos florais, as caixas e pratos de porcelana que a artista pintou. Em cima da mesa de trabalho estão também dois palhaços e algumas caixas prontas a ser pintadas. “Não pinto por pintar. É algo que vem da alma. Sempre que pinto esqueço todos os problemas. É a minha terapia”, desvenda Purificação Pires, que gosta sempre de trabalhar ao som de Júlio Iglesias ou de outras músicas latinas. Nasceu em Mação, passou por Porto de Mós, Abrantes e até que rumou a Santarém onde se formou como engenheira técnica agrária. Já casada, assentou arraiais em Vila Franca de Xira, em 1971, de onde nunca mais saiu. Com dois filhos, a trabalhar durante o dia como engenheira numa delegação do Ministério da Agricultura em Vila Franca de Xira, e a dar aulas de desenho e geografia à noite, Purificação Pires não conseguiu dedicar-se ao desenho ao contrário do que aconteceu em determinada altura da sua vida. “Durante a minha juventude andava sempre a desenhar e a pintar com lápis de cor. Até usava para isso os cantos dos cadernos da escola”, recorda. Tudo mudou em 1994. A filha que ia casar pediu à mãe um quadro a óleo. “Fui a uma papelaria de Lisboa e comprei todos os materiais que eram precisos para pintar”, revela. O primeiro quadro a óleo, um lírio, nasceria nessa noite. Os elogios que recebeu motivaram a pintora a continuar. Tempos depois tirou um curso de flores secas e arranjos florais, que a levaram a participar na Feira de Outubro. Aproveitou a oportunidade para expor alguns quadros que já tinha pintado a óleo e acabou por receber algumas encomendas. O caminho da pintura parecia agora mais do que certo. Seguiram-se uma série de cursos e workshops de artes decorativas e pintura a óleo, destacando-se os cursos com a Gracinda Braz, em Alverca, e mais tarde o curso de pintura a óleo com Tânia Lopes que continua a frequentar duas vezes por mês. “É um bichinho, gosto muito da pintura, sinto-me realizada”, confessa. Desde que se reformou, em 2003, que se dedicou por inteiro à pintura. Às vezes vem às 6h30 para começar a pintar no atelier. Depois de tratar de alguns afazeres acaba sempre por regressar à tarde para continuar a pintar. A maior parte das vezes conta com a companhia das amigas. Não é possível encontrar um conjunto de temas comuns no trabalho da artista. Pinta tudo, desde paisagens, a arte sacra, passando por naturezas mortas e animais. Confessa que sente um fascínio especial por cavalos e flores, devido à sua ligação à terra. “Gosto muito do campo, onde andava de manhã à noite. Era responsável pelas culturas hortícolas e florícolas na Lezíria”. Talvez por isso se destaquem dos seus quadros os tons da terra, os castanhos e laranjas. Entre os pintores favoritos estão Turner e Salvador Dali. Dos portugueses não hesita em apontar Tânia Lopes, João Mário, Carlos Prudêncio e Jorge Alexandre. A morar em Vila Franca de Xira desde os 20 anos, Purificação Pires já se sente uma Vilafranquense. Embora pudesse ter enveredado pelas Belas Artes acabou por se tornar engenheira. “Como gostava muito do campo e as galinhas de campo não querem galinheiros acabei por ir para a parte da agricultura”, revela. Tem um especial fascínio pela Lezíria de Vila Franca de Xira onde trabalhou durante a vida. “Eu e os agricultores acabávamos por ser uma grande família. A Lezíria para mim é tudo”. Também gosta muito da cultura tauromáquica mas o barulho que se prolonga pela noite durante as festas incomoda-a uma vez que aprecia o silêncio e a calma para pintar. Vender quadros é cada vez mais difícil Purificação Pires já participou em várias exposições colectivas e individuais desde 1994. No ano passado esteve na Casa Trás-os-Montes, em Lisboa, no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira, no Museu do Vinho, em Alenquer, e na Adega do Faustino em Chaves. Está representada em Portugal, Espanha, França, Canadá, Angola, Moçambique e Brasil. Além das aulas de pintura a óleo com a professora Tânia Lopes, iniciou-se também no ano passado no retrato a carvão com a professora Hermínia Mesquita, no Centro de Bem Estar Infantil de Vila Franca de Xira. Nos últimos tempos interessou-se pela pintura abstracta para ver se consegue vender alguns quadros. É cada vez mais difícil desde que a crise chegou aos bolsos dos portugueses. “Lembro-me de vender quadros que ainda nem sequer tinham ido para exposição, mas nos últimos anos tem sido cada vez mais difícil”.

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